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Juliano Garcia Pessanha extrai de suas calamidades escrita que busca renovar literatura

Autor, que lança 'Recusa do Não-Lugar', é um dos convidados da Flip

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Maria Esther Maciel

Recusa do Não-Lugar

Avaliação: Ótimo
  • Preço: R$ 35,70 (192 págs.)
  • Autoria: Juliano Garcia Pessanha
  • Editora: Ubu

O que primeiro chama a atenção no livro "Recusa do Não-Lugar", de Juliano Garcia Pessanha, é a dedicatória: "Às goteiras e rachaduras, que escancaram a urgência". Inserida estrategicamente após a epígrafe do filósofo alemão Peter Sloterdijk —"Calamidades humanas, boa oportunidade para o ser!"—, não deixa de condensar o que se desdobra ao longo de nove capítulos.

Trata-se de um livro heterogêneo, feito da mistura de reflexões filosóficas, relato autobiográfico, aforismos e apontamentos críticos sobre literatura contemporânea, no qual o autor cria uma relação de intimidade com o leitor para discorrer sobre filósofos, escritores e fatos traumáticos de sua própria vida.

O escritor Juliano Garcia Pessanha - Bob Wolfenson/Divulgação

Mas longe de se ater aos desastres da existência, como fizeram muitos dos autores que evoca (entre eles Nietzsche, Kafka, Heidegger e Blanchot), Pessanha desvia-se do caminho da negatividade e, amparado pelo conceito de esferologia de Sloterdijk, busca a passagem do fora para o dentro, da exclusão para a inclusão, da orfandade original para o aconchego do mundo.

Assim, recusa o que chama de "self negativo" e, na contramão da filosofia do nada, predominante no século 20, centra-se na positividade do encontro, do abraço e dos espaços interiores que permitem as relações de intimidade.

Num dos capítulos mais originais do volume, é Nietzsche quem assume uma espécie de primeira pessoa póstuma para falar de si, de sua filosofia e do próprio Pessanha.

Um artifício que sinaliza não só afinidades do escritor com um de seus mestres como também o seu atual processo de distanciamento em relação aos filósofos do abismo.

Esse movimento de releitura dos precursores e, ao mesmo tempo, de recusa do não lugar que eles legitimaram, também se dá a ver nos capítulos dedicados a Heidegger, para quem Pessanha olha "de forma estrábica e complementar", assim como fez Sloterdijk ao privilegiar o nascimento humano em detrimento do "ser-para-a-morte" enfatizado na filosofia heideggeriana.

Embora as questões discutidas pelo autor sejam densas e complexas, o viés performático de sua abordagem dissipa o peso que poderia se esperar do livro, tornando-o fluido e, muitas vezes, pungente.

São frequentes as histórias dolorosas que o atravessam, sobretudo quando Pessanha fala da experiência de abandono e solidão que viveu desde o nascimento, quando sua mãe, ao invés de lhe dar à luz e acolhê-lo, lançou-o na escuridão e no vazio da existência.

Por outro lado, consegue extrair de suas calamidades uma escrita que, na recusa urgente do nada, busca novos paradigmas para a filosofia e a literatura do nosso tempo.

Maria Esther Maciel
É escritora, ensaísta e professora de literatura comparada na UFMG
 

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