Nova peça cria mosaico de memórias a partir de objetos de moradores do Brás
Grupo Sobrevento usa guardados de vizinhos para montar histórias de 'Noite', que estreia em SP
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Como a parede de um museu, o cenário de "Noite", novo espetáculo do Grupo Sobrevento, parece convidar o espectador a olhar os detalhes, cada qual a sua vez.
Trata-se de um estrutura composta de nichos, nos quais os atores se alocam. Em cada um, assiste-se à história de um morador do Brás, bairro da região central paulistana onde fica a sede da companhia.
"Noite" é uma sequência da pesquisa de "Escombros", trabalho anterior do Sobrevento que também se debruçava sobre histórias do bairro. Aqui, partiu-se de entrevistas com vizinhos sobre os objetos que guardavam ou pelos quais tinham especial apreço.
"Quando você pede para uma pessoa contar uma história, ela vem muito romantizada. Porém, quando você fala de objetos, as pessoas se desmontam um pouco, e aquele objeto vira um esteio de uma certa memória", diz Luiz André Cherubini, que divide a direção com Sandra Vargas.
O grupo foi a casas de moradores, comércio, igrejas e chegou a colocar uma barraca numa feira do bairro em que pedia aos passantes que contassem as suas histórias.
Chegaram a narrativas como a da costureira que carrega da mãe uma tesoura antiga, mas de corte inigualável; do rapaz que segura o vestido de brilhantes da mãe, que fora vedete até o marido proibi-la de trabalhar; da imigrante que só guarda de seu país uma manta de família e uma pedrinha, resquício de sua terra.
"Montamos um panorama do que somos nós nesta vizinhança", afirma Cherubini.
Na montagem, as histórias surgem a partir das lembranças de um cego (interpretado por Cherubini). Elas são narradas cada uma a sua vez, nos diferentes nichos da estrutura cênica, que ora se iluminam ora se apagam, levando o olhar do público para os detalhes, como aqueles objetos, todos em cena, emprestados de seus donos.
São caixinhas bem distintas, de um colorido forte que remete a um sincretismo religioso —os figurinos e adereços assinados são assinados pelo estilista João Pimenta.
"Noite", assim como "Escombros", traz uma vertente diferente do chamado teatro de objetos, linguagem pela qual o Sobrevento ficou conhecido. Em vez de miniaturas, que criavam imagens simbólicas, como visto nos espetáculos "São Manuel Bueno, Mártir" (2013) e "Só" (2015), agora são objetos em tamanho real que aparecem em cena.
A pesquisa recente levou o grupo a criar, durante o processo, uma espécie de museu, expondo em sua sede cerca de 80 objetos de vizinhos —e suas respectivas histórias.
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