Míriam Leitão brinca com viagens ao passado e ao futuro em novo livro infantil
Em época de lama e conflitos por terra, história traz o rio Doce limpo e o povo krenak
Já é assinante? Faça seu login
Continue lendo com acesso ilimitado.
Aproveite esta oferta especial:
Oferta Exclusiva
6 meses por R$ 1,90/mês
SOMENTE ESSA SEMANA
ASSINE A FOLHACancele quando quiser
Notícias no momento em que acontecem, newsletters exclusivas e mais de 200 colunas e blogs.
Apoie o jornalismo profissional.
Você pode ser mais da turma do Caetano e achar que ele é um dos deuses mais lindos. Ou preferir o Gil e considerá-lo um rei. Não importa —no novo livro infantil da jornalista Miriam Leitão, o tempo é as duas coisas.
“As Aventuras do Tempo”, que sai agora pela Rocco, esconde o tique-taque do relógio em cada linha. Ele está na personagem principal, Mel, por exemplo, que pede para a avó contar histórias de quando ela era criança e vê o tempo aparecer em brincadeiras de antigamente e em uma época sem internet ou celular.
Ele está também no surgimento da história, quase autobiográfica ao se desenrolar na região do rio Doce, em Minas Gerais. “Foi onde passei a minha infância”, diz Míriam Leitão. “Quando a neta da minha irmã falou que nunca tinha visto a avó criança, achei aquela frase tão maravilhosa que comecei a escrever o livro.”
O tempo ataca também na região da aventura. Na obra, o rio Doce está limpo e muito distante do lamaçal de mineração que destruiu a área em 2015. Lá, os krenak lutam por suas terras, mas sem a pressão de um governo que não demarcará novas terras indígenas, nas palavras do presidente. Vida e literatura formam outros tempos.
“Quis falar disso no livro, mas sem entrar na má notícia. Procuro sempre levar uma mensagem de maneira divertida para a criança. Não quero que lembre uma lição da escola”, explica a autora.
Em seus outros títulos infantis, Leitão já tratou de temas como ecologia, educação, adoção e racismo. “O livro precisa sempre ter um objetivo.”
Na nova história, depois de Mel ouvir a avó, a menina decide explorar a região do rio Doce, onde acaba quase se afogando e precisa ser salva por um jovem índio. Com o rapaz, ela passa a entender melhor a disputa entre os krenak e os fazendeiros por aquelas terras e vai brincar na mata que se tornaria, tempos depois, o Parque Estadual do Rio Doce.
“É assim que as histórias sobrevivem por gerações, sendo contadas de pais para filhos. Para os meus netos, eu transformei todas em livros”, conta.
E é então que ele ataca de novo: jornalista, colunista, comentarista de economia e de política da Globo, como Míriam Leitão consegue tempo para escrever livros para crianças em tempos tão conturbados do país?
A autora ri. “Às vezes a ideia surge no meio de uma confusão”, diz. “Então começo a escrever o início daquele livro infantil para não perder a ideia e logo mudo de arquivo para terminar uma coluna sobre o Copom, por exemplo.”
Para ela, suas criações para crianças funcionam como uma máquina do tempo que a transporta não apenas para a infância, mas para um momento mais idílico ou até onírico do dia a dia. Como um oásis em que o tique-taque do relógio não seja tão incisivo.
“É a hora que tenho de respiro da rotina, uma válvula de escape, uma brincadeira”, conta. Ou um tempo sem as pressões do tempo.
Receba notícias da Folha
Cadastre-se e escolha quais newsletters gostaria de receber
Ativar newsletters