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Saiba quem é Khalil, cantor confundido com Caetano por seus versos anti-Bolsonaro

Com o álbum lançado durante as agruras da pandemia, artista reúne sucessos que viralizaram na internet

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São Paulo

Khalil tem 25 anos, nasceu e vive em Sorocaba, em São Paulo, compõe, canta, toca violão e sua voz lembra bastante a de Caetano Veloso. Mas tudo isso fica em segundo plano na audição do álbum de estreia, “De Cara pro Vento”, gravado bem longe do interior paulista. Em Lisboa.

O disco pode parecer uma máquina do tempo. O ouvinte é arremessado para o mundo dos trovadores da MPB dos anos 1970. As letras se ligam diretamente às fases joviais e intensas de Alceu Valença, Belchior ou Zé Ramalho. Khalil Magno Menegolo, nome dado pelos pais que adoravam o escritor libanês Khalil Gibran, canta alguns dos versos mais contundentes da MPB das últimas temporadas.

“Eu cresci ouvindo canções que depois passei a tocar na noite. Ouvia muito no rádio do carro do meu pai”, conta o compositor. “Trabalhei com música de todas as maneiras que encontrei.” Khalil foi artista de rua e tocou nos ônibus em Sorocaba. Em São Paulo, empunhou o violão no metrô e na avenida Paulista.

Mesmo com tanta rodagem, a coisa engrenou mesmo a partir de um vídeo caseiro, que gravou em seu quarto com câmera de celular. Em outubro de 2018, ele postou a canção “Quem É Deus”, que está no álbum. A música repercutiu como nenhuma outra de suas postagens.

O músico Khalil, que lança seu primeiro disco, 'De Cara pro Vento' - Divulgação

Entre as mais de 900 mil visualizações, quem gostou muito foi o fotógrafo e produtor brasileiro Sergio Guerra, radicado em Portugal. Como tantos, foi fisgado pelos versos, entre eles os que dizem “eu vi messias disfarçados, picaretas, e saquei suas mutretas por debaixo de um altar/ onde se via prata, ouro e diamantes, um senhor muito elegante e seu rebanho a minguar/ amargamente via o povo assim, carente de um deus onipresente que só não estava lá”.

Guerra convidou Khalil para gravar o disco em seu estúdio em Lisboa, em outubro do ano passado. Na produção, um colecionador de vitórias e indicações no Grammy Latino –Alê Siqueira, que já conduziu gravações de Tribalistas, Paulinho da Viola, Chico Buarque e outros gigantes.

Difícil saber quanto a experiência de Siqueira interferiu em “De Cara pro Vento”, que é um disco cru, enxuto musicalmente no violão e na voz de Khalil. Tarefa árdua foi escolher as 13 faixas que entraram no álbum. Khalil tinha mais de 60 canções prontas. Nas letras, uma mistura incomum de temas –amor, misticismo, religiosidade afro, crítica política velada e explícita, sagas com ecos nordestinos e alguma introspecção.

Tudo isso é cantado na tal voz que realmente parece com Caetano. Algo que já rendeu um dos episódios mais curiosos da ainda curta carreira de Khalil.

Em 2018, antes da eleição presidencial, ele compôs e gravou “Ele Não”, incluída no álbum. A mensagem da letra não poderia ser mais direta. “Ele é a bala em Marielle/ ele é o ódio à flor da pele/ ele é o sangue na favela/ ele é o mal.” Postada na internet, viralizou em questão de horas.

“Percebi pelas reações que aquilo poderia tomar um rumo perigoso. Quis priorizar então a mensagem da canção, mais do que divulgar o meu nome. Tirei meu nome do post. Aí rolou uma história de começarem a falar que era do Caetano Veloso. Fui informado que ele chegou a explicar no Instagram que a canção não era dele. Desde então sempre rola um desafeto com apoiadores de Bolsonaro.”

Há mais crítica forte no disco. Em “A Revolução dos Bichos”, por exemplo. “Mas eu quero mesmo ver a gente sendo bicho, tomando a fazenda e derrubando a granja/ para instituir república dos bichos/ bichos, bichas e quem mais vier pra dança”, ele canta. Ou em “Botas Imundas" –“canto pra fazer barulho/ canto pra te incomodar/ se fosse pra ser bonito cantava lá lá lá lá”.

O músico Khalil, que lança seu primeiro disco, 'De Cara pro Vento' - Divulgação

Com o álbum lançado durante as agruras da pandemia, Khalil faz lives, hábito que vem desde antes da quarentena. Mas está quebrando a cabeça para descobrir como levar suas músicas a um público maior, em turnê. Apesar de o álbum concentrar sua força em voz e violão, ele admite ter “ideias extravagantes”. “Quero fazer shows com dança, com orquestra, com tudo que eu tiver direito.”

Enquanto a extravagância não vem, “De Cara pro Vento” está aí como um disco instigante. Khalil fala para sua geração, mas atinge em cheio um público mais velho. Gente que ouve em casa discos de vinil gravados há 40 anos por Alceu, Fagner ou Belchior já pode dar atenção a um garoto sorocabano.

DE CARA PRO VENTO

Avaliação:
  • Quando: Disponível
  • Onde: Plataformas digitais
  • Autor: Khalil
  • Lançamento: Maianga Discos/Dubas

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