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Jorge Furtado cria livro com frescor de 'Ilha do Tesouro' e ar de cinema

'As Aventuras de Lucas Camacho Fernandez', sobre tradutor de Shakespeare, peca por andamento veloz e gracejos fáceis

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Luís Augusto Fischer

Professor de literatura na Universidade Federal do Rio Grande do Sul e autor de 'A Ideologia Modernista', da Todavia

As Aventuras de Lucas Camacho Fernandez

Avaliação: Bom
  • Preço: R$ 64,90 (184 págs.); R$ 39,90 (ebook)
  • Autoria: Jorge Furtado
  • Editora: Companhia das Letras

Que os romances de aventura marítima nasceram no século 19 e a ele pertencem, parece uma verdade simples; trazer algo de sua energia como força ainda válida para este início do século 21 é a inocente crença de Jorge Furtado, ao contar a história de Lucas Camacho Fernandez.

O cineasta Jorge Furtado, que lança romance de aventura - Paulo Belote/Globo

("Que um indivíduo queira despertar em outro indivíduo lembranças que não pertenceram senão a um terceiro é um paradoxo evidente. Executar com despreocupação esse paradoxo é a inocente vontade de toda biografia." É a frase original de Jorge Luis Borges, na abertura de seu ensaio biográfico sobre Evaristo Carriego, aqui parodiada.)

A lembrança ocorreu a este leitor ao experimentar a paradoxal sensação de reviver inocentes leituras juvenis de "A Ilha do Tesouro" ou de "O Conde de Monte Cristo", vibrando com piratas e mares revoltos, numa trama de reviravoltas, revelações, heroísmo e senso de justiça, como nos romances de Stevenson e Dumas, e por outro lado de perceber a elementar evidência de estarmos neste 2022 e de o livro lidar com um tema atual como a violência da escravidão, ora em (justíssima) alta no panorama mental brasileiro.

Tendo ao centro o Lucas do título, o primeiro tradutor de Shakespeare ao português (ainda antes da morte do bardo), a narrativa constrói um percurso borgeano que brinca com elementos reais do passado —como o corsário Francis Drake— e do presente —o conhecimento detalhado sobre as torturas a que eram submetidos os escravizados no Brasil— em um enredo inventivo.

Bem distante do asséptico Borges estão os momentos de sexo, amor e paixão da trama, funcionando como núcleos dramáticos do enredo, desde a vida da mãe de Lucas, uma africana de origem socialmente alta que foi escravizada à força mas acabou vivendo uma vida serena em Londres, como amante de Drake e como eventual namorada do jovem Shakespeare, até uma relação historicamente improvável, embora convincente no relato, vivida pelo londrino Lucas no Brasil.

No conjunto, o livro traz certa precariedade narrativa por seu andamento veloz, quase uma sinopse estendida (a história sugere filmagem o tempo todo, não fosse o autor um consagrado diretor de cinema e televisão), ao lado de algumas imprecisões (na cena inicial, um inglês sabe reconhecer o sexo de elefantes, mas os nativos da região não sabem, por exemplo).

No mesmo prato negativo da balança pesa certa intenção de fazer graça fácil, como a invenção das batatas fritas por Shakespeare.

Mas no outro prato pesam valores importantes, como o desembaraço da criação ao mover-se numa trama remota no tempo e no espaço e a mesma velocidade dos fatos, os quais, se não oferecem meios e vagar para os personagens desdobrarem sua subjetividade em bom nível, evocam com frescor aquelas aventuras, aquele heroísmo, aquele universo de valores nítidos há tanto tempo perdido.

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