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Descrição de chapéu

Arquiteto da pirâmide do Louvre soube criar joias com a geometria

Morto na semana passada, I. M. Pei agradou sem nunca se render a modismos

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Francesco Perrota-Bosch

Não é sempre que se recebe a ampliação do Louvre como encomenda. Mais que um aumento, era necessária uma profunda reorganização dos acessos e da circulação do museu que no início dos anos 1980 dava sensação caótica e de certo enfado ao público.

A instituição parisiense guarda e apresenta mais que uma miríade de obras-primas, mas não nos esqueçamos de que ela ocupa um colossal palácio, um edifício com séculos de existência que não foi concebido para ser museu, mas para abrigar uma corte.

E coube ao chinês Ieoh Ming Pei intervir na construção que encarna o clímax da cultura ocidental. O arquiteto, morto na semana passada, estudou e desenvolveu toda a sua carreira nos Estados Unidos.

A escolha de um não francês já detonaria polêmicas no país, porém nada bate o desafio de pensar algo para um lugar que milhares de arquitetos e críticos de todo o mundo têm uma opinião a dar a respeito. O que fosse feito passaria por um escrutínio global.

I. M. Pei, como ficou conhecido, apostou alto e propôs um novo ícone para a capital francesa já bem sortida de ícones —o projeto do Louvre parte de uma pirâmide de vidro.

Ele convoca uma tipologia arquitetônica de milênios de existência e aplica nela a tecnologia e os materiais de sua época —uma estrutura com múltiplas hastes metálicas muito delgadas que conformam uma volumetria recoberta por transparentes e leves peças de vidro. O uso do material, aliás, marcou seus projetos anteriores, entre eles a Biblioteca Presidencial de John F. Kennedy, em Boston.

Em Paris, Pei fez uma joia delicada com um simples sólido geométrico. Há o caráter simbólico de criar uma preciosidade reconhecida tanto por críticos quanto pelo público.

O êxito do arquiteto é também notável em termos operacionais. Seu projeto ocupa, em grande medida, o pátio frontal do Louvre diante do jardim das Tulherias e ponto inicial do grande eixo parisiense que dará na Champs-Élysées e no Arco do Triunfo.

Antes da intervenção, esse pátio era ocupado como um estacionamento do museu, o que transformava de início a visita numa experiência labiríntica e confusa. O Louvre é um imenso palácio composto por diversas alas com muitas salas sem saída e de retorno obrigatório. Para além de gerar um confortável acesso contemporâneo de sofisticado acabamento, I. M. Pei liga o núcleo do museu à circulação dos diferentes lados.

A solução funcional ganhou ampla simpatia com o passar dos anos. Após a inauguração deste Louvre renovado em março de 1989, o sino-americano recebeu o título de oficial da Ordem Nacional da Legião da Honra da França em 1993, do presidente François Mitterrand.

Pirâmide do Louvre, construída por I.M. Pei - Lionel/Bonaventure/AFP

I. M. Pei faz parte de um peculiar grupo de grandes arquitetos que ao analisarmos detidamente seu principal projeto conseguimos verificar as qualidades presentes em todo o seu conjunto de obras. A descrição das virtudes de sua intervenção no Louvre é visivelmente aplicável aos projetos da ala leste da National Gallery, obra de 1978 em Washington, e do Museu e Hall da Fama do Rock’n’Roll, realizado em 1995 em Cleveland.

Sem se deixar cair em modismos pós-modernos nas décadas de 1970 e 1980, Pei se manteve próximos dos princípios dos mestres modernos Walter Gropius e Marcel Breuer, com quem teve aulas nos Estados Unidos.

Desde a abertura de seu escritório em 1955, o arquiteto esteve sempre atento ao emprego da tecnologia de ponta da época, o que se vê nas várias torres de vidro que projetou na carreira. Foi, assim, um arquiteto requisitado tanto em encomendas governamentais para edifícios públicos quanto pelo mercado imobiliário.

Recebeu a maioria das principais láureas que um arquiteto pode ganhar, como o prêmio Pritzker, em 1983, e a medalha de ouro do Riba, o Instituto Real de Arquitetos Britânicos, em 2010.

Seu canto do cisne foi o Museu de Arte Islâmica, em Doha. Já projetado em coautoria com seus filhos, Chien Chung Pei e Li Chung Pei, o edifício é fruto da apropriação e do empilhamento de formas do islã. A síntese obtida no Louvre foi perdida, mas as referências simbólicas foram multiplicadas ali.

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