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Cinema

'A Matéria Noturna' não é uma surpresa completa, mas tem originalidade

Novo longa de Bernard Lessa esconde o que ocorre de maneira sistemática para se fixar nas repercussões dos fatos

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A Matéria Noturna

Avaliação: Bom
  • Onde: Disponível no festival online Olhar de Cinema no domingo (10) e quinta (14)
  • Elenco: Shirlene Paixão, Welket Bungué e Altamir Furlane
  • Produção: Brasil, 2021
  • Direção: Bernard Lessa
  • Link: https://www.olhardecinema.com.br/

"A Matéria Noturna" quase obriga a falar de maneira pessoal, tanto o filme que chega do Espírito Santo parece conter um projeto singular e imprecisões que dificultam o entendimento desta ideia desconcertante, por vezes aparentemente incompleta, mas inegavelmente original de Bernard Lessa.

Ele surpreende logo de início, quando a jovem Jaiane, à noite, discute com a mãe ao telefone e afirma que está cansada do trabalho e vai para casa. Depois, Jaiane dorme na mesma cama de uma amiga; ao despertar, elas conversam num jardim, a amiga reclama de ressaca. Ambas decidem tomar café. As vemos caminhando na rua, a caminho da praia —mas não veremos a praia ou algo assim.

Existe uma certa insistência na desconexão que aponta para um modo de construção único. Não se trata de estabelecer uma sequência de acontecimentos à maneira tradicional, com uma discussão, seguida de conhecer o ambiente, o trabalho, a amiga e a decisão de sair para beber à noite.

Os momentos intrigantes se sucedem. Um amigo se aproxima de Jaiane numa festa e diz que não tem frequentado o terreiro —de umbanda ou de samba? Uma senhora se aproxima, diz que é filha de Iansã, e enfatiza o fato de ela carregar "uma energia pesada". Que diabo quer dizer isso? Não saberemos, porque nada do que vem em seguida aponta para "energia pesada".

Pelo contrário. Jaiane aparece cantando em uma roda de samba. É quando encontra Aissa, o marinheiro moçambicano que havia chegado ao Brasil e também tomado cervejas, e também ido à praia.

Aissa é levado à praia por um amigo —o mesmo que assinalou a ausência de Jaiane no terreiro. Entra na água. Plano do amigo tomando sol, deitado. Volta para Aissa, comentando o quanto esse mar lhe pareceu perigoso.

Nesse momento já temos certeza de que o filme não é assim por acaso: Bernard Lessa faz elipse do que é sistemático para se fixar nas repercussões dos fatos. É assim também no momento em que Jaiane é assaltada: não vemos o assalto, apenas sua bolsa com documentos espalhados e ela caminhando desnorteada.

Shirlene Paixão e Welket Bungué em cena do filme 'A Matéria Noturna', de Bernard Lessa - Divulgação

Assim, Lessa parece querer romper com a tradição de causa e efeito. O que em outras circunstâncias seria irritante aqui começa a se justificar. Coisas que podemos ver como pura perda de tempo aqui são aceitáveis.

Um romance acontecerá entre Jaiane e Aissa, em que chamam a atenção a duração das cenas amorosas. O que virá depois? Não importa: só que a vida é feita de momentos puramente casuais e não necessariamente consequentes.

Seria injusto não chamar a atenção para a beleza das imagens da praia e do porto de Vitória, e ao talento de Welket Bungué —Aissa— e ao que há de promissor na presença da bela Shirlene Paixão —Jaiane.

Se o filme não chega a encantar de todo, é possível que isso se deva a certa insegurança na condução de um projeto audaz o bastante para que se espere com ansiedade o próximo trabalho de Lessa.

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