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Lilia Schwarcz toma posse na ABL e saúda sua abertura a 'populações minorizadas'

Historiadora que venceu prêmios Jabuti e fundou a Companhia das Letras se torna a 11ª mulher com título de imortal

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Rio de Janeiro

Diante de uma Academia Brasileira de Letras lotada, com discursos marcados pela pauta antirracista, a historiadora Lilia Schwarcz, de 66 anos, tomou posse como imortal.

A historiadora Lilia Schwarcz entre imortais em sua posse na Academia Brasileira de Letras - Folhapress

A cerimônia na noite desta sexta-feira na sede da ABL, no centro do Rio de Janeiro, teve presença da ministra Carmen Lúcia, do Supremo Tribunal Federal, do ministro Silvio Almeida, da pasta de Direitos Humanos, e do presidente do BNDES, Aloizio Mercadante, além de novos colegas acadêmicos de Schwarcz, como a atriz Fernanda Montenegro, o compositor Gilberto Gil e os escritores Ailton Krenak e Ruy Castro, colunistas desta Folha.

A imortal Rosiska Darcy de Oliveira, responsável por apresentar a nova acadêmica, disse que Schwarcz é "herdeira da linhagem dos grandes historiadores". "Essa paulistana de pele branca é uma intelectual presente na luta antirracista", disse a madrinha da posse. O colar, parte do rito, foi entregue a Schwarcz pelo ex-chanceler Celso Lafer.

Em seu discurso, Schwarcz reverenciou seus antecessores e comentou as desigualdades de gênero e raça no Brasil, a última ilustrada com as tentativas frustradas de Lima Barreto, de quem escreveu a biografia "Triste Visionário", de entrar na ABL.

"Lima Barreto tentou três vezes entrar na Academia e desistiu. Depois, dois de seus biógrafos, Francisco de Assis Barbosa e eu mesma, aqui estamos. Penso que não será coincidência, tampouco, sermos brancos. Em mais cem anos de República não conseguimos modificar as desigualdades que interseccionam."

Schwarcz ocupa a cadeira número 9, que era do diplomata e historiador Alberto da Costa e Silva, a quem a autora chama de "um segundo pai". Costa e Silva morreu em novembro de 2023, aos 92 anos.

"É uma amizade de mais de 30 anos. Uma amizade feita com projetos, reuniões, telefonemas semanais, viagens. O Alberto é uma grande influência afetiva. Eu perdi meu pai muito jovem, não nego que Alberto ocupou um lugar. Ele me chamava de filha", disse Schwarcz à Folha.

"Ele era também uma influência intelectual tremenda, sobretudo nessa defesa incansável de populações que ficaram tanto tempo sem os direitos mais básicos da República. Alberto sempre denunciou o racismo."

O historiador e poeta Alberto da Costa e Silva, que morreu no ano passado - Folhapress

Pesquisadora e professora, Schwarcz foi escolhida em março por 24 dos 38 acadêmicos aptos a participar de sua eleição e se tornou apenas a 11ª mulher a integrar a organização desde que foi fundada, em 1897. A primeira foi Rachel de Queiroz em 1976.

Hoje, cinco mulheres —Schwarcz, Oliveira, Montenegro, Ana Maria Machado e Heloisa Teixeira— e 35 homens integram a Academia.

"As instituições públicas e privadas têm o papel de encampar lutas da sociedade brasileira. Uma luta muito forte é pela diferença. Entro na ABL no momento em que a Academia dá vários sinais de abertura para as populações negras que são maioria, mas minorizadas na representação, abertura para a população LGBTQIA+, para indígenas, para mulheres", afirmou a historiadora.

Schwarcz venceu diversas vezes o prêmio Jabuti, a última delas no ano passado, pelo juvenil 'Óculos de Cor'. Ela prepara outra reflexão sobre questões raciais para agosto, com "Imagens da Branquitude".

É ainda autora de livros como a biografia "As Barbas do Imperador", o "Dicionário da Escravidão e da Liberdade", com Flávio dos Santos Gomes, e "Brasil: Uma Biografia", com Heloisa Starling, além de ser uma das fundadoras da editora Companhia das Letras ao lado do marido, Luiz Schwarcz.

A Academia tem recebido mais holofotes nos últimos anos, adicionando nomes mais populares a suas cadeiras e atendendo à pressão popular para que o espaço seja ocupado por vozes mais diversas.

Em 2018, a escritora negra Conceição Evaristo foi candidata com uma campanha nas redes sociais a seu favor, mas a Academia escolheu o cineasta branco Cacá Diegues. Presente na posse desta sexta, Evaristo foi saudada por convidados e imortais.

"Pode ser um sinal", diz a escritora ao jornal sobre os cumprimentos. "Não temos o poder de interpretar, mas pode ser um bom sinal. Certas temáticas antes eram quase tabus, mas os espaços como a ABL precisam discutir, apresentar novas propostas, ou ficarão para trás."

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