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Não há razão alguma para ler o primeiro livro de Ottessa Moshfegh

'Meu Nome Era Eileen', sobre jovem que quer escapar de sua vida encardida, é leitura torturante e desnecessária

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Vivien Lando

Meu Nome Era Eileen

Avaliação: Regular
  • Preço: R$ 69,90 (272 págs.); R$ 44,90 (ebook)
  • Autor: Ottessa Moshfegh
  • Editora: Todavia
  • Tradução: Ana Ban

Há que se levar em conta a geografia. O país não lê, não gosta de ler e, se bobear, tem raiva de quem gosta. Daí a responsabilidade das editoras, tradutores, escritores e formadores de opinião, entre estes os resenhistas de livros, ser dobrada.

Não é no calor comercial das feiras de livros que deveria ser decidido o que pode estimular o brasileiro a dar valor a um livro —e sobretudo à literatura. Pois a primeira das artes, segundo classificação da Grécia Antiga, penetra nas veias da mente humana pelo mesmo canal que suas colegas, o do prazer, do deleite e da iluminação. Ler um livro para detestar a obra é reiterar a aversão generalizada.

Nesse sentido, "Meu Nome Era Eileen" é o avesso do avesso da tarefa de criar novos leitores ou, no melhor dos mundos, fazer alguém por aqui se apaixonar pela leitura.

Livro de estreia da americana Ottessa Moshfegh, atualmente com 40 anos, é uma espécie de catarse da autora. Filha de mãe croata e pai judeu iraniano, ela deve ter passado pelos sofrimentos atávicos da duas etnias desde a infância. E isso se entrevê a cada linha, dando uma sensação ininterrupta de desgosto ​

A escritora Ottessa Moshfegh, autora de 'Meu Nome Era Eileen' e 'Meu Ano de Descanso e Relaxamento', em sua casa em Los Angeles - Jessica Lehrman - 25.fev.2020/The New York Times

Sua protagonista e narradora é uma americana da Nova Inglaterra, órfã de mãe, com pai alcoólatra em casa e empregada num reformatório de meninos aos moldes da antiga Febem, Fundação do Bem-Estar do Menor. Muito estimulante!

Ela acaba se envolvendo com uma nova funcionária de funções obscuras, que a conduz a um quase crime. Nessa circunstância, encontra uma brecha e consegue fazer o que mais queria —sair da cidadezinha, como a chama, e escapar daquela vida encardida.

A história é contada muitos anos mais tarde, quando Eileen já tem outro nome e sobrenome e se honra com três refeições por dia.

A nós cabe encontrar uma brecha para ultrapassar o mais rapidamente possível —e se possível incólumes— uma leitura tão torturante e desnecessária.

A infelicidade e tragédias humanas só se justificam em Shakespeare, nos subterrâneos de Dostoiévski, na perplexidade de Camus. E outros. O resto é fake.

Não há nenhuma razão para se ler "Meu Nome Era Eileen".

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