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'Sou um pequeno beija-flor na luta contra o fogo', diz brigadista

Maria de Lourdes foi treinada pela SOS Pantanal que, em parceria com Documenta, criou as Brigadas Pantaneiras, finalista do Empreendedor Social 2022 na categoria Inovação em Meio Ambiente

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Pantanal

A agente de saúde Maria de Lourdes Arruda, 53, comanda 14 brigadistas na APA (Área de Proteção Ambiental) Baía Negra, em Ladário (MS).

A região pantaneira foi afetada por incêndios que destruíram 4 milhões de hectares, equivalente a 26% do bioma, matando 17 milhões de animais vertebrados, numa das maiores tragédias ambientais do planeta.

A SOS Pantanal e a Documenta se uniram para criar as Brigadas Pantaneiras, iniciativa que chegou à final do Prêmio Empreendedor Social 2022 na categoria Inovação em Meio Ambiente.

"Naquele momento em que o sol se vai e a lua se anuncia, sempre que eu voltava para casa, tinha a companhia de Bandeira, um tamanduá-bandeira. Grande, de pelo escuro, um bicho danado de lindo.

Seguíamos pela estrada de chão. Eu de moto, ele caçando o que comer. Pertinho de casa, a gente se despedia e cada um seguia o seu rumo.

A agente de saúde e brigadista voluntária Maria de Lourdes, 53, em Ladário (MS) - Renato Stockler/Folhapress

Gosto de falar com bicho. Ainda criança, tinha mania de conversar com vaca, galinha, formiga, borboleta.

Qualquer animal que cruzava o meu caminho, engatava uma prosa. Minha mãe me perguntava: "Menina, com quem você está falando? Eles não te escutam". Não me dava por quieta: "Tenho certeza que escutam".

Dá para ouvir os bichos gritando quando o fogo arde no Pantanal. Os incêndios são ainda mais cruéis com eles. Já vi sucuri, macaco, jacaré, tudo queimado. O que não esperava era ver Bandeira com cabeça, parte do pelo grosso de cima e o rabo queimados. Mataram meu bichinho.

A mão do ser humano é cruel. Vem com essa conversa que fogo é coisa de Deus, que faz parte da natureza. Faz nada. O que ateia o fogo é a ganância, movida pelas mãos de fazendeiros que mandam a peãozada queimar o mato sem dó.

Minha dor foi tanta com a morte do meu amigo Bandeira que não podia ficar parada, da janela, ouvindo os animais gritando de dor enquanto morriam queimados. Lidero 14 brigadistas na APA [Área de Proteção Ambiental] Baía Negra, em Ladário. Consegui convencer o meu marido, os amigos dele, as minhas amigas a fazerem parte do grupo. Montamos dois esquadrões: o sucuri e o onça-pintada.

As pessoas que estão comigo precisam sentir a mesma dor e o mesmo amor que sinto pela natureza. Atuo tanto como agente de saúde quanto brigadista. Precisamos ouvir para tentar ensinar as pessoas sobre a importância do Pantanal para o planeta.

Abrimos aceiros, limpamos trilhas, ajudamos a formar brigadistas junto com o SOS Pantanal, que dá curso, uniforme, equipamento e trabalha com a gente no monitoramento de focos de incêndio.

Teve tempo em que chegava às 3h em casa, depois de apagar fogo, cansada, acordava cedo para trabalhar. Mesmo assim, cheia de sentimento bom. Eu me sentia orgulhosa.

Lembro de uma história de criança. Numa floresta, um grupo de animais se formou para assistir a um beija-flor, que ia de lá para cá, levando água no bico miúdo. Os bichos perguntaram o que estava acontecendo. Sem dar trégua, o beija-flor respondeu que estava fazendo a sua parte, tentando apagar o fogo.

Como mulher, brigadista, me sinto assim. Sou um pequenino beija-flor na luta contra os incêndios no Pantanal."

Conheça os demais finalistas e vencedores do Prêmio Empreendedor Social 2022 na plataforma Social+.

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