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Drama sobre madrasta que se torna predadora sexual ecoa era MeToo

Longa dinamarquês usa tragédia familiar para dissecar relações de poder

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São Paulo

O cinema dinamarquês contemporâneo tem uma tradição de dramas familiares baseados em dilemas éticos. Vêm de lá, por exemplo, “A Caça” (2012), de Thomas Vinterberg, sobre um professor acusado de abusar de uma aluna, e “Em um Mundo Melhor” (2010), obra de Susanne Bier que conquistou o Oscar de filme estrangeiro em 2011.

“Rainha de Copas”, longa de May el-Toukhy que estreia nesta quinta (12), é mais uma adição à lista. No longa, Trine Dyrholm é Anne, uma advogada bem-sucedida especializada em casos de abuso infantojuvenil. Mãe de gêmeas, vive em uma casa grande e bem decorada com o marido.

A trama começa quando o enteado de Anne, o adolescente-problema Gustav, se muda para o local. Aos poucos, o que era uma relação maternal se transforma em um jogo sexual tórrido, cujos lances são ditados pela madrasta.

Diretora de segunda viagem, El-Toukhy conta que o ponto até onde a plateia torce por Anne varia com base no “compasso moral” do espectador.

Mais do que uma narrativa sobre um relacionamento proibido entre madrasta e enteado, porém, ela afirma que o objetivo do roteiro era dissecar estruturas de poder.

“O momento em que Anne percebe que errou é o mesmo em que constata que conhece o sistema bem o suficiente para manipulá-lo a seu favor”, afirma a cineasta sobre o paradoxo de uma personagem que se torna aquilo que combate na profissão, uma abusadora.

“Muitas vezes, um superpoder pode ser usado tanto para conseguir o que se quer quanto para fazer mal aos outros.”

É nessa mesma busca por traçar uma anatomia das relações de poder que El-Toukhy diz localizar o ponto de encontro da trama —que traz uma incomum predadora sexual feminina— com o MeToo, movimento de denúncias de assédio sexual em Hollywood.

“Acho que a coisa mais difícil de comunicar no MeToo é como é possível que uma pessoa tenha sofrido abuso sem ter sido amarrada, presa em um cômodo. E é isso que tento mostrar, como funciona essa dinâmica”, opina a diretora.

Nascida na Dinamarca, mas filha de pai egípcio, ela diz que tenta vasculhar os lados ocultos de uma sociedade aparentemente idílica.

“Mas o fato de não ser completamente integrada a ela permite manter distância”, reflete. E ri: “Um professor certa vez me disse que meus personagens são retratados de forma quase animalesca”.

A influência, por assim dizer, dos documentários sobre a vida selvagem pode ser vista nos tantos planos de galhos e folhagens que pontuam a obra. Um deles abre o filme, girando sobre o próprio eixo. A técnica reaparece em uma cena de sexo entre Anne e Gustav.

El-Toukhy explica que a referência para as duas cenas vertiginosas é “Alice no País das Maravilhas”, obra que Anne e Gustav leem para as gêmeas.

O conto inspira ainda o título, “Rainha de Copas”. Nele, a personagem vive mandando cortar a cabeça de amigos e inimigos sem muito critério.

Questionada sobre o apelo do drama familiar em tempos de franquias de super-herói, El-Toukhy diz que seu filme exige que os espectadores decidam de que lado estão. “Eles viram cúmplices, e isso tem uma força enorme.”

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