'Americanah' é parte da safra de livros nigerianos que narram diáspora
Obra de Chimamanda Ngozi Adichie será discutida no Clube de Leitura Folha deste mês
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[RESUMO] O próximo encontro do Clube de Leitura Folha, na terça (31), às 19h, discutirá o livro "Americanah", de Chimamanda Ngozi Adichie. O evento será na Livraria da Vila do Jardim Paulista (Alameda Lorena, 1731) e tem entrada gratuita. No texto a seguir, Divanize Carbonieri, professora de literaturas de língua inglesa na Universidade Federal de Mato Grosso, analisa o livro.
“Americanah” é o romance mais recente de Chimamanda Ngozi Adichie, que nasceu na Nigéria em 1977 e vive atualmente nos Estados Unidos. Assim como Ben Okri e Chris Abani, ela faz parte de uma nova geração de autores nigerianos situados na diáspora, escrevendo narrativas que retratam a vida de seus conterrâneos em vários locais do mundo.
Narrado em terceira pessoa, o livro se centra na história de Ifemelu e, em menor grau, na de seu namorado de juventude, Obinze. Logo no início da trama, a protagonista, que vive nos Estados Unidos há 15 anos, tendo se tornado blogueira de sucesso, vai a um salão de estética afro para trançar seus cabelos.
Em seguida, é possível acompanhar os passos de Obinze, um bem-sucedido homem de negócios em Lagos, indo com a mulher e a filha a uma festa na casa de um homem poderoso.
A partir daí, a narrativa se dá numa série de flashbacks, mostrando a vida do jovem casal na Nigéria dos anos 90. Ambos se conheceram quando ainda estavam no ensino médio e ingressaram juntos na universidade em Nsukka. Nesse momento, o país vive sob um regime militar ditatorial. Há greves estudantis, altas taxas de desemprego e apagões de energia elétrica. Sem perspectivas, os jovens de classe média buscam vistos para estudar em academias americanas ou europeias.
Ifemelu tem a vantagem de já ter uma tia morando nos Estados Unidos: Uju, formada em medicina, deixara o país depois da morte do general que a sustentava. Na figura dessa parente, percebe-se que até mesmo aos estudantes mais brilhantes, principalmente às moças, restavam poucas alternativas na Nigéria daquele período. Em busca de um destino diferente, a protagonista do livro consegue ser aceita numa universidade americana e obtém o tão sonhado visto.
No entanto, ela logo percebe que a vida em solo americano não é nenhum paraíso. A procura por um emprego se revela difícil e até traumática, fazendo com que interrompa o contato com Obinze, que ficara em Nsukka.
Na verdade, a vivência americana de Ifemelu torna palpável toda a reflexão a respeito da questão racial, que é o cerne da investigação realizada por Adichie nesse romance. Ela tem, pela primeira vez em sua vida, a percepção de ser negra, alguém que faz parte de uma minoria racial.
Em contrapartida, é nos Estados Unidos que passa a aceitar melhor seu cabelo afro, deixando de alisá-lo com produtos químicos. Em seu blog, ela escreve sobre as diferenças entre negros americanos e não americanos e as diversas formas de racismo.
Na última parte do romance, Ifemelu volta a viver em Lagos, onde reencontra Obinze, que anos antes também tivera uma experiência ruim como imigrante na Inglaterra.
O grande mérito de Adichie talvez seja retratar uma Nigéria contemporânea, apresentando ainda problemas estruturais, mas aparentemente mais próspera que a dos anos 90. O leitor acostumado com visões mais negativas poderá se surpreender com essa África possível, em que jovens retornados estão dispostos a construir um novo futuro.
Divanize Carbonieri é professora de literaturas de língua inglesa na Universidade Federal de Mato Grosso.
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