'Sr. Bachmann e Seus Alunos' vê a educação para além dos boletins
Com uma câmera invisível, documentário acompanha professor que agrega imigrantes de diferentes origens em cidade alemã
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O dia ainda amanhece na cidadezinha alemã de Stadtallendorf quando os pré-adolescentes chegam à sala de aula de Dieter Bachmann. Com gorro colorido e uma camisa do AC/DC, o senhor Bachmann observa os alunos organizarem as mesas e cadeiras. A cena sugere que a ordem, o respeito e a hierarquia estão ali presentes.
Espalhados pela sala, há violões, guitarras e uma bateria. Aos poucos, os alunos ensaiam acordes. Fazem malabares com bolinhas de tênis. Falam sobre suas famílias, suas origens, sobre a noção de pertencimento.
Quando se tem 12 anos, uma parte considerável das decisões fundamentais da sua vida ainda são tomadas pelos pais. A sala de aula do senhor Bachmann recebe jovens da Bulgária, da Turquia, do Cazaquistão e da Itália que não escolheram estar ali. Mas, antes de tudo, precisam aprender o idioma alemão. Muitos chegaram tímidos, fechados como caracóis. O ambiente ordeiro e suave os abraça.
O senhor Bachmann possui a rara qualidade de saber ouvir, saber observar. Conversa com os alunos, recebe os responsáveis na escola, entende as dinâmicas familiares de cada um. Acima de tudo, cria um ambiente de respeito e diálogo entre diferentes pessoas, culturas, nacionalidades, religiões, sexualidades e desejos.
Mas não há condescendência. Os alunos não vão bem nas notas, o professor é rígido e não faz concessões. Num papo franco com os alunos, Bachmann ressalta que a evolução de cada um é mais importante do que os boletins.
A câmera invisível da diretora Maria Speth registra todos esses momentos no melhor estilo do cinema direto. As cenas são montadas de forma cronológica, abrindo espaço para a complexidade das situações sem deixar cair a frequência dramática. Mesmo com mais de três horas e meia de duração, a atmosfera de "Sr. Bachmann e Seus Alunos" causa a sensação de querer mais.
É possível comparar o estilo de Maria Speth com o cinema direto de Frederick Wiseman. Mas é impossível comparar as aulas de senhor Bachmann com o ambiente doutrinário e padronizado captado por Wiseman no clássico "High School", de 1968, que mostra a rotina na escola secundária Northeast, na Filadélfia.
Lá pelo meio do filme, numa conversa com um amigo, senhor Bachmann explica a diferença. Depois de lembrar que foi mau aluno porque via "a escola como instituição que aliena desde o início", o professor faz a sua reflexão, dizendo que "qualquer aprendizado é sobre encontrar o seu próprio caminho".
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