Cinebiografia de Jorginho Guinle mostra vida esbanjada e decadência de boêmio
Filme também intercala entrevistas de pessoas que conviveram com o magnata
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É melhor do que ganhar na loteria, já nascer rico, milionário, bilionário, em uma das famílias mais poderosas do Brasil, que recebia os lucros de empresas em diversos setores, de tintas e bancos a energia elétrica e hotéis, mas cujo principal rendimento vinha de cada carga que chegava ou saía do Porto de Santos durante boa parte do século 20.
A isso, Jorginho Guinle anexou uma decisão que tomou em sua festa de 15 anos, em 1931: não trabalhar um único dia de sua vida. Assim, enquanto primos se dedicavam a empresas ou presidiam bancos, Jorginho focou em gastar bem o dinheiro da família e em não saber absolutamente nada sobre os negócios.
Esse conto de fadas capitalista está contado em “Só Se Vive uma Vez”, uma mistura de cinebiografia com documentário, em que aparecem entrevistas com membros da família ao lado de cenas filmadas com atores.
Saulo Segreto está excepcional encarnando o playboy Jorginho Guinle, em um trabalho que poderia ser sabotado devido ao efeito comparativo das imagens arquivo do verdadeiro playboy com as do ator maquiado. Mas Segreto, andando pelo Rio de Janeiro, Paris e Nova York com seu sapato com salto de 8 centímetros (Jorginho não passava de 1,63 m), convence muito bem.
A atriz Guilhermina Guinle, que já atuou em duas dezenas de novelas, aparece dos dois lados: como entrevistada e interpretando uma de suas ascendentes. De todas as histórias de Jorginho, a que chama mais atenção é o namoro e/ou amizade com diversas atrizes de primeira grandeza do cinema: Marilyn Monroe (cuja cena de sexo com o brasileiro é reencenada), Brigitte Bardot, Ava Gardner, Kim Novak, para citar algumas.
A forma leve e descompromissada com que o assunto é tratado pode incomodar as empoderadas. Na verdade, nada no filme é tratado com muita seriedade, o que, dado o personagem principal, é um ponto forte para a obra.
Uma crítica que se pode fazer é a falta de explicações mais aprofundadas para a ascensão e também para a queda da fortuna familiar. No final, Jorginho está morando em apartamento de classe média e pede para ir morrer no Copacabana Palace, que havia sido construído por Octávio Guinle, em 1923. O desejo foi atendido, em 2004, mas o quarto cedido foi no prédio anexo, não no principal.
O formato de intercalar entrevistas com cenas de atores claramente aproxima “Só Se Vive uma Vez” de um programa de televisão, mais do que um cinematográfico. Mas, seja no cinema ou num canal de TV, é uma vida que vale o filme.
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