Jô Soares, morto nesta sexta-feira, aos 84 anos, em São Paulo, não se furtava de discutir assunto nenhum, inclusive política e o governo de Jair Bolsonaro, a quem endereçou cartas abertas com críticas publicadas nas páginas deste jornal.

Suas discordâncias precedem a chegada de Bolsonaro ao Planalto. Em 2007, quando o presidente era deputado federal, Jô Soares o entrevistou no extingo Programa do Jô, na TV Globo, e criticou os posicionamentos de Bolsonaro sobre assuntos como tortura, pena de morte e censura.

Leia abaixo os principais trechos da conversa de Jô Soares com Bolsonaro.

Tortura

"Você fala muito em Cuba, mas os torturadores vieram dos Estados Unidos dar curso de tortura aqui. Aí vai ficar uma discussão que não interessa."

"Você se dá conta, deputado, do perigo do que você está dizendo? A justificativa da tortura sob qualquer condição, perde-se o critério dela. Amanhã o sujeito que torturou para saber da cocaína vai torturar para saber do endereço."

Pena de morte

"A pena de morte nunca resolveu nada em lugar nenhum do mundo." "Eu nunca vi ninguém deixar de executar alguém pelo fato de correr o risco de ser condenado. O assassino vai e mata. Em algum lugar que tem pena de morte ou teve ou deixou de ter alterou em alguma coisa o índice de criminalidade? E outra coisa, você falou de pena de morte no Brasil, quem vai ser o carrasco, você?"

Censura

"Bolsonaro, você acha então que uma censura quando é feita por um regime de ditadura militar de direita vale e, quando é feita pelo outro lado, não vale? Nenhuma das duas é certa. As duas são erradas. Se querem impor um silêncio à imprensa, claro que é errado."

Democracia

"Se você é eleito deputado, você tem que participar do jogo democrático, certo? Como é que um deputado pede o fechamento do Congresso? É saudades?"

"Peraí, dá licença, você fala de fidelidade partidária porque você já passou pelo PDC, PPL, PPB, PTB, PFL e foi e voltou ao PP. Por isso você é contra a fidelidade partidária."