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Descrição de chapéu festival de cannes

Em Cannes, Cacá Diegues defende volta ao barroco

O diretor falou à Folha em exibição de 'O Grande Circo Místico'

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Cannes (França)

Exibido no Festival de Cannes, “O Grande Circo Místico”, de Cacá Diegues, é um objeto alienígena se comparado à típica produção brasileira que corre as mostras estrangeiras de cinema. 

É uma obra de época, musical e carregada de atmosfera onírica, felliniana. A história acompanha cinco gerações à frente do circo que dá título ao filme. Inspirado em poema de Jorge de Lima, toma também emprestadas as canções que Chico Buarque e Edu Lobo compuseram para a adaptação teatral do mesmo texto. 

“Eu queria voltar ao barroco brasileiro, que estava esquecido e que é uma das bases da nossa cultura”, diz o diretor à Folha, sobre o tom do longa. “Os filmes brasileiros hoje estão fixados no realismo-naturalismo, em fatos concretos. Acho importante, mas eu queria outra coisa.” 

Cena do filme 'O Grande Circo Místico', de Cacá Diegues, em exibição no Festival de Cannes 2018 - Divulgação

​​Diegues, que não lançava um longa de ficção desde 2006, havia concluído as filmagens de “O Grande Circo Místico” em 2015. Sua produção foi tumultuada: para poder rodar com os animais circenses sem ferir leis brasileiras, o diretor teve que ir para Portugal.

“Dirigir leão é barra pesada”, brinca, sobre as filmagens tumultuadas. “Mas o duro mesmo foi a finalização. Não esperava encontrar os problemas técnicos e financeiros para leva-la adiante.” 

“Circo Místico” é uma coprodução com Portugal e França. As dificuldades de finalização se devem ao fato de que foi necessário incluir efeitos especiais –como a de uma dança de trapezistas no ar, que acontece à certa altura. 

A trama tem início no começo do século 20, quando Fred (Rafael Lozano), filho de uma família aristocrática brasileira que, no começo do século 20, compra um circo. Ele é apaixonado pela atriz e dançarina Beatriz (Bruna Linzmeyer). 

Vincent Cassel, Mariana Ximenes e Juliano Cazarré fazem parte de outras das gerações que acompanham a trajetória do picadeiro, que corre paralela à história do Brasil. Quem tece o fio de todas é Celavi, mestre de cerimônias que nunca envelhece, interpretado por Jesuíta Barbosa. 

O filme não destoa só da típica produção contemporânea. Vai também na contramão do cinema novo, movimento do qual o próprio diretor fez parte nos anos 1960 e que se consagrou neste mesmo festival.

 Em 1964, com a escalação em Cannes de “Deus e o Diabo na Terra do Sol”, de Glauber Rocha, “Vidas Secas”, de Nelson Pereira dos Santos, e “Ganga Zumba”, de Diegues, a onda estética brasileira ganhou projeção internacional. 

“Cannes foi um dos nossos principais difusores. Estando aqui, me sinto acompanhado de Glauber, Nelson e todas essas pessoas que já foram”, diz o diretor de 77 anos. 

Já em 2018, Diegues retorna a um festival tomado pelas demandas de movimentos feministas como o MeToo e o Time’s Up

“Não faço isso conscientemente, mas descobri que meus filmes são sobre mulheres”, diz Diegues. “Tenho a esperança de que as mulheres tirem a gente desse mundo de merda de hoje.”

O jornalista se hospeda a convite do Festival 

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