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Cinema

Pedofilia é tema de filme baseado em experiências pessoais da diretora

'Inocência Roubada' enfrenta muitos riscos para alcançar um resultado desequilibrado, portanto verdadeiro

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Inocência Roubada (Les Chatouilles)

Avaliação: Bom
  • Quando: Estreia nesta quinta (18)
  • Classificação: 16 anos
  • Elenco: Andréa Bescond, Cyrille Mairesse, Karin Viard
  • Produção: França, 2018
  • Direção: Andréa Bescond e Eric Métayer

Tirar a pedofilia do silêncio, denunciar e esclarecer são táticas para impedir que vítimas continuem a sofrer abusos. Mas ancorar um filme só na mensagem e descuidar da dramaturgia pode gerar uma obra comovente e inócua. 

“Inocência Roubada” enfrenta muitos riscos para alcançar um resultado desequilibrado, portanto verdadeiro.

Se não bastasse o assunto espinhoso, o longa é dirigido por dois estreantes, Andréa Bescond e Eric Métayer. As situações de abuso são recriadas com base em experiências pessoais de Bescond no roteiro assinado por ela e Métayer a partir de um texto teatral da dupla. Ela faz a personagem central, Odette, adulta.

Ou seja, é um filme em primeira pessoa, filiado à tendência contemporânea da autoficção, com todos os riscos de narcisismo indulgente que esse tipo de proposta implica.

A cena de abertura registra os gestos coreográficos de uma bailarina que logo saberemos ser a própria Bescond. A dança sugere embate do corpo com o espaço, uma espécie de luta em que movimentos se transformam em abraço, mistura de submissão e repulsa.

Há uma transição simbólica da atriz-roteirista-diretora para a personagem. Bescond e Odette se confundem, como os tempos dessa história.

Na infância, ela é uma garota que sofre abusos do melhor amigo dos pais. Adulta, aparece como dançarina talentosa e de atitudes explosivas que tornam o convívio tenso. Os diálogos entre ela e sua terapeuta interferem em cenas do dia a dia, revelando sentimentos e travas.

O excesso poderia provocar congestão emocional, mas o filme sabe explorar as ferramentas cinematográficas para não ultrapassar limites. Essa astúcia funciona nas cenas entre a menina e o abusador, quando o pudor de um enquadramento basta para revelar agressão ou quando um corte estabelece a continuidade dolorosa entre passado e futuro.

Além das boas ideias, o filme tem na expressividade do corpo de sua atriz, ao mesmo tempo persona e personagem, uma força que rouba da face o epicentro das emoções. Bescond grita e se descabela, é excessiva. Mas é fisicamente, no gestual enérgico que confunde luta e graça, que as marcas do abuso gritam.

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