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Lilia Schwarcz é eleita para a ABL e se torna 11ª mulher a ganhar título de imortal

Historiadora ocupará cadeira que foi de Alberto da Costa e Silva, um dos maiores especialistas em cultura africana do país

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São Paulo

A historiadora e antropóloga Lilia Moritz Schwarcz, 66, foi eleita nesta quinta-feira (7) para a cadeira número nove da Academia Brasileira de Letras, a ABL. Escolhida por 24 dos 38 acadêmicos aptos a participar da votação, ela é a 11ª mulher a integrar a organização desde a sua fundação, 127 anos atrás.

A vaga havia sido aberta em dezembro passado, quando morreu, aos 92 anos, o também historiador Alberto da Costa e Silva, um dos maiores especialistas em cultura africana do país.

A historiadora e antropóloga Lilia Schwarcz participa de mesa com o escritor moçambicano Mia Couto na inauguração da Feira do Livro, no Pacaembu, em São Paulo, em 2022 - Ronny Santos - 8.jun.22/Folhapress

O fato de a cadeira ter pertencido a ele foi um dos fatores que levou Schwarcz a se candidatar em primeiro lugar. Em entrevista à Folha após a votação, ela afirmou que esta foi a maneira que encontrou para "honrar seu pai intelectual", que como ela se dedicou a pensar a desigualdade racial no país. "Se eu puder, quero seguir os passos dele."

Costa e Silva, que ainda atuou como diplomata, deixou como legado estudos como "A Enxada e a Lança: a África Antes dos Portugueses", de 1992, e "A Manilha e o Libambo: a África e a Escravidão, de 1500 a 1700", de 2002.

Já Schwarcz venceu pelo menos cinco vezes o Jabuti e é autora de livros como "As Barbas do Imperador", "Lima Barreto - Triste Visionário", "Dicionário da Escravidão e da Liberdade", com Flávio dos Santos Gomes, e "Brasil: Uma Biografia", com Heloisa Starling, além de ser uma das fundadoras da editora Companhia das Letras.

Há uma tradição na ABL de preencher cadeiras vagas com nomes cujo perfil sejam de alguma maneira similares aos de seus antecessores. O alinhamento de interesses entre Costa e Silva e Schwarcz foi destacado pelo atual presidente da academia, o jornalista Merval Pereira, após a divulgação do resultado da votação.

"A ABL perdeu dois grandes historiadores recentemente e está trazendo uma grande historiadora para suprir esta lacuna", disse ele, referindo-se a José Murilo de Carvalho, morto em 2023, em comentário reproduzido pela instituição em nota. "Não é uma vaga de historiador —não temos aqui vagas para historiadores. Mas é importante manter a tradição."

Disputaram a cadeira com a pesquisadora outros seis escritores: Antônio Hélio da Silva, Chirles Oliveira Santos e J. M. Monteirás, Edgard Telles Ribeiro, Martinho Ramalho de Melo e Ney Suassuna. Desses, o que tinha mais chances era Telles Ribeiro, diplomata aposentado e autor de 14 livros, entre romances, antologias de contos e outros. Ele recebeu 12 votos.

A eleição de Schwarcz, ocorrida na véspera do Dia Internacional da Mulher, é também uma resposta a uma demanda cada vez mais premente na ABL, de uma maior representatividade feminina.

A instituição fundada em 1897 por Machado de Assis previa até pelo menos os anos 1970 que apenas "brasileiros", no masculino, podiam se candidatar a suas 40 vagas, e só foi aceitar uma mulher entre seus membros em 1977, quando a escritora Rachel de Queiroz foi eleita.

Desde 2000, a eleição de mulheres tem sido mais frequente, ainda que sua presença na instituição seja irrisória em relação a de homens. Hoje, quatro mulheres —Rosiska Darcy de Oliveira, Ana Maria Machado, Fernanda Montenegro e Heloisa Teixeira— integram a academia, ante 35 homens.

Schwarcz será a quinta. À reportagem, ela disse querer não só fazer jus às imortais que a precederam como lutar pela causa feminista na academia sob um viés interseccional, que considera opressões de gênero, raça, classe e sexualidade.

A historiadora terá de conciliar os famosos chás dos imortais com uma agenda cheia, contudo. Além de ter escrito mais de 30 livros, Schwarcz é professora sênior do Departamento de Antropologia da Universidade de São Paulo, a USP, é professora convidada na Universidade de Princeton, nos Estados Unidos, e é membro do Conselho Consultivo do Patrimônio Cultural, do Iphan, e do Conselho de Desenvolvimento Econômico Social Sustentável da República.

Erramos: o texto foi alterado

Versão anterior do texto afirmava que a primeira mulher eleita para Academia Brasileira de Letras (ABL) foi ​​Dinah Silveira de Queiroz em 1976. Queiroz foi eleita em 1980; a pioneira foi Rachel de Queiroz, em 1977.

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