Crise econômica levou Bolsa de SP a fechar as portas no final do século 19
Impacto da transição do Império para a República abalou os mercados da época
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Tendo se consolidado nos últimos anos como a principal plataforma de negociação de ações do Brasil, a Bolsa de Valores brasileira, a B3, que deve ganhar uma concorrente no Rio de Janeiro, não teve um começo fácil.
O primeiro projeto que viria a evoluir futuramente para a Bolsa como a conhecemos hoje surgiu no final do século 19, em 1890, quando Emílio Rangel Pestana reuniu negociadores autônomos de títulos para fundar a então Bolsa Livre de São Paulo.
Pouco mais de um ano depois, contudo, em 1891, a Bolsa teve de fechar as portas, na esteira de uma crise econômica que ficou conhecida como a Crise do Encilhamento. O termo foi emprestado das corridas de cavalos, em referência ao clima de balbúrdia em meio as apostas nos vencedores.
Segundo Fábio Correa, pesquisador de história econômica, o Encilhamento foi resultado de um processo doloroso de transição entre a Monarquia e a República.
O historiador recorda que Rui Barbosa, primeiro ministro da Fazenda da República durante o governo provisório do Marechal Deodoro da Fonseca, adotou na época uma política de estímulo à industrialização da economia brasileira, que era baseada até então na agricultura.
Barbosa inverteu completamente a política econômica do Império, sancionando em 1890 a Lei das Sociedades Anônimas, que facilitou a criação de uma série de novas empresas.
"Rui Barbosa fez uma política econômica muito heterodoxa, quase como se fosse o equivalente a uma espécie de Plano Cruzado", diz Gustavo Franco, ex-presidente do BC (Banco Central) e sócio da Rio Bravo Investimentos.
Também foram adotadas medidas que buscavam aumentar o dinheiro em circulação no país para fazer frente à massa de assalariados que se avolumava na esteira do fim da escravidão e da chegada de imigrantes, concedendo aos bancos a prerrogativa de imprimir e colocar dinheiro em circulação no mercado.
"A revolução republicana, junto com a entrada de imigrantes e de capital estrangeiro, dava a sensação de um novo Brasil, de um Brasil modernizado", afirma.
Correa diz ainda que o estímulo econômico a qualquer custo proposto pelo governo criou as condições para que especuladores atuassem livremente no mercado, com uma série de companhias buscando a listagem na recém-criada Bolsa de São Paulo, sem que tivessem as mínimas condições para expandir as operações e remunerar os acionistas.
"Surgiram gatunos de toda espécie, com a listagem de empresas sabidamente fictícias somente para levantar os recursos dos investidores e que, logo depois, declaravam a falência", afirma o historiador.
Seguiu-se à inundação de empresas na Bolsa um processo inflacionário que acometeu o país como resultado da política de estímulos à emissão monetária, acompanhado de uma desvalorização cambial.
O cenário internacional, diz Franco, também contribuiu para a situação econômica adversa no país, com dificuldades financeiras do banco inglês Baring trazendo fortes impactos para a Argentina e contagiando os vizinhos da região, com uma consequente redução do fluxo de capital estrangeiro abundante nos anos anteriores.
"Em menos de três anos de vida, a República já tinha tido uma bolha especulativa que furou, uma crise bancária, uma maxidesvalorização, coisas muito contemporâneas", afirma o ex-BC. "A crise foi reflexo das dores das mudanças."
Alguns anos depois, em 1895, seria inaugurada a Bolsa de Fundos Públicos de São Paulo, em que os corretores eram nomeados pelo governo, que era o responsável por disciplinar as funções dos participantes de mercado, trazendo maior estabilidade às operações. Em 1935, ela passa a se chamar Bolsa Oficial de Valores de São Paulo, e, em 1966, recebe a denominação de Bolsa de Valores de São Paulo (Bovespa).
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