Descrição de chapéu Banco Central

Campos Neto lamenta morte de Pastore, que defendeu autonomia do BC; veja outras reações

Economista morreu aos 84 anos; leia depoimentos de colegas e associações

  • Salvar artigos

    Recurso exclusivo para assinantes

    assine ou faça login

Brasília

O presidente do Banco Central, Roberto Campos Neto, lamentou nesta quarta-feira (21) a morte do economista Affonso Celso Pastore e ressaltou que o ex-chefe da autoridade monetária defendeu a autonomia da instituição, em vigor desde 2021.

"Ele sempre foi um apaixonado pelo Banco Central, pelas causas do Banco Central, defendeu a autonomia [da instituição]. Defendeu todos os nossos projetos, nossa agenda recentemente. É uma enorme perda", disse Campos Neto após evento promovido pela Frente Parlamentar da Economia Verde, em Brasília.

Retrato do economista Affonso Celso Pastore durante entrevista em seu escritório no bairro de Pinheiros, zona oeste da cidade de São Paulo - Adriano Vizoni - 30.nov.2022/Folhapress

Campos Neto destacou também que Pastore era "uma pessoa muito querida e muito comentada no âmbito de banqueiros centrais", ressaltando um artigo recente escrito pelo economista sobre a evolução inflacionária.

O atual presidente do BC ainda relembrou um dos encontros que teve com o antigo mandatário em uma viagem de avião.

Ele vinha fazer um depoimento na época em Brasília sobre o tema da Coaf (Conselho de Controle de Atividades Financeiras) estar junto com o Banco Central. Falei para ele: ‘Professor, o senhor está indo para Brasília?’ Ele falou: ‘Sim, sempre que tiver um tema do Banco Central, pode me chamar porque sou apaixonado pelo Banco Central e sempre vou proteger as causas do Banco Central

Roberto Campos Neto

presidente do Banco Central, sobre Affonso Celso Pastore

Bacharel e doutor em economia pela FEA/USP (Faculdade de Economia, Administração e Contabilidade da Universidade de São Paulo), Pastore foi professor titular do Departamento de Economia, diretor da instituição e um dos economistas mais respeitados do país.

Ele se dedicou à vida pública e acadêmica, tendo ministrado aulas também em faculdades como Insper e FGV (Fundação Getulio Vargas). Esteve à frente do BC entre 1983 e 1985, sendo o último presidente da autarquia durante o período da ditadura militar.

Pastore estava internado na UTI (Unidade de Tratamento Intensivo) no fim de semana para uma cirurgia e não resistiu. O velório será realizado no cemitério do Morumbi, em São Paulo, na tarde desta quarta, entre 13h e 17h.

Em nota, o BC afirmou que Pastore deixou uma marca profunda nos estudos de economia desenvolvidos no Brasil e que sua partida deixará uma lacuna no debate econômico nacional.

"Em sua passagem pelo Banco Central, se dedicou ao trabalho de lançar as bases de uma economia estável e com crescimento sustentável. Deu significativa contribuição para a resolução do problema do endividamento externo brasileiro", disse.

"Com exímia habilidade, foi negociador junto ao Fundo Monetário Internacional e os bancos credores internacionais, ajudando de forma definitiva a evitar que o país entrasse numa situação de insolvência externa", acrescentou.

Os membros da instituição também exaltaram a contribuição do economista no campo acadêmico. "Pastore deixa trabalhos inovadores que serviram de inspiração a uma geração de ex-alunos e que certamente serão consultados por novos economistas. Em vida, ganhou o reconhecimento dos mais renomados economistas do país."

A diretoria colegiada do BC expressou seu pesar pela morte de Pastore. "Sempre manteve um diálogo generoso com o Banco Central, dando apoio inestimável às causas da instituição. Deixamos nossas condolências para Maria Cristina Pinotti, esposa de Pastore, demais familiares, amigos e os muitos colegas de trabalho e da academia."

Colunista da Folha, o economista Marcos Lisboa destacou a importância de Pastore. "Affonso faz parte de uma geração que acompanhava a pesquisa científica e buscava entender o que os dados tinham a dizer sobre a realidade", disse ele, em mensagem de condolências. "Depois [do doutorado] migrou para a macroeconomia, sempre com o mesmo cuidado de analisar os dados, algo que fez a vida toda. Affonso foi um exemplo ético da profissão de economistas. Correto com os fatos, com os dados, de uma integridade intelectual inacreditável."

O presidente do BID (Banco Interamericano de Desenvolvimento), Ilan Goldfajn, lamentou a morte de Pastore. "Estou muito triste com a morte de Affonso Celso Pastore. Ele foi um grande amigo, inspirador e parceiro. O Affonso Pastore foi o maior expoente e promotor do foco na ciência para a análise de políticas econômicas, no uso da evidência para avaliarmos, aprendermos e implementarmos políticas e reformas que venham a beneficiar as sociedades que servimos", afirmou.

Goldfajn recordou a criação de um centro para debate ao lado de Pastore. "Ele sempre esteve sempre à frente do seu tempo, desde os primeiros anos na USP, passando por sua larga e profícua carreira até quando tive a honra de com ele e outros colegas criar o Centro de Debate de Política Públicas (CDPP). Sentirei muita falta do Pastore e mando condolências a todos os familiares e amigos", disse o economista, que presidiu o Banco Central entre 2016 e 2019.

Em nota, o CDPP afirma que Pastore teve enorme impacto na formação de várias gerações de economistas. "Foi Presidente do Banco Central e se tornou um intelectual público na melhor acepção do termo: engajado em debates nos mais variados fóruns, capaz de traduzir a teoria econômica para o grande público, aberto a novas ideias, mas sem jamais abrir mão da coerência e do rigor acadêmico. Impressionava a todos que o conheciam pela firmeza de opiniões e retidão moral."

O Governo de São Paulo também lamentou a morte de Pastore, que foi secretário da Fazenda entre 1979 e 1983. "O governador Tarcísio de Freitas e o vice-governador Felício Ramuth prestam sinceras condolências a todos os familiares e amigos."

A Secretaria da Fazenda de São Paulo afirmou que ele "é reconhecidamente um dos economistas mais renomados do país'. "O secretário Samuel Kinoshita e o corpo de servidores da Sefaz-SP estendem suas condolências à família desse incansável estudioso das políticas econômicas que tanto se dedicou pelo país."

"O Brasil perde um importante pensador e economista. Além de ser um estudioso das nossas questões econômicas, também teve relevante trajetória pública, atuando em momentos-chave, como na negociação da dívida externa brasileira quando era presidente do Banco Central. Deixa um relevante legado intelectual e uma lacuna no debate econômico nacional", afirmou Josué Gomes da Silva, presidente da Fiesp (Federação das Indústrias do Estado de São Paulo).

Em nota, a FGV Ibre enalteceu o papel de Pastore na coordenação do Codace (Comitê de Datação de Ciclos Econômicos) da entidade. "Durante a sua carreira como economista acumulou volumosa produção intelectual, sempre baseada em pesquisas de grande rigor técnico", afirmou a instituição.

A FIEMG (Federação das Indústrias do Estado de Minas Gerais) relembrou que o economista foi consultor da entidade. "Participou de diversas reuniões do Conselho de Política Econômica da Federação, que atua na defesa de interesses do setor produtivo mineiro", disse.

A Acrefi (Associação Nacional das Instituições de Crédito, Financiamento e Investimento) afirmou, em nota, que Pastore foi um "economista brilhante" e manteve proximidade com a instituição ao longo de sua carreira. "Consternados, externamos nossos sentimentos aos familiares, amigos e colegas de mercado", disse.

Em nota, a Febraban (Federação Brasileira de Bancos) também lamentou a morte de Pastore. "Além de um dos maiores macroeconomistas do país, também foi consultor e professor, muito respeitado no meio acadêmico. Pastore foi uma voz muito ponderada e influente no debate econômico, sempre com uma postura muito ética e construtiva, pensando no desenvolvimento econômico de nosso país."

  • Salvar artigos

    Recurso exclusivo para assinantes

    assine ou faça login

Tópicos relacionados

Leia tudo sobre o tema e siga:

Comentários

Os comentários não representam a opinião do jornal; a responsabilidade é do autor da mensagem.