Siga a folha

Descrição de chapéu Caixin Ásia

Evergrande arrasta banco chinês e mostra como crise pode contaminar o país

Governo de Liaoning está recomprando algumas das ações detidas pela gigante do setor imobiliário

Continue lendo com acesso ilimitado.
Aproveite esta oferta especial:

Oferta Exclusiva

6 meses por R$ 1,90/mês

SOMENTE ESSA SEMANA

ASSINE A FOLHA

Cancele quando quiser

Notícias no momento em que acontecem, newsletters exclusivas e mais de 200 colunas e blogs.
Apoie o jornalismo profissional.

Caixin

Agora que as colossais dívidas do Evergrande Group, da China, estão sob os holofotes internacionais, os mais de 100 bilhões de yuan (R$ 81,88 bilhões) em transações do conglomerado imobiliário com um banco regional estão causando preocupação, e levam o governo local a tentar romper os elos entre as duas companhias.

O Shengjing Bank, um banco comercial sediado em Shenyang, uma cidade do nordeste da China, na província de Liaoning, detém um valor substancial em títulos de dívida da Evergrande. A companhia também é o maior acionista do banco.

Com o avanço da crise da dívida na gigante dos imóveis, o governo de Liaoning está tentando se isolar de riscos associados à Evergrande ao recomprar algumas das ações detidas pela empresa no banco regional, por meio de duas empresas estatais da província.

O Northeast Pharmaceutical Group e o Shenyang Shengjing Investment Group, os dois controlados pelo governo da cidade de Shenyang, adquiriram 1,9% das ações do Shengjing detidas pela Evergrande, por 1 bilhão de yuan (R$ 818,8 milhões), anunciou o banco em 17 de agosto. Gao Wei, vice-prefeito de Shenyang, disse em julho que o governo manteria o apoio a empresas estatais importantes sediadas na cidade, para a ampliação gradativa da participação delas no banco Shengjing.

A situação do banco demonstra de que modo o vórtice cada vez mais forte da crise da Evergrande ameaça arrastar empresas de toda a China, e tem o potencial de afetar milhões de pessoas. A mais endividada das empresas imobiliárias chinesas, cujo passivo supera os US$ 300 bilhões (R$ 1,6 trilhão), está oscilando à beira da insolvência e causando preocupações em todo o mundo sobre a possibilidade de uma onda forte de contágio. O Shengjing é apenas uma das centenas de empresas que têm muito a perder, dependendo do resultado.

O banco mesmo enfrenta sérios problemas. No primeiro semestre de 2021, seu lucro líquido caiu em 63,6%, para 10,3 bilhões de yuan (R$ 8,433 bilhões). A Comissão Regulatória de Bancos e Seguros da China em maio multou quatro agências do Shengjing em 5,52 milhões de yuan (R$ 4,52 milhões) por violação de regras e por concederem empréstimos a projetos imobiliários não autorizados.

O Shengjing tem problemas caóticos de financiamento interno semelhantes aos do conglomerado HNA Group, que faliu, disse um financista que ocupa cargo importante em outro banco de controle misto.

A agência regulatória dos bancos chineses está examinando as transações entre a Evergrande e o banco, noticiou a Caixin em julho. O escritório da Comissão em Liaoning conduziu uma investigação no local sobre o banco, de acordo com um empregado de outro banco de controle misto que estava informado sobre o assunto.

A Evergrande adquiriu um bilhão de ações do Shengjing de acionistas existentes por 10 bilhões de yuan (R$ 8,188 bilhões), em 2016, e se tornou a maior acionista do banco, com uma participação de 17,28%. O preço pago pela Evergrande incorporava a absorção pela companhia de 50 bilhões de yuan (R$ 40,94 bilhões) em ativos problemáticos do Shengjing. Como parte da transação, o banco transferiu esses ativos de seu balanço para o da Evergrande, por meio de diversos canais, disseram à Caixin duas pessoas próximas ao Shengjing.

A Evergrande na verdade pagou entre 30 bilhões e 40 bilhões de yuan (R$ 24,564 bilhões e R$ 32,752 bilhões) pelos ativos, disse outro financista sênior do setor.

“A Evergrande prometeu que não responsabilizaria os executivos encarregados desses ativos”, ao assumir o controle de ativos de liquidação duvidosa, disse o financista.

Em 2019, a Evergrande ampliou sua participação no Shengjing a 36,4%, por meio de uma emissão privativa de 18 bilhões de yuan (R$ 14,738 bilhões) em ações. Entre os demais acionistas do banco, Lau Luen Hung, da incorporadora imobiliária Chinese Estates Holdings, de Hong Kong; Suen Cho Hung, da Zhengbo; e Lo Ki Yan, da Future Capital, são amigos do fundador e o presidente do conselho da Evergrande, Hui Ka Yan. O mercado está especulando que a Evergrande tenha sob seu controle mais de 50% das ações do banco.

Depois da concordata e da intervenção governamental no banco regional Baoshang Bank, em 2019, muitos governos locais estão buscando resgatar os bancos comerciais urbanos pesadamente endividados. Já que o governo municipal de Shenyang estava passando por um aperto financeiro, escolheu a Evergrande para ajudar a mitigar a crise do Shengjing, e concordou em transferir à empresa a propriedade de algumas terras e projetos como compensação, disse uma pessoa próxima ao governo de Shenyang.

Depois da segunda rodada de colocação de ações, diversas pessoas associadas à Evergrande passaram a fazer parte do conselho do Shengjing. Qiu Huofa, o atual presidente do conselho do banco, foi vice-presidente da Evergrande. Zhu Jialin, Pan Darong e Ji Kun, todos integrantes do conselho do banco, também vieram da incorporadora.

Os mais de 100 bilhões de yuan (R$ 81,88 bilhões) em transações entre as partes que estão sob investigação pelas autoridades regulatórias incluem não só os 50 bilhões de yuan (R$ 40,94 bilhões) em ativos problemáticos do Shengjing que a Evergrande encampou como também 13 bilhões de yuan (R$ 10,644 bilhões) em empréstimos e títulos de dívida detidos por acionistas, além de 40 bilhões de yuan (R$ 24,564 bilhões) em exposição de financiamento do Shengjing a empresas afiliadas à Evergrande.

O grupo imobiliário chinês declarou em junho que suas transações financeiras com o Shengjing cumpriam todas as leis e regulamentos chineses.

Pelo final de 2020, o Shengjing tinha ativos totais de 1,04 trilhão de yuan (R$ 851,552 bilhões). Além de suas operações regulares de empréstimo, o banco tinha 358 bilhões de yuan (R$ 293,130 bilhões) em investimentos financeiros, o que inclui quase 150 bilhões de yuan (R$ 122,820 bilhões) em produtos não padronizados de gestão de patrimônio administrados por fundos ou companhias de investimento. Participantes do mercado estão especulando quanto a que proporção desses recursos pode ter sido canalizada para a Evergrande.

Depois que os problemas de dívida da Evergrande foram expostos, o Shengjing começou a atrair mais atenção do mercado. O executivo do banco misto que conhece bem a situação da empresa rival disse que seu banco não voltará a fazer qualquer transação com o Shengjing, depois que os negócios atuais forem concluídos.

Em julho, a agência de classificação de crédito chinesa Lianhe Credit Rating rebaixou a classificação de crédito do Shengjing de AAA para AA+, mencionando a alta exposição do banco a clientes anônimos.

Tradução de Paulo Migliacci

Wang Jing , Chen Bo , Yu Ning , Zhu Liangtao , Wang Juanjuan , Zhou Wenmin e Denise Jia

Receba notícias da Folha

Cadastre-se e escolha quais newsletters gostaria de receber

Ativar newsletters

Relacionadas