Desde que a pandemia de Covid-19 começou a se alastrar pelo Brasil, empresários de diferentes setores perceberam que o delivery seria a única saída. Até mesmo o mercado de luxo incorporou serviços de entrega —de grifes de vestuário à alta gastronomia. Para a designer de joias paulistana Maíra da Hora, 50, porém, não era tão simples aderir aos meios mais comuns por uma questão de segurança e logística.

Desde 2006, quando lançou sua marca, a Santthora, Maíra desenha joias exclusivas e também para linhas de produção. Para desenvolver uma peça personalizada, antes do distanciamento social, a designer marcava conversas com seus clientes para saber quais eram suas preferências, referências, sonhos e até numerologia.

Em razão da quarentena, os encontros saíram de cena e entraram as videochamadas. Além disso, as encomendas tiveram seus prazos de entrega estendidos, porque a maior parte dos trabalhadores do setor joalheiro também parou.

Enquanto buscava uma alternativa para as joias de pronta entrega, a designer assistiu, despretensiosamente, a um documentário em que Elvis Presley presenteava fãs com joias durante as turnês. Nas ocasiões, o cantor recebia de seu joalheiro favorito uma mala com peças para escolher.

Era a semana pós-Dia das Mães e Maíra resolveu fazer algo semelhante: trocou a mala por cofres recheados de joias e os embalou com tecido e fitas douradas. A ideia não era apenas vender peças, mas surpreender quem recebesse, especialmente se fosse um presente.

Ela mesma faz o delivery e, em seguida, o contratante recebe pelo celular a senha para abrir o dispositivo.

No cofre, há peças únicas, com pedras preciosas, e também mais econômicas (a partir de R$ 160), entre brincos, pulseiras, gargantilhas, anéis e colares. O comprador escolhe o que lhe agrada e devolve as demais na hora combinada.

Como medida contra o coronavírus, antes de cada entrega, as joias passam por uma estação de higienização que inclui água morna, hidroalcool, enxágue, secagem e polimento. Peças sensíveis a umidade, como pérolas, são deixadas em um isolamento de no mínimo 72 horas.

Clientes que foram presenteados destacam a surpresa e a curiosidade que o cofre desperta. “Durante a quarentena, os dias parecem sempre acontecer da mesma forma, não recebemos visitas ou surpresas. Quando chegou essa caixa cheirosa, minha casa se transformou em pura alegria. Até as crianças se divertiram”, relata a gerente de RH Daniela Cortezze, 41.

Mesmo com a flexibilização do distanciamento social, Maíra dará continuidade ao serviço de entrega especial. Segundo ela, a ideia atingiu cerca de 40% dos fregueses que não estavam comprando havia algum tempo. Além disso, recebeu indicações de clientes novos que se interessaram especificamente pelo cofre.

Maíra conta que se surpreendeu ao vender o dobro de peças que vendia quando fazia coquetéis para apresentar suas coleções. Só em maio deste ano, vendeu quatro vezes mais do que no mesmo mês do ano passado.

"Até clientes que já tinham comprado para o Dia das Mães entraram em contato para receber o cofre em casa e dividir a experiência com toda a família, porque, geralmente, só as mulheres ou só os homens faziam as compras individualizadas."

Maíra pretende reforçar as vendas sobretudo em datas comemorativas. “A joia fala sobre amor e adentra a casa de alguém para dizer ‘eu te amo’. Não importa se é o marido presenteando a esposa, uma mãe presenteando a filha, namorados, uma mulher se presenteando ou qualquer outra situação, a joia sempre vem para falar: ‘Olha, eu te amo tanto que vou expressar este amor através de algo muito precioso, raro e exclusivo, uma joia’", afirma a designer.

Por segurança, por enquanto, a novidade é disponibilizada por meio de indicações. Valores e conteúdo do cofre são combinados previamente com a designer.