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O auxílio emergencial salvou vidas e o PIB em 2020, escreve Nelson Marconi

Mesmo que benefício retorne neste ano, ele não será capaz de estimular uma recuperação consistente sozinho

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Nelson Marconi

Professor da Escola de Administração de Empresas de São Paulo (Eaesp-FGV), foi pesquisador visitante na Kennedy School, em Harvard, e coordenador do programa de governo do candidato à Presidência da República Ciro Gomes em 2018

O PIB (Produto Interno Bruto) brasileiro caiu 4,1% em 2020, queda praticamente semelhante à observada em 1990, ano do Plano Collor, o último grande baque que sofremos. Os serviços que dependem de interação e mobilidade sofreram muito com a pandemia, como era esperado, bem como a construção, esta por absoluta falta de investimentos públicos. São setores que geram muitos postos de trabalho e contribuíram decisivamente para aumentar o desemprego.

O consumo das famílias despencou e o auxílio emergencial salvou o comércio e o PIB de uma queda maior em 2020. Para termos ideia de seu impacto favorável, os dados demonstram que a massa salarial mensal (total de rendimentos do trabalho pagos na economia) caiu 20% (aproximadamente R$ 50 bilhões) entre fevereiro e maio do ano passado, enquanto o pagamento do auxílio atingiu a cifra de R$ 42 bilhões mensais, em média, durante abril e agosto, de modo a praticamente compensar a queda dos rendimentos do trabalho neste período.

Não é à toa que os destaques positivos da indústria no ano passado foram a produção de alimentos, farmacêuticos e material de limpeza, itens que eram ou se tornaram essenciais a todos, cujo aumento no consumo foi propiciado pelo auxílio.

A partir de setembro a despesa com o auxílio foi reduzida pela metade, e em janeiro praticamente zerada, como sabemos. Por sua vez, a massa salarial de dezembro, mesmo incluindo 13º salário e gratificações de Natal, foi 15% inferior à de fevereiro de 2020, último mês sem efeitos da pandemia. Portanto, sem a compensação na renda gerada pelo auxílio, a modesta melhoria observada no último trimestre de 2020 se tornou efêmera, e não é de se estranhar a queda do nível de atividade observada nos dois primeiros meses de 2021. O retorno do auxílio é essencial para salvar vidas, principalmente, mas também para evitar que a tênue economia brasileira afunde ainda mais.

Mas, apesar de urgente, o auxílio não conseguirá, isoladamente, estimular uma recuperação consistente da economia. A negação, aparentemente proposital, do governo em enfrentar a pandemia e adotar as políticas públicas necessárias engrossará o caldo da tragédia que se avizinha.
E, olhando para a estrutura de nossa economia, um país que possui uma pauta de exportações composta em 57% por bens primários e somente 29% por manufaturados –situação inédita desde, respectivamente, 1977 e 1975– e aproximadamente dois terços de sua força de trabalho atuando em setores que utilizam baixo conteúdo tecnológico e pagam salários em torno de 40% inferiores à média nacional, não conseguirá crescer de forma sustentada.

São necessárias diversas políticas públicas para reverter esse quadro, mas este governo veio para destruir o estado brasileiro (é o que ainda lhe confere um certo apoio por parte das elites do país). Nessa toada, a vaca vai para o brejo, infelizmente. Reformas nos salvariam? A única realmente importante neste momento é a tributária, e ainda assim, se substituir a taxação sobre a produção por impostos sobre a renda e patrimônio.

No frigir dos ovos, o que mais pesa sobre a decisão de investir é a expectativa sobre a demanda futura. E essa palavra –demanda— não existe no vocabulário dessa equipe econômica. Para estimular o gasto privado, a única saída neste momento é a vacinação massiva e o investimento público, que são justamente o oposto do que pretende este governo.

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