Bancos veem momento delicado para grãos, mas apostam em negócios bilionários na Agrishow

Cotações de produtos agrícolas como laranja, café, algodão e cana impulsionam estimativas de agentes financeiros na maior feira agrícola do país

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Ribeirão Preto

Os quase 200 mil visitantes previstos para a Agrishow em Ribeirão Preto (a 313 km de São Paulo) atraem não só os grandes fabricantes de maquinários, mas também os bancos, que veem dificuldade momentânea para produtores de grãos, mas apostam em negócios bilionários graças ao momento favorável em outras culturas.

Principal referência em eventos agrícolas no país, a Agrishow (Feira Internacional de Tecnologia Agrícola em Ação) alcançou o sucesso que tem hoje por ter levado para dentro da área de exposições os agentes financeiros, o que permite que o produtor rural escolha a máquina agrícola —ou camionete e até mesmo avião—, faça a cotação com os bancos que atuam dentro da fazenda que abriga o evento e feche o negócio que for mais conveniente para seu bolso.

Imagem mostra máquina agrícola exposta na Agrishow, em Ribeirão Preto
Máquina agrícola exposta na Agrishow, em Ribeirão Preto - Joel Silva-1.mai.2023/Folhapress

As projeções de queda na produtividades de grãos no Centro-Oeste do país não foram suficientes para reduzir as expectativas na Credicitrus, cooperativa que tem mais de 50% de seus 169 mil cooperados ligados à cadeia do agro em São Paulo, Minas Gerais e Mato Grosso do Sul e que aposta em outras culturas para atingir sua meta de gerar R$ 400 milhões em intenções de negócios até sexta-feira (3). Se a meta for alcançada, representará alta de cerca de 10% em relação a 2023.

"Estamos com expectativa boa, apesar da questão dos grãos no Centro-Oeste, com queda de produtividade, mas para a nossa região, onde a Credicitrus está, não sentimos tanto esse impacto. Temos aqui também a cana, que está num momento muito bom, além da laranja e do café, nas regiões de Franca e sul de Minas", afirmou Fábio Fernandes, diretor de negócios da Credicitrus.

Para tentar ganhar mercado, a cooperativa vai manter as linhas oferecidas nas semanas seguintes à Agrishow, inclusive no financiamento de veículos.

O Sicoob, que reúne cooperativas como a Credicitrus, estima, no total, atingir R$ 2,5 bilhões em negócios, ante os R$ 2,3 bilhões realizados nos cinco dias da feira do ano passado.

"Algumas linhas de investimento possibilitam o financiamento de estruturas maiores e mais complexas, como as linhas BNDES de armazenagem e irrigação. Especificamente para operações de curto prazo, até 24 meses, as cooperativas do Sicoob oferecem taxas equalizadas reduzidas para operações prefixadas. Além disso, existe a linha em dólar do BNDES para produtores com perfil de exportação, e a CPRF, que é isenta de IOF", disse o diretor comercial e de canais do Sicoob, Francisco Silvio Reposse Junior.

Durante a feira, segundo ele, os visitantes terão a oportunidade de se associar e também de receber instruções sobre como apresentar propostas ou projetos de financiamento, além de obter a lista de documentos necessários para análise.

Repose Junior afirmou ainda que, apesar de possíveis perdas de produtividade devido às condições climáticas desfavoráveis e à cotação relativamente baixa de alguns produtos, o ambiente é oportuno para que as cooperativas fortaleçam o capital de giro dos produtores.

O Santander terá na Agrishow cem gerentes especialistas com o objetivo de capturar negócios, segundo Ricardo França, head comercial de agronegócios do banco.

"Diferentemente do ano passado, que tivemos um ano espetacular, preço explodindo, safra bombando, nós estamos num ano um pouco diferente. Preço para baixo, com alguma quebra de safra acontecendo em alguns estados, e a gente enxerga a liquidez sendo um pouco espremida. Só que a gente vê a feira como uma excelente oportunidade de capturar negócios", disse.

Em 2023, o banco obteve cerca de R$ 2 bilhões em intenções de negócios. A meta para este ano, embora não revelada pelo executivo, é de buscar valor semelhante, apesar das dificuldades nas culturas de grãos.

O banco, que tem foco nos médios e grandes produtores, levou para a feira em Ribeirão linhas de crédito para custeio, como as CPRs (Cédulas de Produto Rural), e para investimento, como o Multiagro. No consórcio, que no ano passado respondeu por cerca de R$ 250 milhões em negócios, as taxas de administração são a partir de 12,90%.

"Achamos que não vai ser aquela correria maluca, inclusive pós-pandemia, a feira do ano passado foi surreal. Entretanto, quando a gente olha para uma feira de negócios, quem for eu acredito que vá com alguma necessidade de negócio. E a gente vai tentar capturar tudo que a gente puder."

França disse que o otimismo se explica pelo momento geral do agro, não só pelo cenário da soja. "A gente já vê uma safra de algodão maravilhosa. O café está com preços que nunca vimos na vida. Laranja, preços que nunca vimos na vida. O arroz, muito bom. Expectativa da safra de milho muito boa. É uma safra que a gente vê um ajuste de liquidez, mas o agro é cíclico, vai, volta."

O Bradesco, por sua vez, vai disponibilizar financiamentos desde a agricultura familiar até os grandes produtores, com taxas subsidiadas —Crédito Rural, BNDES Crédito Rural, CDC Agro equalizado, CPR-F (Cédula do Produto Rural-Financeira) e CRA (Certificado de Recebíveis do Agronegócio), entre outras opções.

O banco não informou o volume de financiamentos que espera obter, mas disse que o objetivo é superar a captação e efetivação dos negócios em relação à edição de 2023 e que o foco na Agrishow é atender produtor rural pessoa física ou jurídica, correntista e não correntista.

"O estande do banco estará apto a abrir conta de novos clientes, submeter a aprovação de crédito, contratar a operação de forma digital, além de ter à disposição dos presentes na feira times especializados nos financiamentos de máquinas e equipamentos, projetos de estocagem de grãos, irrigação e outros de médio e longo prazo e o crédito rural", informou o Bradesco.

Já a Caixa informou que o seu crédito rural financia despesas que vão do custeio aos investimentos em bens e serviços e que, por meio do Plano Safra 2023/24, disponibilizou R$ 1,3 bilhão para a agricultura familiar.

Assim como em concorrentes, o visitante da Agrishow que quiser financiar alguma máquina pela Caixa poderá fechar negócio com o banco mesmo que ainda não seja cliente —a depender das exigências da linha de crédito escolhida.

R$ 3 BILHÕES

Banco que participa da Agrishow desde sua primeira edição, em 1994, o Banco do Brasil espera obter R$ 3 bilhões em propostas durante a feira deste ano. É, segundo a instituição, a maior estimativa já registrada pelo banco para uma feira do setor.

Assim como o Santander, o Banco do Brasil terá cerca de cem funcionários no atendimento aos clientes durante a Agrishow.

A Agrishow será aberta ao público nesta segunda (29), com 800 marcas e previsão de receber cerca de 195 mil visitantes até sexta. A previsão é que os negócios totais ultrapassem os R$ 13,7 bilhões (valor atualizado pela inflação) da edição do ano passado.

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