Dona da Prato Fino diz que perfil de diretor com post contra vacina foi hackeado
Publicação na conta de executivo da marca de arroz da Pirahy Alimentos critica também o SUS
Já é assinante? Faça seu login
Continue lendo com acesso ilimitado.
Aproveite esta oferta especial:
Oferta Exclusiva
6 meses por R$ 1,90/mês
SOMENTE ESSA SEMANA
ASSINE A FOLHACancele quando quiser
Notícias no momento em que acontecem, newsletters exclusivas e mais de 200 colunas e blogs.
Apoie o jornalismo profissional.
Dois tuítes publicados no perfil de um diretor da empresa dona da marca de arroz Prato Fino, do Rio Grande do Sul, com críticas ao SUS (Sistema Único de Saúde) e a uma das vacinas contra o novo coronavírus, levantaram pedidos de boicote à marca nas redes sociais.
As publicações que apareceram no perfil de Fábio Rigo, no Twitter, diziam que depois de ter reações como náusea, vômito e problemas estomacais por três semanas, após a segunda aplicação da vacina AstraZeneca, ele só voltaria a se vacinar quando pudesse comprar “o que tiver de melhor à venda”.
No início do texto, quem escreve ressalta: “eu não sou de politizar a vacina”.
No segundo tuíte, o texto sobe o tom: “E pau no cu do SUS. Quero é que seja vendido. Quem pode mais chora menos. Lei da selva. Tive Covid e não me fez cócegas. Prefiro o Covid do que essa merda de vacina”.
A reportagem procurou a Pirahy Alimentos, empresa dona da marca Prato Fino, pelo telefone comercial. Dois funcionários confirmaram que o perfil, agora desativado quando pesquisado na plataforma, pertence de fato a Rigo, que é diretor na companhia.
Um funcionário identificado como do setor de marketing, mas que não quis divulgar o nome, afirmou que a posição da empresa estava "amplamente divulgada" nas suas redes sociais.
Ele disse ainda que a empresa não tem nenhum tipo de posicionamento autorizado a ser publicado na Folha ou outro meio de comunicação.
Na nota, publicada em seus perfis na quinta-feira (26), a Pirahy Alimentos afirma: "A Pirahy Alimentos informa sobre o ataque hacker ocorrido nas redes sociais de um de seus diretores e alerta a população que atente-se para golpes, geração e multiplicação de informações falsas".
Os comentários nas publicações da nota nos perfis da marca, tanto no Facebook, como no Instagram, apareciam como limitados no fim da tarde desta sexta-feira (27).
Em outras publicações no perfil da Prato Fino, internautas comentaram cobrando sobre os comentários publicados no perfil do diretor, citando marcas concorrentes, e com hashtags como "#boicotepratofino," VivaoSUS e "#pratofinonuncamais".
"Arroz prato fino a gente ignora na prateleira do mercado, valeu?", escreveu um deles.
“O público está exigente, está muito atento a esse tipo de reação com qualquer marca, qualquer empresa, qualquer pessoa da marca. Não interessa se é só o líder, uma pessoa de alta posição da empresa, o que interessa é quando se manifesta contra algo que não está conciliando com a opinião pública”, avalia professor da ESPM Fábio Mariano Borges, especialista em tendências e comportamento de consumidor.
O especialista pontua ainda que para lidar com crises do tipo, as empresas devem aceitar a pena imposta pelo público e buscar se posicionar para a cidadania.
“Liderança é paga para ter responsabilidade. Como lida com a crise? Respondendo, assumindo a crise, assumindo o erro”, diz Borges.
Para Diego Wander, professor da Escola de Comunicação, Artes e Design - Famecos, da PUCRS (Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul), as cobranças mais frequentes se devem a fatores como a potência de reverberação das mídias sociais e a crescente expectativa da sociedade de que as organizações sejam protagonistas no enfrentamento de problemas sociais.
“Cada vez mais, as pessoas correlacionam seus comportamentos de consumo a um ato de convicção. Então, eu compro se aquela marca demonstra alguma afinidade ideológica comigo, se expressa valores com os quais eu me identifico, senão, eu deixo de comprar. Esse é um comportamento crescente e que acaba, inclusive, gerando boicotes”, explica ele.
No gerenciamento de crises, diz ele, caso a organização não consiga prevenir certas situações, a recomendação é dialogar com o público nas redes sociais e apresentar narrativas claras e argumentos consistentes.
“Geralmente, [críticas] são expressões de grupos bastante vigilantes e que conseguem ter uma força enquanto grupo. O que a gente percebe do ponto de vista de venda, de consumo, é que são eventos um pouco transitórios, porque acabam durando um período de tempo e depois a marca consegue recuperar”, aponta.
No ranking do Irga (Instituto Rio Grandense do Arroz) de arrecadação das principais indústrias beneficiadoras e de exportação de arroz no Rio Grande do Sul, em 2020, a Pirahy Alimentos ficou na terceira posição.
O ranking tem por base dados divulgados pela Secretaria Estadual da Fazenda, que arrecada a Taxa de Cooperação e Defesa da Orizicultura (CDO). Em seu site, o Irga informa que o levantamento considera a arrecadação total do tributo, não apenas pelo beneficiamento do arroz, com o percentual de participação da empresa.
A Pirahy, de acordo com informações no site da empresa, atua em todos os estados das regiões Sul e Sudeste, além de Mato Grosso do Sul, Distrito Federal, Bahia e Ceará. Criada em 1975, a empresa tem sede em São Borja, na fronteira com a Argentina.
Receba notícias da Folha
Cadastre-se e escolha quais newsletters gostaria de receber
Ativar newsletters