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Com tom político, festival literário leva autores brasileiros a sete países

Primavera Literária é organizada na Europa e nos EUA e pretende se debruçar sobre o papel da cultura

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Paris

É bem possível que despontem mais espinhos do que flores dos debates e conferências da Primavera Literária, festival que, depois de uma escala inaugural na França nesta semana, leva cerca de 50 escritores e intelectuais brasileiros a outros seis países nos próximos três meses.

Em sua sexta edição, o evento pretende se debruçar sobre o papel da cultura e de seus agentes em um cenário que combina a extinção do ministério dedicado ao setor no Brasil, o anúncio da revisão da política de patrocínios de alguns dos mastodontes da área (como a Petrobras) e os ataques cada vez mais frequentes e ruidosos a manifestações e artistas.

“O que devemos fazer agora enquanto produtores de cultura? Qual é o lugar da literatura?”, pergunta o organizador da Primavera, Leonardo Tonus, também professor do Departamento de Estudos Ibéricos e Latino-Americanos da Sorbonne, na França.

A escritora Carola Saavedra, que participa da Primavera Literária - Carine Wallauer Ferreira/Divulgação

Ele afirma que o festival tem caráter político, não partidário, e que não tem patrocínio do governo 
brasileiro, “o que dá mais liberdade na organização”.

Nas etapas francesa e belga, as duas primeiras, há, além de encontros sobre tradução e mercado editorial de obras lusófonas, mesas como “A Política e o Ódio, A Política do Ódio”, “Escrever o Medo, Escrever sob o Medo” e “Literatura Política e de Resistência em um Brasil em Crise”.

A caravana literária passa ainda por Portugal, Alemanha, Estados Unidos, Canadá e Suíça —nesses dois últimos, faz sua estreia em 2019. Nos EUA, o roteiro inclui paradas em algumas das principais universidades do país, como Columbia, Yale e Brown.

O time escalado inclui autores de carreira já consolidada, caso de Carola Saavedra, Marcelino Freire, Carol Bensimon e Eliane Robert Moraes, mas também nomes em ascensão, como Fred Di Giacomo e Eduardo Jorge.

“A ideia é tirar nossa literatura do gueto dos expatriados”, afirma Tonus. “Não faz sentido mostrar autores brasileiros a plateias exclusivamente brasileiras. Temos que falar com o público local.”

Segundo o organizador, a proposta da programação se distingue da de uma Flip (Festa Literária Internacional de Paraty), por exemplo, por seu objetivo pedagógico —vide a forte inserção em universidades. “O cerne é que o autor encontre estudantes e forme leitores não nativos.”

A presença pontual de escritores estrangeiros nas mesas do evento visa ampliar esse alcance. É o caso da italiana de origem somali Igiaba Scego, que esteve em Paraty em 2018 e tem uma ligação afetiva com a cultura brasileira, mais especialmente com o cancioneiro de Caetano Veloso, a quem dedicou um livro.

Igiaba Scego, na Flip do ano passado, em Paraty (RJ) - Walter Craveiro/Divulgação

Já sua conterrânea Mia Lecomte, também alistada, estudou a obra do brasileiro radicado na Itália Julio Monteiro Martins (1955-2014) e do contista e poeta mineiro Murilo Mendes (1901-1975).

A elas irá se juntar, em adendo de última hora à programação, o professor e escritor Jean Wyllys, que renunciou ao cargo de deputado federal em janeiro depois de receber ameaças de morte.

A conferência que ele profere no próximo sábado na Sorbonne empresta seu enunciado do livro que ele lançou em 2014, “Tempo Bom, Tempo Ruim – Identidades, Políticas e Afetos”. No mês passado, um grupo tentou atirar ovos em Wyllys durante uma fala dele na Universidade de Coimbra.  

“Ele vai falar da situação no Brasil do ponto de vista do ativista, de alguém que sofre com o cerceamento ideológico e que se tornou escritor”, conta Tonus.

Não vai ser a primeira vez que livros e política vão se imbricar no palco da Primavera, assinala o professor.

“Cada edição parece ser confrontada a um novo problema sociopolítico brasileiro. Em 2017, eram os ecos do impeachment de Dilma Rousseff. No ano passado, o assassinato da vereadora Marielle Franco ocorreu pouco antes de os escritores Conceição Evaristo e Julián Fuks falarem na Sorbonne. Diante da comoção, pensei em cancelar o encontro, mas Conceição insistiu, dizendo que a literatura passava a ser ainda mais necessária.”

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