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Cinema

'Borrasca' pode funcionar no teatro, mas não dá certo num filme

Peça de Mário Bortolotto oferece pouca chance de inventividade para a imagem

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Borrasca

Avaliação: Ruim
  • Quando: Estreia nesta quinta (2)
  • Classificação: 14 anos
  • Elenco: Mário Bortolotto e Eldo Mendes
  • Produção: Brasil, 2017
  • Direção: Francisco Garcia

Veja salas e horários de exibição

Não sei dizer o que seria “Borrasca” no teatro, mas a peça de Mário Bortolotto parece fazer parte dessa tendência que no teatro brasileiro se fez clássica desde, pelo menos, Plínio Marcos: poucos personagens (dois no caso), uma aflita discussão, revelações que se sucedem, a eclosão de um conflito há muito contido.

Há diferenças, é claro. Plínio Marcos trabalhava mais o lumpesinato, seus dramas começavam por ser sociais. Em “Borrasca”, ele diz respeito à classe média e, após um namoro com certa metafísica, transita ao existencial.

No mais, o diálogo entre os amigos Gabriel e Diego não chega à catarse final. Ao longo do filme que adapta a peça ao cinema, vários momentos assim afloram, mas não chegam à explosão. Gabriel parece tão pouco intenso que nem para sentir intensamente sua dor ele parece capacitado.

No caso, Diego está chegando do velório de Enzo, amigo comum. É o mesmo, aliás, com quem a mulher de Gabriel o traiu. A mágoa deste é evidente em relação ao finado.

Mas a situação é pouco favorável a um filme: se tudo acontece num cômodo, se o essencial vem dos diálogos, se o texto oferece pouca chance de inventividade para a imagem, a chance de chegar a um filme ao menos eficaz é reduzida.

Tudo que temos é uma longa conversa entre um escritor autocentrado e o ambíguo amigo. A questão de Gabriel consiste, essencialmente, em se sentir derrotado e, aparentemente, em sentir um nem tão secreto prazer nessa condição. Enuncia a palavra “corno” para se autodefinir com ênfase. Parece que essa condição o habita desde sempre.

Tudo pode funcionar numa peça, não sei. Num filme, não dá muito certo. Talvez por isso eu tenha pensado, a dada altura, em como ficaria a mesma situação se transformada numa comédia. Se, digamos, Diego dissesse que também era apaixonado por ela. E se ambos, reconciliados, fossem a um bar encher a cara.

É só uma divagação, mas ela parte da sensação de que o excesso de gravidade é o problema de “Borrasca” (que chega ao ponto de alguém mencionar tomar um porre de vinho Sangue de Boi após o qual veria Deus —Deus? Numa ressaca infernal?). Essa gravidade termina por tornar o material visualmente monótono em algo dramaticamente oco.

Afinal, qualquer homem pode passar por tal situação. Pode ser duro, mas se sobrevive. Gabriel, visivelmente, não superou a história nem pretende superar —e isso é um empecilho intransponível ao filme.

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