Siga a folha

Educação maker deve ir além do laboratório nas escolas

Ideal é que a cultura do aprender fazendo seja disseminada para os alunos também em outros espaços das instituições

Continue lendo com acesso ilimitado.
Aproveite esta oferta especial:

Oferta Exclusiva

6 meses por R$ 1,90/mês

SOMENTE ESSA SEMANA

ASSINE A FOLHA

Cancele quando quiser

Notícias no momento em que acontecem, newsletters exclusivas e mais de 200 colunas e blogs.
Apoie o jornalismo profissional.

São Paulo

Laboratórios maker se popularizaram nos últimos anos nas escolas. O contato desde cedo com uma educação empreendedora pode dar aos alunos vantagem para seu futuro profissional. As instituições, porém, devem ficar atentas para que esse contato não seja superficial, e sim integrado a outras disciplinas.

Esse tipo de ensino precisa ter um objetivo, afirma Ricardo Cavallini, fundador da plataforma Makers.
“Não adianta ter um laboratório porque está na moda. Além disso, é importante dar acesso a todos. Não faz sentido só alguns alunos terem aulas ali”, diz ele, lembrando que a educação maker deve ser diversa e idealmente mesclar estudantes de idades diferentes.

A periodicidade com que os alunos usam o laboratório também deve ser levada em consideração. Pouco adianta ter um projeto no qual o espaço é pouco usado.

“Como qualquer coisa na educação, tem muito marketing. Você cria um laboratório, coloca umas máquinas lá e leva as crianças para o espaço uma vez a cada um mês e meio e diz que elas são makers. Isso é dar uma experiência superficial e não mudar nada na estrutura da escola. É exatamente o que não fazer”, diz Paulo Blikstein, professor e diretor do Transformative Learning Technologies Lab da Universidade Columbia, em Nova York.

“Para ir fundo, precisa haver constância em tempo e profundidade”, completa ele, criador do FabLearn, programa acadêmico que leva espaços maker para escolas, hoje presente em 22 países.

No colégio Stance Dual, em São Paulo, a coordenadora geral de tecnologia educacional Juliana Caetano busca exatamente essa profundidade.

A escola instalou um espaço maker em 2015, quando houve um boom desse tipo de iniciativa nas instituições de ensino. O laboratório era usado uma vez por semana, do primeiro ao nono ano, na disciplina de tecnologia.

“Com o passar dos anos, para ampliar a cultura, fomos usando o espaço para fazer experimentações nas disciplinas de matemática, ciências, artes etc., inclusive com aulas integradas entre elas. Há agora uso intenso”, diz a diretora.

Segundo ela, o desafio final é levar essa cultura para fora das paredes do laboratório.

“Por que lá pode errar, mas dentro da sala não? A gente não forma empreendedores criando espaços maker, mas sim implementando e incentivando uma cultura de cooperação e de resolução de problemas. O ideal mesmo seria que toda a escola fosse um laboratório de inovação e que o espaço específico para isso nem precisasse existir”, diz.

No Centro Educacional Pioneiro, na capital paulista, o espaço maker também foi instalado em 2015. Além das aulas no laboratório, há na escola, desde 2017, o projeto Aprender a Empreender, no qual os alunos, a partir do quarto ano, criam startups.

Entre os projetos já desenvolvidos, estão a produção de chorume como adubo orgânico e a criação de um lançador de foguetes de brinquedo.

“Incentivamos a criatividade e o desenvolvimento de produtos, mas não só para dar uma nota. É legal porque o projeto seguiu e eles conseguiram vender”, diz Márcia Sacay, coordenadora de ciências.
Segundo ela, os alunos também aprendem a lidar com a cultura do erro e da correção de caminho durante as criações, como quando aceitaram encomendas para produzir os lançadores e não deram conta de produzir tanto.

O objetivo ali também é trazer a mentalidade maker para fora do laboratório.

“As aulas normais começam a se transformar, porque o professor precisa mudar as atitudes, e não só ensinar com cópia da lousa”, afirma.

No Nossa Senhora das Graças, o Gracinha, no Itaim Bibi, há duas formas de uso do laboratório, aberto em 2017: nas aulas do dia a dia e também em projetos especiais.

A segunda opção é oferecida no contraturno. Nela se trabalham, por exemplo, iniciativas para reciclar plástico, com a ajuda de uma impressora 3D desenvolvida na escola.

“O legal é que se compartilha saber. Um ajuda o outro a resolver os problemas”, diz Wagner Cafagni Borja, diretor.

Na pandemia, Stance Dual e Pioneiro fizeram atividades de laboratório remotamente. Na primeira, alunos montaram protótipos usando materiais de casa, como recicláveis. A segunda usou um simulador para passar o conteúdo. Ambas já reabriram seus laboratórios.


No Gracinha, o espaço maker foi usado para a produção de 45 mil escudos faciais, com ajuda de pais e alunos. As aulas no espaço ainda não voltaram.

Receba notícias da Folha

Cadastre-se e escolha quais newsletters gostaria de receber

Ativar newsletters

Relacionadas