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Vencedor do Jabuti, poeta independente escreveu livro em 20 dias desgastantes

Cearense Mailson Furtado, que diagramou e ilustrou o seu 'À Cidade', ganhou nas categorias poesia e livro do ano

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O vencedor do Jabuti Mailson Furtado na cerimônia de premiação - Marcus Leoni/Folhapress

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São Paulo

Uma viagem feita em 2015 terminaria por trazer, alguns anos mais tarde, uma grata surpresa a Mailson Furtado. Após ler e se encantar com “Romance da Pedra do Reino”, do paraibano Ariano Suassuna, o dentista cearense empreendeu uma jornada de alguns dias pelo sertão da Paraíba. “Quando cheguei lá, tive uma sensação de conhecimento do lugar, de já ter ido”, diz Furtado.

Ao retornar para a cidade onde mora —a pequena Varjota, no noroeste do Ceará, com pouco mais de 18 mil habitantes— decidiu que precisava escrever algo sobre a sua região, para que qualquer pessoa pudesse sentir algo semelhante ao que ele sentiu no sertão. 

Assim nasceu o primeiro rascunho de “À Cidade”, obra de poemas publicada de maneira independente que foi duplamente agraciada no último prêmio Jabuti, o mais tradicional do mercado literário do Brasil. O livro ganhou nas categorias de poesia (R$ 5.000) e de livro do ano, o prêmio máximo (R$ 100 mil).

Com seu “À Cidade”, um único poema de 60 páginas sobre uma cidade no sertão, o odontólogo que escreve por paixão não só derrotou autores importantes no panorama da literatura brasileira contemporânea, como a poeta Marília Garcia e o romancista Joca Reiners Terron, como também colocou a publicação independente no foco de uma premiação afeita a grandes casas editoriais.

Ao receber a estatueta no palco do Auditório Ibirapuera, em São Paulo, no último dia 8 de novembro, dedicou o prêmio aos autores que não encontram espaço em editoras para lançarem suas obras e a “uma literatura que se faz sozinho”. Disse esperar que o reconhecimento abra as portas do mercado editorial para os independentes.

“À Cidade” é o quarto livro do autor, escrito em um período de 20 dias em novembro de 2015 que Furtado considera “psicologicamente desgastantes”. Uma vez pronto, levou os manuscritos para o grupo de teatro do qual faz parte, a companhia Criando Arte, e tentou “subir o texto” e torná-lo uma peça, mas o processo não deu certo. No entanto, os encontros com os colegas atores foram importantes para a lapidação do poema e para a sua formação como escritor, conta.

Com o texto totalmente finalizado, Furtado diagramou e criou o desenho que ilustra a capa. Então, encomendou 300 exemplares a uma gráfica local, ao custo de R$ 3.000, os quais distribuiu para jornalistas, algumas editoras, livrarias, amigos poetas e “quem eu achava que ia ler”. “Lancei sem expectativa nenhuma de lucro, para ‘vender’ o meu trabalho mesmo."

O livro chegou a ser lançado oficialmente —na Bienal do Livro do Ceará, em 2017— e teve uma circulação local no estado. Furtado conta que procurou grandes editoras, mas que nunca obteve resposta. Também entrou em contato com as menores, mas desistiu quando viu que teria que pagar parte dos custos de publicação, maiores do que os R$ 3.000 que investiu do próprio bolso. 

Ele afirma que inscreveu a obra no Jabuti “sem qualquer expectativa”, que “tomou um susto” quando “À Cidade” foi selecionado como finalista e um “susto total” quando levou o prêmio de livro do ano. Diz já ter recebido muitas mensagens de editoras, mas que só vai pensar nas propostas na semana que vem, quando estiver de volta a Varjota.

Talvez a história de Furtado tenha um pouco de destino. O poeta, que cita como influências Ana Cristina Cesar, Chacal e o conterrâneo Geraldo Melo Mourão, conta que soube que seria escritor quando criança, ao entrar em contato com os versos de Paulo Leminski na biblioteca da escola onde estudava. “Aquilo era o que eu queria fazer. Queria ser igual a ele um dia.”

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