Corpo de Nicanor Parra é enterrado segundo instruções do poeta chileno
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"De mediana estatura,/ com uma voz nem fina nem grossa,/ filho mais velho de um professor primário/ e de uma modista de loja;/ frágil de nascimento/ ainda que devoto da boa mesa;/ de faces esquálidas e bem abundantes orelhas;/ com um rosto quadrado/ com que os olhos se abrem apenas/ e um nariz de boxeador mulato/ desce à boca de ídolo asteca/ - tudo isto banhado/ por uma luz entre irônica e pérfida -,/ nem muito liso nem parvo no remate/ fui o que fui: uma mescla/ de vinagre e de azeite de comer/um embutido de anjo e besta!"
O poema "Epitáfio" (1969) – traduzido acima pelo poeta gaúcho Carlos Nejar – foi uma das obras de Nicanor Parra (1914-2018) lembradas ao longo de seu velório, na Catedral de Santiago, nesta quinta-feira (25).
O escritor, morto na última terça (23), havia deixado várias recomendações para a cerimônia, em manuscritos entregues a seus familiares.
Elas diziam respeito a como e com que objetos queria ser enterrado. O caixão foi, então, coberto com uma manta tecida por sua mãe e escolhida por ele, e um recado, escrito num pedaço de papel: "Vou e volto".
Uma das orientações, porém, não foi fácil de cumprir.
Parra queria que canções compostas por sua irmã, Violeta Parra (1917-1967), fossem cantadas junto a seu caixão, mas a Igreja não permitiu. Sua filha, Colombina Parra, disse então que, se assim fosse, levaria o caixão da catedral, o que causaria grande confusão, uma vez que uma imensa fila de fãs já ia entrando no local para despedir-se do poeta.
Ao fim, a família obteve a permissão, e um coro começou a cantar "Gracias a la Vida", uma das composições de Violeta.
Depois houve uma missa, na qual estiveram presentes a presidente Michelle Bachelet, o ministro da Cultura, Ernesto Ottone, e o poeta Raúl Zurita, amigo de Parra.
Da capital chilena, o féretro seguiu para o balneário de Las Cruces, onde Parra havia vivido seus últimos 20 anos e onde havia decidido ser enterrado, no pátio de sua casa, em frente ao mar.
Antes disso, porém, houve uma despedida final, por parte de seus vizinhos na localidade, e com a presença de um conjunto musical.
A presidente Bachelet foi uma das que entoaram uma das canções escolhidas por Parra para sua festa fúnebre, a "cueca" (gênero musical), "Los Parecidos", de Roberto Parra (1921-1995), também irmão do poeta.
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