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Atrizes se inspiram em Dilma Rousseff para narrar duelo entre rainhas em peça

Virgínia Cavendish e Ana Cecília Costa estrelam 'Mary Stuart', sobre encontro fictício entre a personagem-título e Elizabeth 1ª

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São Paulo

O impeachment de Dilma Rousseff é o fantasma que ronda "Mary Stuart", a montagem brasileira do clássico de 1800 do alemão Friedrich Schiller sobre as monarcas do século 16, que ganha encenação com base na versão do britânico Robert Icke, de 2017.

O nome da petista surgiu quando as atrizes Virgínia Cavendish e Ana Cecília Costa compreenderam que não havia sinais de que a rivalidade entre Mary Stuart e Elizabeth 1ª tivesse sido incentivada ou desejada por qualquer uma das monarcas.

"Apesar de serem rainhas, elas são manipuladas pelos homens o tempo inteiro. Quem matou a Stuart não foi a Elizabeth, foram os homens e as regras criadas por eles desde sempre", afirma Cavendish, que dá vida à personagem-título. Idealizadora do projeto, a atriz arregimentou nomes como os do diretor Nelson Baskerville e de Costa, que dá vida a Elizabeth 1ª, para a produção que estreia nesta sexta-feira em São Paulo.

As atrizes Virgínia Cavendish e Ana Cecília Costa em cena em 'Mary Stuart' - Priscila Prade

Primas, Stuart e Elizabeth entraram em guerra quando a primeira se tornou uma espécie de mártir do catolicismo contra o avanço do protestantismo representado pela segunda. A dupla então protagonizou o que seria o viés político da guerra santa.

"Essa mistura, esse uso político da religião, é tudo muito contemporâneo. Há uma manipulação da religião pela política e vice-versa, é lamentável", afirma Costa que, desde que passou a se dedicar a dar vida à monarca inglesa, viu paralelos entre a história política dela e a da ex-presidente.

"Uma mulher no centro do poder incomoda. Só me vinha a imagem de Dilma cercada por aquela corja na Câmara. Me lembrei muito da imagem dela tomando posse sem a figura de um homem ao lado, e a própria Elizabeth faz parecido quando escolhe não se casar. É revolucionário. E ela escolhe não se casar porque não quer, em última instância, ser dominada por um homem, ela quer manter o total controle do poder e de sua vida."

Na obra, Elizabeth precisa decidir o destino de Mary Stuart, aprisionada por quase duas décadas sob acusação do crime de alta traição. Pressionada pelo Parlamento e pela opinião pública, a monarca inglesa aceita se encontrar com sua rival escocesa para decidir se mostrará misericórdia ou a mandará para a forca.

"É impossível dissociar qualquer obra que a gente faça com o momento que vivemos. Até quando você não quer associar, como você está tão imbuído, tão infectado, é impossível que a obra não transmita isso", afirma Baskerville. Segundo ele, o espetáculo traz uma potência para retratar temas que vão da religião ao armamentismo.

"Fomos empurrando com a barriga nossos problemas com a intolerância religiosa, e ela está toda aí. Mary Stuart só é presa porque é católica e os católicos querem o fim do protestantismo, e vice-versa. Eu quis construir um mundo no qual se saca uma arma com muita facilidade. Se ponho uma espada e atores duelando, você pensa na nostalgia, não na violência. Agora, quando ponho uma arma, uma faca, a plateia pensa no motivo de haver tantas armas. E quando sai na rua entende", afirma.



A violência ganha um viés político quando Elizabeth e Stuart pensam em deixar seus reinados, não por desejo próprio, mas por não conseguirem lidar com as prisões que o poder impõe. "Abrimos um portal de bestialidade e vivemos um tempo de violência simbólica voltado à figura da mulher e a tudo o que ela representa", diz Costa.

"Quando um homem tem um posto de comando, é diferente. O que aconteceu com Dilma foi emblemático, não só na retórica. Eu lembro de capas de revista sempre a tachando de desequilibrada, e Elizabeth sempre dizia ter apenas o corpo feminino, mas que o estômago e a mente eram de um rei. E de um rei da Inglaterra", continua.

"Dilma é referência nessa história, e isso me revolta até hoje. Foram esses homens que a tiraram do poder. Esses mesmos homens que decapitaram a Mary Stuart são os que fizeram com que Elizabeth estivesse em suas mãos. Stuart só foi decapitada porque deu vazão a seus desejos, amou, trocou de homem e, por isso, mereceu a morte. Elizabeth segurou as rédeas do seu desejo e, por isso, ficou no poder. Ela tinha uma inteligência política, mas uma só existe por causa da outra", afirma Cavendish.

Mary Stuart

Avaliação:
  • Quando: 19 de agosto a 27 de novembro (quinta-feira a domingo)
  • Onde: Centro Cultural FIESP - Teatro do Sesi
  • Preço: Grátis
  • Classificação: 14 Anos
  • Elenco: Virginia Cavendish, Ana Cecília Costa, Chris Couto, Genézio de Barros, César Mello, Fernando Pavão, Joelson Medeiros, Iuri Saraiva, Fernando Vitor, Alef Barros, Letícia Calvosa
  • Direção: Nelson Baskerville
  • Horário: 20h e 19h
  • Acessibilidade
    • Acessibilidade Arquitetônica

      Há acesso e circulação sem barreiras físicas, sanitário adequado e local reservado para cadeirantes com acompanhante

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