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Descrição de chapéu The Economist

IA está perdendo o hype, mas isso pode significar sucesso

Investimento que acompanha euforia cria infraestrutura para adoção generalizada

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The Economist

Os "tech bros" do Vale do Silício estão enfrentando semanas difíceis. Um número crescente de investidores está preocupado que a IA (inteligência artificial) não entregará os lucros vastos que eles esperam. Desde o pico no mês passado, os preços das ações das empresas ocidentais que impulsionam a revolução da IA caíram 15%. Um número crescente de observadores agora questiona as limitações dos grandes modelos de linguagem, que alimentam serviços como o ChatGPT.

As grandes empresas de tecnologia gastaram dezenas de bilhões de dólares em modelos de IA, com promessas ainda mais extravagantes de futuros investimentos. No entanto, de acordo com os dados mais recentes do Census Bureau, apenas 4,8% das empresas americanas usam IA para produzir bens e serviços, uma queda em relação ao pico de 5,4% no início deste ano. Aproximadamente a mesma proporção pretende fazê-lo no próximo ano.

Executivos do Google em apresentação de funções de IA da nova geração da linha de smartphones Pixel, em Mountain View, nos Estados Unidos - AFP

Levante essas questões gentilmente com um especialista e ele olhará para você com uma mistura de decepção e pena. Você não ouviu falar do "ciclo do hype"? Este é um termo popularizado pela Gartner, uma empresa de pesquisa —e um conhecimento comum no setor.

Após um período inicial de euforia irracional e superinvestimento, novas tecnologias quentes entram no "vale da desilusão", segundo o argumento, onde o sentimento azeda. Todos começam a se preocupar que a adoção da tecnologia está progredindo muito lentamente, enquanto os lucros são difíceis de alcançar.

No entanto, assim como a noite segue o dia, a tecnologia faz um retorno. O investimento que acompanhou a onda de euforia permite uma enorme construção de infraestrutura, empurrando a tecnologia para a adoção generalizada. O ciclo do hype é um guia útil para o futuro da IA no mundo?

Certamente é útil para explicar a evolução de algumas tecnologias mais antigas. Os trens são um exemplo clássico. A febre ferroviária tomou conta da Grã-Bretanha do século 19. Esperando retornos saudáveis, todos, de Charles Darwin a John Stuart Mill, investiram dinheiro em ações ferroviárias, criando uma bolha no mercado de ações. Seguiu-se um crash. Então, as empresas, usando o capital que haviam levantado durante a euforia, construíram a rede ferroviária, conectando a Grã-Bretanha de ponta a ponta e transformando a economia. O ciclo do hype estava completo.

Mais recentemente, a internet seguiu uma evolução semelhante. Houve euforia sobre a tecnologia nos anos 1990, com futurólogos prevendo que dentro de alguns anos todos fariam todas as suas compras online. Em 2000, o mercado caiu, levando ao fracasso de 135 grandes empresas online, de garden.com a pets.com. O resultado mais importante, no entanto, foi que, até então, as empresas de telecomunicações haviam investido bilhões em cabos de fibra óptica, que se tornariam a infraestrutura da internet de hoje.

Embora a IA não tenha experimentado uma queda em uma escala tão grande quanto as ferrovias ou a internet, a ansiedade atual é, segundo alguns, uma evidência de sua futura dominação global. "O futuro da IA será como qualquer outra tecnologia. Haverá uma construção de infraestrutura gigantesca e cara, seguida por uma grande queda quando as pessoas perceberem que não sabem realmente como usar a IA de forma produtiva, seguida por uma lenta recuperação à medida que descobrem como usá-la", diz Noah Smith, comentarista econômico.

Isso está certo? Talvez não. Para começar, versões da própria IA têm, por décadas, experimentado períodos de hype e desespero, com aumento e diminuição concomitantes ao engajamento acadêmico e de investimento, mas sem avançar para a fase final do ciclo do hype. Houve muita empolgação com a IA nos anos 1960, incluindo o Eliza, um chatbot inicial. Isso foi seguido por invernos de IA nas décadas de 1970 e 1990. Até 2020, o interesse em pesquisa sobre IA estava diminuindo, antes de disparar novamente com a chegada da IA generativa.

Também é fácil pensar em muitas outras tecnologias influentes que desafiaram o ciclo do hype. A computação em nuvem foi do zero ao heroísmo em uma linha bastante reta, sem euforia e sem queda. A energia solar parece estar se comportando da mesma maneira. As redes sociais, também. Empresas individuais, como o Myspace, ficaram pelo caminho, e houve preocupações iniciais sobre se elas dariam dinheiro, mas a adoção pelo consumidor aumentou de forma estável.

Por outro lado, há muitas tecnologias para as quais os sentimentos foram da euforia ao pânico, mas que não voltaram (ou pelo menos ainda não) de forma significativa. Lembra do Web3? Por um tempo, especulou-se que todos teriam uma impressora 3D em casa. Os nanotubos de carbono também foram um grande negócio.

Anedotas só te levam até certo ponto. Infelizmente, não é fácil testar se um ciclo do hype é uma regularidade empírica. "Como são dados baseados em sensações, é difícil dizer muito sobre isso de forma definitiva", observa Ethan Mollick, da Universidade da Pensilvânia.

Mas tentamos dizer algo definitivo, estendendo o trabalho conduzido em 2016 pelo investidor Michael Mullany. O Economist coletou dados da Gartner, que por décadas posicionou dezenas de tecnologias quentes onde acreditava que elas pertenciam no ciclo do hype. Em seguida, suplementamos com nossa própria análise de dados.

Descobrimos, em resumo, que o ciclo é uma raridade. Rastreamos tecnologias inovadoras ao longo do tempo e apenas uma pequena parte —talvez um quinto— passa da inovação para a excitação, para o desânimo e para a adoção generalizada. Muitas tecnologias se tornam amplamente usadas sem essa montanha-russa.

Outras vão do boom à falência, mas não voltam. Estimamos que, de todas as formas de tecnologia que caem no vale da desilusão, seis em cada dez não se levantam novamente. Nossas conclusões são semelhantes às de Mullany: "Um número alarmante de tendências tecnológicas são fogos de palha."

A IA ainda pode revolucionar o mundo. Uma das grandes empresas de tecnologia pode fazer uma descoberta. As empresas podem despertar para os benefícios que a tecnologia lhes oferece. Mas, por enquanto, o desafio para as grandes empresas de tecnologia é provar que a IA tem algo a oferecer à economia real. Não há garantia de sucesso. Se você deve recorrer à história da tecnologia para ter uma ideia do futuro da IA, o ciclo do hype é um guia imperfeito. Um melhor é "fácil vem, fácil vai".

Texto de The Economist, traduzido por Helena Schuster, publicado sob licença. O artigo original, em inglês, pode ser encontrado em www.economist.com.

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