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Banco Central

Affonso Pastore, um economista na periferia

Ele era aplicado, enfatizava a evidência empírica, sabia teoria e produzia teoria

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Samuel Pessôa

Pesquisador do Instituto Brasileiro de Economia (FGV) e da Julius Baer Family Officy (JBFO). É doutor em economia pela USP​

Pastore pertence a uma tradição de profissionais de economia que nasceu com Eugênio Gudin e passou por Mário Henrique Simonsen e Delfim Netto. São profissionais formados no Brasil, que formaram muitas gerações de economistas, estudaram com cuidado a nossa economia e profissionalmente conciliaram vida na academia, no setor privado, no serviço público e mantiveram por anos colaboração regular na imprensa.

A contribuição intelectual de Pastore tinha duas características. Primeira, Pastore era um economista aplicado cujo foco eram problemas brasileiros. Se especializou por inflação pois era o problema que estava dado. Pastore, sem nenhuma pieguice, era patriota. Nosso subdesenvolvimento era o seu tema.

Retrato do economista Affonso Celso Pastore, ex-presidente do Banco Central, que morreu nesta quarta-feira (21) aos 84 anos - Adriano Vizoni/Folhapress

A segunda característica de Pastore era a ênfase na evidência empírica. Pastore olhava muito os dados e gastava muita energia levantando os dados. Sabia teoria e produzia teoria. Mas a ênfase era a empírica. A teoria organizava os dados. Mas a palavra final era da evidência empírica.

Há pelo menos três contribuições importantes de Pastore. Na tese de doutoramento ele testou a conjectura do pensamento estruturalista de que a oferta de bens agrícolas não respondia aos incentivos de preços. Acreditava-se que a concentração da propriedade da terra impedia que houvesse a resposta da oferta. Pastore mostrou que nada havia de diferente com a agricultura brasileira. Encontrou algum suporte para a tese estruturalista somente na região Nordeste.

Na sua tese de livre docência Pastore documenta —a partir de um levantamento de dados meticulosíssimo— que a desinflação que ocorreu nos primeiros anos da ditadura militar coincidiu com alteração na forma de financiamento do déficit público. Se na virada dos anos 1950 para os anos 1960 a expansão monetária financiava o déficit público, no período posterior ela financiava a acumulação de reservas. Havia relação entre a desinflação no período e a mudança do regime de política econômica.

Um trabalho inconcluso foi seu artigo teórico "Inflação e expectativas com a política monetária em uma regra de taxa de juros", publicado na Revista Brasileira de Economia em 1990.

Após a saída dos EUA da convertibilidade do dólar em ouro as economias passaram a operar em um regime de moeda fiduciária. Não valia mais o padrão ouro. Moeda era papel pintado. Qual era a governança de um regime monetário de moeda fiduciária? A resposta foi uma regra de fixação de juros em que os juros crescem a uma velocidade maior do que a diferença da inflação da meta inflacionária. Essa regra simples foi derivada por John Taylor. Pastore em seu artigo na RBE chegou perto de independentemente derivar a regra de Taylor. Faltaram duas linhas de álgebra.

Pastore estava sempre na fronteira do conhecimento olhando a teoria e os dados, preocupado com o futuro do país.

Erramos: o texto foi alterado

O artigo "Inflação e expectativas com a política monetária em uma regra de taxa de juros" foi publicado em edição de 1990 da Revista Brasileira de Economia, não em 1994, como afirmava versão anterior deste texto

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