Siga a folha

Descrição de chapéu Livros

De assassinato de tradutores a queima de livros, por que Irã persegue Salman Rushdie

Além do autor, tradutores de 'Os Versos Satânicos' já sofreram atentados, que envolvem esfaqueamentos e tiros

Assinantes podem enviar 5 artigos por dia com acesso livre

ASSINE ou FAÇA LOGIN

Continue lendo com acesso ilimitado.
Aproveite esta oferta especial:

Oferta Exclusiva

6 meses por R$ 1,90/mês

SOMENTE ESSA SEMANA

ASSINE A FOLHA

Cancele quando quiser

Notícias no momento em que acontecem, newsletters exclusivas e mais de 200 colunas e blogs.
Apoie o jornalismo profissional.

São Paulo

Esfaqueado nesta sexta-feira quando se preparava para dar uma palestra numa organização beneficente em Chautauqua, cidade no oeste do estado de Nova York, o escritor anglo-indiano Salman Rushdie é perseguido e ameaçado há décadas por autoridades iranianas. Mais precisamente, desde 1988, ano em que ele publicou "Os Versos Satânicos" —o livro, que ficcionaliza a vida do profeta Maomé, foi considerado ofensivo à fé islâmica.

Segundo a polícia nova-iorquina, o suspeito de atacar o escritor foi detido e ainda não há detalhes sobre sua identidade ou motivações.

O escritor Salman Rushdie é socorrido após ser esfaqueado antes de evento em que discursaria na Instituição Chautauqua, no estado americano de Nova York - Charles Savenor/Local News X/TMX/via Reuters+

Não se descarta, porém, a possibilidade de que o atentado tenha sido motivado por "Os Versos Satânicos". Isso porque várias pessoas associadas ao romance já foram vítimas de ataques.

Queimada em praça pública em vários países islâmicos, a obra fez com que seu autor, editores e tradutores recebessem uma sentença de morte em 1989. Na época, o aiatolá Khomeini, dirigente do Irã, ofereceu US$ 2 milhões como recompensa a quem os matasse.

Diante das ameaças, Rushdie passou a viver recluso sob a proteção da polícia britânica. Pouco depois da mudança para o país, ele chegou a receber um livro-bomba num hotel em Londres. A bomba acabou explodindo antes do planejado, matando o próprio autor do atentado, que foi sepultado como "o primeiro mártir a morrer em uma missão para matar Salman Rushdie".

Em 1991, Hitoshi Igarashi, tradutor do livro no Japão, foi assassinado a facadas. Dias depois, o tradutor italiano Ettore Caprioli foi ferido, também com uma faca.

Dois anos depois, o editor turco Aziz Nesin, que havia publicado extratos do livro num jornal, foi atacado por extremistas islâmicos, que o encurralaram num hotel e incendiaram o prédio. O fogo matou 37 pessoas, mas Nesin sobreviveu.

Ainda em 1993, o tradutor do livro para o norueguês, William Nygaar, foi baleado com três tiros e ficou gravemente ferido.

Nunca foi provado o envolvimento do Irã nas ações. Em 1995, Rushdie faz sua primeira aparição pública, em Londres, desde a fatwa —um decreto religioso, no caso, a que ordenou a morte de Rushdie por blasfêmia a Maomé. Na época se estimou que o governo britânico já teria gasto mais de US$ 7,5 milhões para proteger o escritor.

Apesar de oficialmente a fatwa ter sido encerrada em 1998, pelo ex-presidente iraniano Mohammad Khatami, na prática, a perseguição a Rushdie nunca parou.

Mulheres iranianas seguram cartazes que pedem morte ao escritor Salman Rushdie - Nobert Schiller/AFP

No Brasil, "Os Versos Satânicos" foi publicado pela primeira vez em 1998 pela Companhia das Letras, editora que segue com os direitos da obra. Na época, a casa afirmou que não recebeu nenhuma ameaça decorrente da oposição de líderes islâmicos à edição da obra e que nenhuma livraria se recusou a vender o livro.

Receba notícias da Folha

Cadastre-se e escolha quais newsletters gostaria de receber

Ativar newsletters

Relacionadas