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China tem uso recorde do yuan em transações internacionais

Dados do governo apontam que 53% das negociações do país são feitas na moeda local; há três anos, era de 40%

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William Sandlund
Hong Kong (China) | Financial Times

O uso do yuan (chamada de renminbi na China) em transações internacionais atingiu um patamar recorde neste ano, à medida que laços mais estreitos com a Rússia fortalecem os esforços de Pequim para internacionalizar sua moeda e diminuir a dependência do dólar americano.

Em julho, 53% das transações de entrada e saída da China usaram a moeda chinesa, de acordo com dados da Administração Estatal de Câmbio (Safe, na sigla em inglês), um aumento em relação aos 40% registrados no mesmo mês de 2021.

Os dados da Safe mostram transferências internacionais por bancos em nome de clientes não-bancários e representam principalmente negociações comerciais, embora também capturem fluxos de investimento e pagamentos de dívidas.

Nota de yuan, que vem cada vez mais sendo usado em negociações no mundo - Reuters

O uso fora das fronteiras da moeda chinesa recebeu um impulso após as sanções dos EUA que limitaram a capacidade da Rússia de transacionar em dólares após o país invadir a Ucrânia. Em fevereiro deste ano, a governadora do banco central da Rússia, Elvira Nabiullina, afirmou que o uso da moeda chinesa para liquidações, transações financeiras e depósitos havia "disparado".

"As sanções criaram um incentivo para a China desenvolver seu sistema (financeiro) e desenvolver soluções para ligar o sistema da China ao da Rússia", disse Alexandra Prokopenko, pesquisadora do Instituto Carnegie, em Berlim.

O crescimento do comércio com transações em yuan também foi ajudado por linhas de swap de moeda que Pequim abriu ou renovou ao longo de 2023 com a Arábia Saudita, Argentina e Mongólia —todos produtores de commodities com bens que a China deseja.

Desde 2022, novos bancos de compensação para o yuan também foram estabelecidos no Brasil, Laos, Cazaquistão, Paquistão e Sérvia, de acordo com o Banco Popular da China.

Segundo alguns analistas, uma razão pela qual a China manteve sua taxa de câmbio com o dólar americano estável este ano, apesar da pressão de venda sobre a moeda chinesa, é encorajar parceiros comerciais a negociar mais em yuan. O presidente da China, Xi Jinping, vem seguidamente falando por uma moeda forte.

"Você não pode ir à Indonésia, Tailândia, Coreia do Sul e dizer: 'Ei, vamos negociar em yuan em vez de dólar' se você tiver uma moeda fraca. Para que isso aconteça, você precisa ter uma moeda estável", disse Louis-Vincent Gave, da empresa de serviços financeiros Gavekal.

Os esforços anteriores de Pequim para internacionalizar o yuan fracassaram depois que o Banco Popular da China promoveu uma desvalorização da moeda em 2015 para combater uma desaceleração no crescimento econômico. Isso aumentou a competitividade das exportações chinesas, mas levou a um declínio substancial no uso do yuan em transações que levou anos para ser revertido.

Edwin Lai, professor da Universidade de Ciência e Tecnologia de Hong Kong especializado na internacionalização do yuan, disse que era "normal" para grandes economias como a da China firmarem a maior parte de seu comércio com a sua própria moeda.

"Pelos padrões internacionais, não é uma grande conquista", disse Lai. Ao mesmo tempo, ele observou que a China "obviamente melhorou".

Ele disse que Pequim não procurava competir com o dólar americano, mas que as autoridades locais "não querem ficar à mercê" da moeda.

Internacionalmente, o yuan ainda está distante do dólar para o comércio exterior. Ele representa apenas 4,74% dos pagamentos globais, atrás do dólar, euro e libra esterlina, de acordo com os dados mais recentes da rede internacional de pagamentos Swift.

No entanto, sistemas de pagamento alternativos, como o CIPS da China e outras redes privadas, fazem com que fique menos confiável adotar o Swift para ter uma visão completa das transações globais de moeda, de acordo com Lucy Ingham, editora-chefe da FXC Intelligence, consultoria que rastreia pagamentos digitais.

O crescimento na participação do yuan no financiamento do comércio global pode ser limitado pela relutância do Ocidente em negociar usando a moeda chinesa.

"Acho muito improvável que vejamos o comércio da China com os Estados Unidos, com a União Europeia, realizado na moeda chinesa", disse Daniel McDowell, professor da Universidade de Syracuse e pesquisador sênior do Atlantic Council.

Obstáculos antigos ao maior uso do yuan —em particular, os controles de capital da China e os fortes efeitos de rede que apoiam o uso do dólar americano— limitam seu progresso além do comércio exterior.

Mulher conta notas de 100 yuans - AFP

A maioria dos traders de câmbio ainda prefere negociar usando o dólar, disse Wee Khoon Chong, estrategista sênior de mercados do BNY em Hong Kong.

"Da nossa base de clientes, vimos uma atividade crescente em (yuan) como pagamento", afirmou Chong. Mas ele afirmou que seu uso não atingiu "um ponto de virada" onde substituiria uma moeda importante. "É um progresso lento."

"(A China) não está buscando derrubar a dominância global do dólar", avaliou McDowell. "Isso vem com muita responsabilidade e aceitação de certas vulnerabilidades... Os motivos da China aqui são principalmente sobre autonomia e resiliência."

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