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Cinema

'O Auto da Boa Mentira' tem humor titubeante que evita cancelamento

Filme tenta copiar sucesso da adaptação cinematográfica de 'O Auto da Compadecida', de Ariano Suassuna, e falha

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O AUTO DA BOA MENTIRA

Avaliação: Regular
  • Quando: estreia em 29 de abril
  • Onde: nos cinemas
  • Classificação: 12 anos
  • Elenco: Leandro Hassum, Nanda Costa, Renato Góes, Jesuita Barbosa e Cacá Ottoni
  • Produção: Brasil, 2021
  • Direção: José Eduardo Belmonte

“Eu tenho uma simpatia muito grande pelos mentirosos. Não gosto do mentiroso que mente para prejudicar os outros. Gosto do mentiroso que mente por amor à arte.” As declarações de Ariano Suassuna que aparecem no início de “O Auto da Boa Mentira” funcionam para isentar as histórias farsescas do filme de vínculos com as “fake news” e outras corrupções que nos infectam.

“Boa mentira”, em suassunês, é sinônimo de ficção ladina, não se opõe à verdade nem pretende substituir a evidência dos fatos. As observações e casos do dramaturgo e escritor alinhavam os quatro episódios do filme em torno de situações de engano, disfarce, farsa e simulação.

A ostentação do patrocínio de Suassuna é um recurso com que se tenta reproduzir o sucesso da adaptação para a TV e o cinema de “O Auto da Compadecida”.

Mas os tempos são outros, a presença do público nas salas de cinema é mais que duvidoso e o lançamento do filme, em meio ao caos de fome, desemprego e mais de 3.000 mortes por dia, deve servir apenas de mídia para sua exibição na TV.

Neste outro meio, o formato em episódios funcionará melhor, porque, na unidade de um filme, nem a boa costura das falas de Suassuna consegue dar fôlego a todas as histórias.

Na primeira, intitulada “Fama”, Leandro Hassum interpreta um tipo que se confunde com ele mesmo. A história de um cara sem graça que todo mundo acha que é um popular comediante introduz o jogo de enganos, de trocas ou de erros comuns aos episódios.

Hassum é isca de popularidade. Portanto, seu episódio é o primeiro. Mas a atuação burocrática dele é aniquilada pela entrada serpenteante de Nanda Costa em cena. O que sobra é a ironia em torno da imagem de Hassum, a indagação se, no fundo, ele não seria um falso humorista, um comediante sem graça.

O segundo episódio, “Vidente”, tem mais sotaque suassuniano graças ao universo do circo, lugar de fascinação e de ilusionismo, e ao contraste de ingenuidade com caricatura que Renato Góes dá ao protagonista.

A ideia de que mentira tem perna curta aparece em “Furão”. O terceiro episódio visita a favela e o tráfico, mundos que o cinema brasileiro costuma associar a dramas sociais e a filmes politizados. Mas o deslocamento para o registro do humor é titubeante, evita o escracho para não correr nenhum risco de cancelamento e, por isso, funciona pela metade.

“Disney”, episódio mais distante do universo original de Suassuna, conclui “O Auto da Boa Mentira” mostrando que o desequilíbrio entre as partes reflete os diversos talentos envolvidos no projeto.

Se Guel Arraes, na produção, e João Falcão, no roteiro, deixam suas marcas em diferentes episódios, a direção de José Eduardo Belmonte atualiza Suassuna, arrancando o autor dos limites do folclórico.

A visão ácida do vácuo contemporâneo, explícita nos primeiros longas de Belmonte, ressurge na história de uma estagiária que vira “falsiane” para ganhar visibilidade em uma festa de Natal da firma.

“Disney” não fica apenas na ilustração do elogio de Suassuna à mentira. Aqui, a farsa contradiz o falso, o fingimento da personagem desmascara a fajutice dos “fakes” e o epílogo transforma “O Auto da Boa Mentira” em filme verdadeiro.

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