Coleção Mir apresenta traduções cuidadosas e textos originais em russo
Especializada em literatura russa, editora Kalinka aposta em série voltada para prosa curta
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De uma inocente história sobre uma menina que ganha um elefante de verdade de presente até diálogos perturbadores entre cadáveres semidecompostos em um cemitério de São Petersburgo.
Este é o espectro coberto pela recém-lançada Coleção Mir (ao mesmo tempo "paz" e "mundo" em russo), da editora Kalinka, especializada em literatura russa.
Acompanhando a tendência de aumento do interesse pela literatura russa no país, a Kalinka resolveu apostar em uma coleção voltada para a prosa curta, que inclui tanto autores clássicos já bastante conhecidos do público brasileiro, como Dostoiévski, quanto escritores ainda pouco lidos por aqui, como Daniil Kharms e Aleksandr Kuprin.
A grande novidade da coleção, no entanto, é que ela traz, ao lado de traduções cuidadosas, os textos originais em russo, para o deleite de especialistas, estudantes de russo ou apenas curiosos do misterioso idioma.
As edições bilíngues são relativamente raras no Brasil, ainda mais quando o assunto é literatura russa. Ao contrário, durante muito tempo, o grande desafio no estudo e divulgação da literatura russa no país foi superar as traduções indiretas, em geral do francês e do inglês.
Essas traduções, apesar de terem cumprido um papel importante na tarefa de apresentar as principais obras da literatura russa aos brasileiros, possuíam evidentes debilidades e muita coisa acabava perdida.
O esforço foi feito e essa fase —espécie de "infância dos estudos russísticos no país"— foi superada, principalmente pelo surgimento de uma nova geração de tradutores de russo, formada e inspirada por mestres da tradução, como Boris Schnaiderman, Aurora Bernardini e Paulo Bezerra.
A edição bilíngue significa um passo adiante, principalmente para a crítica literária, uma vez que permite comparar o texto original com a tradução, discutir as opções feitas por editores e tradutores e desvendar nuances que, às vezes mesmo com boas traduções, teriam ficado escondidas na língua-fonte.
Para estudantes de russo, principalmente dos níveis intermediário e avançado, a edição bilíngue possibilita o exercício independente de interpretação de textos originais de altíssima qualidade literária, o que pode enriquecer em muito o vocabulário e a fluência na leitura e escrita.
Os livros da Coleção Mir trazem também um QR Code para acessar o áudio do texto original, lido por falantes nativos da língua, o que permite ao estudante de russo aperfeiçoar a percepção auditiva e habituar-se à sonoridade do idioma.
Por enquanto, foram lançados quatro títulos distribuídos em três volumes: "A Velha", de Daniil Kharms (texto de 1939, tradução de Moissei e Daniela Mountian), "O Elefante", de Aleksandr Kuprin (texto de 1907, tradução de Tatiana Larkina) e "Bobók e Meia Carta de 'um Sujeito'", ambos escritos por Fiódor Dostoiévski em 1873 (tradução de Moissei e Daniela Mountian).
Henrique Canary
Doutorando em literatura e cultura russa pela USP