Siga a folha

Descrição de chapéu
Filmes mostra de cinema

'Tel Aviv em Chamas' é herdeiro do Woody Allen de 'Tiros da Broadway'

Influência do cineasta nova-iorquino introduz frescor na árida disputa entre palestinos e israelenses

Assinantes podem enviar 5 artigos por dia com acesso livre

ASSINE ou FAÇA LOGIN

Continue lendo com acesso ilimitado.
Aproveite esta oferta especial:

Oferta Exclusiva

6 meses por R$ 1,90/mês

SOMENTE ESSA SEMANA

ASSINE A FOLHA

Cancele quando quiser

Notícias no momento em que acontecem, newsletters exclusivas e mais de 200 colunas e blogs.
Apoie o jornalismo profissional.

Tel Aviv em Chamas

Avaliação: Bom
  • Onde: Disponível no Belas Artes à la Carte
  • Classificação: 12 anos
  • Elenco: Kais Nashif, Lubna Azabal, Yaniv Biton
  • Direção: Sameh Zoabi

Não é preciso ir longe para encontrar a inspiração de “Tel Aviv em Chamas”, herdeiro direto do Woody Allen de “Tiros na Broadway” , de 1994. Ali, um dramaturgo intelectual, mas sem talento, acaba tendo seu texto retocado, corrigido e, na verdade, reescrito por um gângster que não suporta ver aquele desperdício no palco.

Aqui, Salam é o desajeitado assistente de uma novela palestina que tem o mesmo nome do filme. Está lá porque seu tio é o produtor e o protege, nada mais. Um palpite que dá aqui, outro ali, mais o azar ou a sorte, acabam por o promover a autor da novela, coisa para a qual não tem nenhuma competência.

Como ele mora em Jerusalém e a novela é rodada em Ramallah, na Palestina, é obrigado a atravessar, diariamente, o posto de fronteira israelense, com aquelas revistas rigorosas (para dizer o mínimo), que acontecem por lá. Por azar ou por sorte, ele topa numa dessas revistas com um oficial israelense cuja mulher adora a novela.

É esse oficial que se torna o, digamos, tutor do texto. Ou o primeiro tutor. Pois ao longo da comédia Salam terá de tourear os patrocinadores, os colegas, os atores, cada um trazendo a ele seus problemas, desejos ou caprichos.

Mas o problema maior, claro, é que o oficial israelense encaminha a novela para um lado que os palestinos não conseguem engolir. Então ele têm de tapear ora um lado, ora outro, enquanto ao mesmo tempo tenta seduzir Mariam, a bela médica palestina por quem é apaixonado.

Dada a proximidade com “Tiros na Broadway”, obviamente não se pode dizer que seja uma proposta muito original. Não é só a ideia geral que vem de lá, mas toda a estrutura do filme de Sameh Zoabi. Ao mesmo tempo, é essa influência tão presente que permite ao filme introduzir certo frescor na árida disputa entre palestinos e israelenses (além do jeito meio parvo do protagonista Salam, o por sinal bem talentoso Kais Nashif).

Algo, porém, é bastante revelador, pois é a partir da opção pela comédia é que nos damos conta de o quanto esses dois povos inimigos podem ser, paradoxalmente, muito próximos; possam se interessar pelas mesmas coisas, pelas mesmas guloseimas. E até pelas mesmas novelas.

Por aí, também, nos damos conta (a ser verdade o que está no filme) que mesmo nessa região tormentosa que é o Oriente Médio, o público no fundo está pouco se lixando para a trama de espionagem ou para saber se quem vai se dar bem no fim da ficção é um lado ou outro. Quer é saber da trama romântica.

Não será demais questionar esse frescor e leveza de “Tel Aviv em Chamas”, já que aplicados a um dos problemas mais espinhosos do tempo presente. Conhecemos essa leveza e esse frescor quando levados por Elia Suleiman, por exemplo. Suleiman trata com ironia, porém com amargor, da situação palestina. Já Sameh Zoabi a parece encarar como algo que faz parte da natureza das coisas –melhor rir do que chorar.

O que o salva da iniquidade, no entanto, é um belíssimo plano em que nosso herói, Salam, vaga desesperado e sem documentos ao lado daquele monumento monstruoso construído por Israel, que é o muro que separa os dois povos e parece existir para deixar claro aos palestinos que eles estão num grande presídio.

É um dos raros momentos em que “Tel Aviv em Chamas” nos lembra de que não há muito a festejar além do misto de alívio pessoal e êxito romântico-profissional que o simpático Salam, inadvertidamente e aos trancos e barrancos, persegue. É também possível pensar que, mesmo na sempre tensa situação do Oriente Médio, as pessoas querem, de tempos em tempos, fugir da árida realidade. Quem os reprovará?

Receba notícias da Folha

Cadastre-se e escolha quais newsletters gostaria de receber

Ativar newsletters

Relacionadas