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Rayssa Leal vai do choro nos braços da família ao pódio nos Jogos Olímpicos

Após lágrimas com erros e carinho dos pais, brasileira finaliza jornada emocionante com bronze no skate street

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Paris

Quando caiu no choro, após um início ruim na disputa do skate street nos Jogos Olímpicos de Paris, Rayssa Leal não parecia acreditar na possibilidade de recuperação. Então, aos prantos, a garota de 16 anos foi abraçada por seus pais e por outros familiares que estavam ao lado da área de competição. Na sequência, voltou à pista e conquistou a medalha de bronze.

Foi cheia de reviravoltas a jornada da maranhense na ensolarada tarde francesa de domingo (28). Ao fim do dia, ela ainda não podia dirigir carros ou comprar bebidas alcoólicas, mas já podia dizer que tem duas medalhas olímpicas no currículo –ela foi prata em Tóquio, em 2021, aos 13 anos– e é dona de duas das três maiores notas da história do skate street feminino nos Jogos.

A segunda medalha foi obtida com um duas ótimas manobras na final, na arena montada na Place de La Concorde. A brasileira totalizou 253,37 pontos, marca que a deixou atrás apenas da japonesa Coco Yoshizawa, de 14 anos, ouro com 272,75, e a também japonesa Liz Akama, de 15, prata com um total de 265,95.

Uma atleta brasileira está em um pódio, segurando um troféu e um boneco. Ela usa uma capa com as cores da bandeira do Brasil e exibe uma medalha de bronze ao redor do pescoço. O fundo mostra uma multidão e uma estrutura de evento esportivo.
Rayssa Leal com a medalha de bronze conquistada na final do skate street dos Jogos de Paris - KIRILL KUDRYAVTSEV/AFP

Toda a disputa foi acompanhada por um barulhento público brasileiro, que só rivalizava numericamente com os franceses, mas levava ampla vantagem na capacidade de berrar. Ainda nem havia chegado a vez de Rayssa competir, na terceira série eliminatória, e as pessoas de amarelo já gritavam: "Ih, f…, a Fadinha apareceu".

Rayssa já não gosta tanto do apelido que ganhou por causa dos vídeos que gravou aos oito anos, andando de skate fantasiada de fada. Mas ela ainda é uma garota e admitiu ter sentido a pressão da situação. "Muita gente, muito barulho, muito mais do que estou acostumada a ver. Eu deixei o nervosismo me levar um pouquinho", afirmou.

Nesse cenário, a brasileira começou mal a disputa, iniciada com duas voltas de 45 segundos para cada atleta, com liberdade para executar sua performance pela pista. Vale a maior das duas notas, mas Leal caiu em ambas as tentativas e, embora tenha completado boas manobras, teve apenas uma pontuação mediana de 59,88 (a escala é de 0 a 100) e chorou.

"Eu estava um pouco nervosa, precisava de alguma coisa para manter o ânimo. E minha família é o principal. Está todo o mundo aqui, meus pais, meus irmãos. Então, acho que ter o abraço de todo o mundo, saber que estão todos me apoiando, além da torcida, é muito bom. Eu precisava do abraço de cada um deles", disse.

Rayssa tem lágrimas enxugadas pela mãe no Parque Concorde - Mathilde Missioneiro/Folhapress

Funcionou. Rayssa partiu, então, para a segunda parte da bateria, com cinco tentativas de manobra única, com pontuação válida nas duas maiores, e teve um desempenho excepcional. Ela chegou a descartar um 85,87, pois conseguiu um 88,87 e um 92,68, então a maior nota da história do skate street nos Jogos Olímpicos.

Essa pontuação a deixou na quinta colocação, mas ainda faltava uma série eliminatória, com cinco atletas, que definiria o ranking final da primeira fase e as oito classificadas. Restava à brasileira torcer, e a torcida foi bem-sucedida. Como apenas duas atletas a ultrapassaram, ela avançou à decisão com a sétima das oito vagas.

Com pouco mais de uma hora até a final, a jovem procurou novamente o conforto dos pais em meio a uma porção de cartões-postais franceses. A pista do Parque Concorde, como se chamou o espaço provisório montado para esportes radicais na Place de la Concorde, fica a poucos metros do milenar Obelisco de Luxor, instalado no local no século 19. Bastava erguer a cabeça para ver a Torre Eiffel.

Era mesmo a arquibancada, no entanto, que impressionava a maranhense –medalha de prata em Tóquio sem a presença de torcida, por causa da pandemia de Covid-19. Ela voltou a ter desequilíbrios em suas duas voltas, embora a nota tenha sido maior do que na fase classificatória. Com 71,66, foi à etapa de manobras únicas em quinto lugar.

Na primeira tentativa, voltou a cair. Na segunda, bateu o próprio recorde, estabelecido cerca de duas horas antes, e registrou de novo a maior nota da história dos Jogos: 92,88 –seria sem seguida superada por Coco Yoshizawa, com um 96,49. Quedas na terceira e na quarta tentativas a deixaram com uma cartada só pelo pódio.

O ouro e a prata já estavam fora do alcance, porém havia ainda a possibilidade de bronze. Rayssa, diferentemente do que havia feito nas investidas anteriores, em vez de tentar esquecer o público, abraçou-o e pediu aplausos. Então, cravou sua manobra, recebeu nota 88,83 e, após choro, sorriu para voltar ao pódio olímpico.

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