O dilema de competir contra atletas israelenses nos Jogos de Paris

Lutar contra um atleta israelense representa um impasse para seus adversários de países árabes ou muçulmanos devido à situação nos territórios palestinos

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Toni Cerdà
Paris | AFP

Sua primeira aparição esportiva nos Jogos Olímpicos de Paris-2024 não durou mais de 30 segundos nesta segunda-feira (29). Sobre o tatame do estádio Campo de Marte, o judoca israelense Tohar Butbul venceu seu combate, ante a ausência de seu rival argelino.

No domingo, Messaoud Dris, campeão da África em 2024, foi desqualificado por superar em 400 gramas o peso de sua categoria (até 73 quilos) na pesagem.

"Não podemos justificar o excesso de peso de Dris", disse a Federação Internacional de Judô (IJF) nesta segunda-feira, anunciando uma investigação e lamentando que 'os atletas são frequentemente vítimas de disputas políticas que os ultrapassam'.

Em 2021, Fethi Nourine, da Argélia, se retirou dos Jogos de Tóquio para evitar enfrentar Butbul e foi posteriormente suspenso pela IJF. Nourine também se retirou da Copa do Mundo de 2019 pelos mesmos motivos.

Um atleta de judô está em uma competição, vestindo um quimono azul. Ele está olhando para a mão direita, que tem os dedos enfaixados. O fundo é desfocado, sugerindo um ambiente de competição.
Tohar Butbul durante a prova do judô até 73kg nos Jogos de Paris - Jack Guez/AFP

"Esse tipo de comportamento não tem lugar no mundo do esporte", disse o Comitê Olímpico de Israel sobre o caso de Messaoud Dris, que descreveu como uma ‘retirada’ e não uma desqualificação.

O Comitê Olímpico Argelino, que não reconhece o estado de Israel como a maioria das nações árabes e muçulmanas, não quis comentar o caso.

Lutar contra um atleta israelense representa um dilema para seus adversários de países árabes ou muçulmanos devido à situação nos territórios palestinos. No passado, vários judocas iranianos desistiram de competições pelo mesmo motivo.

No domingo, o marroquino Abderrahmane Boushita deixou rapidamente o tatame sem parabenizar seu oponente israelense, Baruch Shmailov, pela vitória, contrariando a prática usual guiada pelo espírito esportivo.

"Em nome dos atletas (...), nós nos comprometemos com o esporte sem doping, sem trapaça, sem qualquer tipo de discriminação", diz o Juramento Olímpico pronunciado na sexta-feira pelos franceses Florent Manaudou e Mélina Robert-Michon.

Os Jogos atuais são mais uma vez o foco da atenção de Israel, especialmente porque estão ocorrendo em meio a uma ofensiva mortal na Faixa de Gaza em resposta ao ataque sangrento do grupo islamista palestino Hamas em solo israelense em 7 de outubro.

Durante a cerimônia de abertura, na sexta-feira, o boxeador Wasim Abusal, um dos porta-bandeiras palestinos, usou uma camisa com imagens de caças bombardeando crianças que praticavam esporte para simbolizar, segundo ele, "a situação atual na Palestina".

O Comitê Olímpico Palestino tentou fazer com que seu homólogo internacional, o COI, excluísse Israel de Paris-2024, alegando que o conflito violava a trégua olímpica. Os russos estão participando com uma bandeira neutra por causa da guerra na Ucrânia.

"Aqueles que violam a Carta Olímpica são os israelenses", reiterou o presidente do comitê palestino, Yibril Rayub, à AFP no sábado, perguntado sobre uma possível exclusão de um atleta se ele se recusar a enfrentar um atleta israelense.

"Por que as vítimas estão sendo solicitadas a não reagir, a não se manifestar e a denunciar o sofrimento de seu povo?", disse Rayub, que afirmou não ter dado instruções aos atletas de sua delegação sobre uma possível saída.

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