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Folha, 100 Como chegar bem aos 100

Poluição sonora afeta nossa chance de envelhecer bem

Ruídos acima de 65 decibéis têm impactos nocivos na saúde física e mental

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Alexandre Kalache

Médico gerontólogo, presidente do Centro Internacional de Longevidade no Brasil (ILC-BR)​

Há mais de cem anos a poluição sonora foi reconhecida como um problema de saúde pública. Em 1910, o alemão Robert Koch, pai da microbiologia e prêmio Nobel de medicina, disse: “Um dia a humanidade precisará lutar contra a poluição sonora com a mesma determinação que luta contra a peste ou a cólera”.

Cinquenta anos depois, os efeitos deletérios do ruído passaram a ser documentados cientificamente em diferentes contextos. Em 1975, o então presidente da Sociedade Britânica de Psiquiatria, Michael Shepherd, publicou um artigo chamando atenção para o impacto nocivo à saúde física e mental da poluição sonora.

Monumento às Bandeiras, na zona sul de São Paulo, com protetores auditivos em intervenção em 2017 que marcou o Dia de Combate à Poluição Sonora - Danilo Verpa - 26.abr.2017/Folhapress

Era um mundo muito mais silencioso. O ruído do trânsito e os amplificadores potentes eram incipientes. Trios elétricos não existiam, nem motos envenenadas. O que diria ele se vivesse não na mais pacata Inglaterra de então e sim no Brasil de hoje?!

Em termos qualitativos, a poluição sonora é definida como a “exposição a fontes sonoras desagradáveis, não desejadas e não demandadas”. A reação é subjetiva e individual. Quantitativamente, a poluição sonora pode hoje ser facilmente medida e patamares do que é "aceitável" foram definidos há décadas.

Em 2016, um artigo publicado na revista Lancet descreveu a extensão dos problemas causados pela poluição sonora. Os efeitos incluem hipertensão, aceleração do ritmo cardíaco, distúrbios da circulação periférica, arritmia, aumento de doença cardiovascular, diabetes, perda de acuidade auditiva e equilíbrio.

E ainda irritabilidade, distúrbios do sono (inclusive muito depois do ruído ter cessado), diminuição do desenvolvimento cognitivo em crianças, irritabilidade, ansiedade e problemas graves de saúde mental, podendo levar ao suicídio.

Em 2017, a revista Scientific Research in Public Health publicou um artigo comparando a saúde mental entre indivíduos mais ou menos expostos à poluição sonora em zonas urbanas —confirmando o descrito no artigo acima e acrescentando aumento da agressividade e violência social.

Em 2019, a OMS (Organização Mundial da Saúde) indicou a existência de três epidemias globais: obesidade, solidão e poluição sonora, ficando essa atrás apenas de poluição atmosférica como problema ambiental. Em estudo conjunto com a Agência Europeia do Meio Ambiente, calculou-se que ela foi responsável naquele ano por 18 mil mortes e 80 mil hospitalizações apenas na Europa ocidental.

A cacofonia em altos decibéis —do comércio legal ou ilegal anunciando seus produtos, da música regulamentada, mas não fiscalizada, dos veículos ruidosos sem qualquer controle ao volume do falar—, tudo contribui para transformar nossos centros urbanos em ambientes insalubres.

No Rio de Janeiro, por exemplo, a orla foi "privatizada". Em Copacabana, os quiosques, um ao lado do outro, competem para ver qual toca mais alto.

Os inúmeros bares das ruas laterais invadiram as calçadas, e os clientes perdem a inibição à medida que o nível alcoólico aumenta. Gritam, cantam, “torcem” por seus times que competem a milhares de quilômetros. Vandalismo urbano. Os bares fecham, mas eles seguem aglomerados e alterados, e aí surgem os vendedores ambulantes de bebidas. Tudo às barbas da polícia.

A OMS define como poluição sonora ruídos acima de 65 decibéis. Bares e restaurantes ao ar livre passam dos 110.

Na chamada "periferia", que pode estar a 300 m da "cidade formal", são os bailes funks, os pagodes, o som alto do vizinho. E não ouse reclamar, seja aonde for que você more.

De afáveis e cordiais, os brasileiros estão se tornando hostis e irritadiços. Nosso maior patrimônio, a forma de ser, está sob ameaça. A poluição sonora é um fator para tal.

Sabia que tudo isso impacta sua chance de bem envelhecer?

SEÇÃO DISCUTE QUESTÕES DA LONGEVIDADE

A seção Como Chegar Bem aos 100 é dedicada à longevidade e integra os projetos ligados ao centenário da Folha, celebrado neste ano de 2021. A curadoria da série é do médico gerontólogo Alexandre Kalache, ex-diretor do Programa Global de Envelhecimento e Saúde da OMS (Organização Mundial da Saúde).

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