Siga a folha

Descrição de chapéu
Cinema

Sexualidade feminina e política injetam polêmica em drama polonês

'Doce Entardecer na Toscana' constrói enredo que discute a Europa de hoje

Continue lendo com acesso ilimitado.
Aproveite esta oferta especial:

Oferta Exclusiva

6 meses por R$ 1,90/mês

SOMENTE ESSA SEMANA

ASSINE A FOLHA

Cancele quando quiser

Notícias no momento em que acontecem, newsletters exclusivas e mais de 200 colunas e blogs.
Apoie o jornalismo profissional.

Neusa Barbosa

Doce Entardecer na Toscana

Avaliação: Ótimo
  • Quando: Estreia nesta quinta (12)
  • Classificação: 14 anos
  • Elenco: Krystyna Janda, Antonio Catania, Kasia Smutniak, Lorenzo de Moor, MiIla Borcuch
  • Produção: Polônia, 2019
  • Direção: Jaceck Borcuch

Musa dos consagrados Andrzej Wajda —em “O Homem de Mármore”, “O Maestro”— e István Szabó —“Mephisto”—, a atriz Krystyna Janda consolida uma das personagens femininas mais complexas da temporada cinematográfica com sua vulcânica encarnação da poeta Maria Linde, protagonista do drama polonês “Doce Entardecer na Toscana”. A atuação lhe valeu o prêmio de melhor atriz no Festival Sundance do ano passado.

O título bucólico do filme de Jacek Borcuch, de “Tudo o que Amo”, de 2009, é o primeiro sinal enganador de uma paz aparente. O cenário da história são os arredores de Volterra, na verdejante Toscana, onde a escritora judia e polonesa há muito se autoexilou, escapando aos rigores de uma Polônia comunista, anos depois de ter fugido uma primeira vez, ainda criança, do domínio nazista.

A atriz Krystyna Janda em cena de 'Doce Entardecer na Toscana' - Divulgação

Todo esse passado de Maria não é imediatamente disponível, testemunhando-se primeiro a vitalidade incandescente desta mulher sexagenária, que se recusa a se reprimir por causa das expectativas, tanto sociais, quanto de sua própria família, num momento em que ela atinge a máxima celebridade depois de vencer o prêmio Nobel de literatura.

Figura brutalmente honesta, Maria reúne em torno de si uma trupe encantada com sua luz própria, quase como se ela condensasse em si mesma a intensa feminilidade de todas as protagonistas de “Gritos e Sussurros”, de 1972, de Ingmar Bergman. Giram em torno de Maria o marido Antonio (Antonio Catania), a filha Anna (Kasia Smutniak), os netos Elena (MiIla Borcuch) e Salvatore (Wiktor Benicki), que parecem se apagar para servir à poeta.

O equilíbrio familiar ganha um agregado em Nazeer (Lorenzo de Moor), jovem comerciante egípcio que fornece mercadorias à família e mantém um relacionamento secreto com Maria. Nazeer funciona como catalisador não só da sensualidade dela como materializa uma discussão sobre xenofobia que impregna os acontecimentos.

A polícia adverte a família de Maria sobre a presença de refugiados, mas a única face não europeia que aparece nitidamente é Nazeer, cuja história, infelizmente, não é muito explorada no roteiro, assinado por Borcuch, Marcin Cecko e Szczepan Twardoch.

Uma preocupação mais polêmica é discutir o individualismo exacerbado de Maria, que se ressente da hipocrisia de uma Europa que vilaniza os refugiados ao mesmo tempo que se pretende o berço da civilização. A explosão dela contra esse estado de coisas num evento em sua homenagem, ocorrido logo após um atentado terrorista, desmonta a zona de conforto da poea, cuja sinceridade não é compreendida num mundo em que as palavras têm mais poder de fogo do que bombas quando desabam nas redes sociais.

Receba notícias da Folha

Cadastre-se e escolha quais newsletters gostaria de receber

Ativar newsletters

Relacionadas