"Eu quero chorar, mas não consigo mais. Acabou o choro." Com os olhos marejados, Larissa Pimenta falava devagar, como se ainda estivesse tentando entender o que se passara havia alguns minutos. Qualquer coisa longe do prosaico, tipo ganhar uma medalha olímpica. Um bronze, o segundo pódio do Brasil nos Jogos de Paris-2024, o 26° do judô nacional na história olímpica.

Após um dia de combates difíceis, Pimenta, 25, bateu a italiana Odette Giuffrida na disputa do terceiro lugar e garantiu o bronze no judô até 52 kg.

"Desde a primeira luta eu senti que o dia estava diferente. Não entendia como nem por que, mas me sentia diferente." Foi um dia diferente, a começar pela eliminação surpreendente de Abe Uta, que defendia o título olímpico e protagonizou uma cena de verdadeiro desespero no tatame após a eliminação. Sua algoz, Diyora Keldyorova, do Uzbequistão, ficou com o ouro.

A judoca do Pinheiros, que também praticou luta olímpica e tinha dúvidas em que esporte seguir, contou que passou o dia repetindo uma frase para si mesma: "Eu mereço". "Ainda não acredito, mas consegui."

Vinda da repescagem, em que bateu a alemã Mascha Ballhaus por ippon, Pimenta encarou um início difícil no combate pela medalha contra a adversária, mais experiente, com duas medalhas olímpicas no currículo (prata na Rio-2016 e bronze em Tóquio-2020).

A brasileira chegou a tomar duas punições. Aos poucos, porém, a judoca se impôs e tirou a italiana da zona de conforto. Foi a vez de a adversária somar advertências. A vitória veio por ippon.

"Não entendia o que estava acontecendo. Eu me agachei, mas não sabia se tinha ganhado ou não. Acho que faltou oxigênio na minha cabeça", brincou. Ajudou nessa confusão a atitude da italiana, que a princípio demonstrou não aceitar o resultado —o público na Arena Campo de Marte chegou a vaiar a decisão dos árbitros— e relutou em ir ao centro do tatame.

Depois, porém, abraçou a brasileira, que chorava muito.

Pimenta se emocionou também ao falar de Sarah Menezes, sua técnica. "Ela foi incrível, ficava me falando 'você é campeã olímpica, você é campeã olímpica'. É a campeã olímpica é ela", disse, sobre a mentora, a primeira brasileira a ganhar o ouro olímpico, em Londres-2012.

Natura de São Vicente (SP), Pimenta conquistou a segunda medalha do judô brasileiro neste domingo (28). Antes, Willian Lima faturou a prata na categoria até 66 kg após ser derrotado por ippon pelo japonês Abe Hifumi, que defendia o título olímpico e é o atleta dominante na categoria há quatro anos.