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Filme 'Seguindo Todos os Protocolos' une sexo e Covid com visão satírica

Longa de Fábio Leal traz pulsão de vida sem esquecer a tragédia das mortes e da depressão no isolamento

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Seguindo Todos os Protocolos

Avaliação: Ótimo
  • Onde: Em cartaz nos cinemas
  • Classificação: 16 anos
  • Elenco: Fábio Leal, Paulo Cesar Freire, Marcus Curvelo
  • Produção: Brasil, 2022
  • Direção: Fábio Leal

A pandemia ainda não acabou. Mas já temos alguma distância para ver com certa incredulidade —ou até achar divertida— nossa desorientação diante da Covid-19. Rir, mesmo que de nervoso, das nossas estabanadas práticas preventivas iniciais de higiene diante das pessoas ou mesmo das compras no "novo normal".

"Seguindo Todos os Protocolos", do pernambucano Fábio Leal, destaca o período do ápice do medo do vírus, com vacinas ainda raras, quando as pessoas não sabiam quanto tempo duraria o inferno.

Fábio Leal e Paulo César Freire em cena do filme 'Seguindo Todos os Protocolos', dirigido por Fábio Leal - Divulgação

Ao zelo na hora de desinfetar itens de supermercado se somava o pânico de sair de casa e de a máscara não estar apertada o suficiente. Sem contar a ânsia de não enlouquecer sozinho em casa.

Várias dessas práticas aparecem no filme, extraindo do espectador reações distintas e simultâneas. De um lado, tudo nos parece familiar. De outro, o filme de Leal se impõe como uma narrativa de modo matreiramente equilibrado, tanto risível como asfixiante.

Há algo que nos faz ter a impressão de que não estamos diante de algo que ocorreu meses atrás. Parece antes uma distopia cômica, cínica e improvável, elaborada por um cineasta de ideias perversamente inventivas.

O filme mostra Chico, um rapaz de classe média, que mora sozinho em seu apartamento e que está em desespero por falta de sexo durante o isolamento. Ele tenta resolver isso de maneira segura —primeiro, pela pornografia; depois, por um relacionamento virtual. No entanto, não são a mesma coisa que o contato corporal.

Ele decide pesquisar formas seguras de ter um orgasmo na presença de alguém e segue mesmo "todos os protocolos". Primeiro, com um ex-amante, que na pandemia se proletarizou e teve de virar entregador de comida. E depois, com um médico, categoria profissional que, aos olhos de Chico, tende a se prevenir melhor contra o coronavírus.

Chico é pragmático —rejeita até o elogio exagerado de um parceiro, na empolgação pós-coito. Mas há um certo espírito fantasista no personagem (sobretudo no final), e sua compulsão por não se contaminar revela que ele traz em si uma "pulsão de vida" talvez ainda mais obsessiva.

Poderia ser um personagem um bocado chato, em seu rigor consigo e com os outros, mas a forma como Leal converte tudo isso em humor o redime e o aproxima do espectador.

O ponto alto do filme é a cena de sexo entre Chico e o entregador, que começa hilária, pelo exagero de medidas preventivas, mas que depois ganha uma textura erótica, com cortinas e máscaras impedindo o toque direto corpo a corpo —intensificando o desejo.

Os atores contribuem para o êxito do longa. O também cineasta Marcus Curvelo, que dá vida ao amante virtual de Chico, talvez exagere um pouco na gaiatice, mas é graças a esse contraponto que suas cenas são tão engraçadas. Paulo César Freire, por sua vez, tem uma saudável contenção e um suave romantismo como o entregador. E, na pele do médico cafajeste, Lucas Drummond atinge todas as nuances —e, quando ele tira a máscara, mostra que tem o sorriso mais fotogênico a surgir no cinema nacional desde que Bárbara Colen nos apresentou ao dela, em "Aquarius".

Mas o destaque é o próprio Leal. Na pele do hipocondríaco Chico, ele aproveita a própria corpulência e o timing cômico para elevar o potencial de cada cena —extrapolando a pandemia, já que sua visão satírica para questões identitárias evoca ousadia e sarcasmo. Mostra o corpo sem pudor, num misto de narcisismo e posição política, apresentando uma fisicalidade não normativa como merecedora de prazer.

Leal fala da solidão, da internet como salvação, sobre visões distintas sobre seguir regras. Também trata do medo do futuro, do subemprego na crise pandêmica. E, é claro, da tragédia das mortes no país, com o noticiário despejando a indiferença presidencial diante de todo o caos. Em pouco mais de uma hora, o filme consegue ser o mais completo feito até agora sobre a pandemia.

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