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Anthony Bourdain surge taciturno e ausente nas últimas gravações

Chef mais escuta do que fala na 11ª temporada de 'Parts Unknown', não exibida oficialmente no Brasil

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São Paulo

É fácil demais encontrar presságios de uma tragédia consumada. É irresistível também. Nos episódios da última temporada de “Parts Unknown”, da CNN, surge um Anthony Bourdain taciturno e ausente.

Pode ser a idade —Tony caminhava para se tornar um sósia de Ziraldo, com espessas sobrancelhas brancas—, pode ser o efeito de medicamentos prescritos. O protagonista de “Parts Unknown” não é o mesmo homem de “No Reservations”, série que Bourdain apresentou de 2005 a 2012.

Em suas primeiras expedições culinárias, o chef bebia, fumava, falava e bravateava. Falava mal da própria produção e escalava “escadas” para pegar no pé. O russo Zamir Gotta encarnou o bufão particular de Bourdain em sete episódios de “No Reservations”.

Em “Parts Unknown”, pelo menos na temporada que está no ar agora nos EUA (a 11ª), a produção rebuscada não admite tosqueiras. Tony aparece apenas no momento das entrevistas. Ele mais escuta do que fala. Quando fala, é contido nos gestos e no tom de voz.

A série não é exibida oficialmente no Brasil, porém pode ser encontrada nos sites de streaming YouTube e Dailymotion.

Produzida para um canal de notícias, “’Parts Unknown” nem sempre traz a comida em primeiro plano. Os episódios passados na Virgínia Ocidental, na Armênia e em Berlim são aulas de história, economia e geopolítica para a audiência norte-americana.

Se é food porn que você quer, assista ao episódio sobre a província canadense de Terra Nova. Talvez seja a sua única oportunidade de conhecer o churrasco de alce.

Mas, se precisar escolher apenas um episódio da temporada, pegue o de Hong Kong. Dirigido por Asia Argento, última namorada de Bourdain, o episódio transmite um tom estranhamente nostálgico.

Hong Kong, a metrópole em constante reconstrução, nos é apresentada pelo cineasta australiano Christopher Doyle, responsável pela fotografia de filmes chineses como “2046” e “Amor à Flor da Pele”.

Velhas oficinas de artesãos, uma aldeia pesqueira e uma fábrica tradicional de macarrão surgem como cadáveres insepultos, fantasmas que se recusam a dar passagem para a modernidade.

A trilha sonora é melancólica. Tony, sempre lacônico.

Após entregar uma câmera para Doyle operar, ele é enquadrado e se comporta como uma tia perturbada pela filmagem na festa de família. Encara o cinegrafista, afasta novamente o olhar, dá um sorriso tímido e diz: “Eu não sorrio muito no programa. Estou sorrindo agora".

E vira o rosto para o outro lado.

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