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Descrição de chapéu terrorismo

Legado da Guerra do Iraque ainda divide americanos 15 anos depois

País árabe ganhou com queda de ditador, mas caos que sobreveio alimentou facções terroristas

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Prédio destruído onde funcionava central de telecomunicações; à direita, estátua de Saddam Hussein - Juca Varella - 28.mar.2003/Folhapress

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Madri

Na madrugada de 20 de março de 2003, o então presidente George W. Bush se dirigiu à população americana e disse ter decidido "desarmar o Iraque, libertar seu povo e defender o mundo de um grave perigo". Prometeu "levar a liberdade" ao país, àquela época governado pelo ditador Saddam Hussein.

Quinze anos após o discurso, o Iraque e o restante do Oriente Médio se lembram da data com a convicção de que diversos perigos graves nasceram naquela noite.

A invasão levou a uma guerra de mais de oito anos, encerrada oficialmente em 18 de dezembro de 2011 (ainda há um pequeno contingente de soldados americanos no país, porém). Seus efeitos —como o surgimento da facção terrorista Estado Islâmico— ainda castigam a região.

"A desestabilização do Iraque levou a dezenas de milhares de mortos, fomentou o extremismo e expandiu a influência do Irã", disse à Folha Daveed Gartenstein-Ross, analista sênior da Fundação para a Defesa das Democracias, baseada em Washington, e CEO da firma de análise de risco Valens Global.

Detestada no Iraque e em seus vizinhos, a invasão é rejeitada também nos EUA.

Se, em 2003, 71% da população americana apoiava o uso de força militar contra o Iraque, hoje são apenas 43%, segundo relatório recente do Centro de Pesquisas Pew. Para 48%, a guerra foi um erro (e 9% disseram não saber). O estudo foi feito de 7 a 14 de março com 1.466 pessoas.

Um dos pontos mais controversos é o fato de a invasão ter sido justificada com a acusação de que Saddam tinha um arsenal de destruição em massa. As armas nunca foram encontradas, e a acusação, jamais provada.

Um ano após o início da ofensiva, o secretário de Estado Colin Powell admitiu que não havia prova de laço entre o governo iraquiano e a Al Qaeda, outra acusação feita no rastro dos atentados de 11 de setembro de 2001, que mataram 2.977 pessoas nos EUA e deram origem à Guerra do Afeganistão.

"A aprovação à invasão continuará a cair, e o público dificilmente dirá um dia que aquela guerra valeu a pena", diz Gartenstein-Ross.

Do ponto de vista iraquiano, entre as vantagens da ação está a deposição de Saddam —cujo regime chegou a utilizar armas químicas contra a própria população— após 24 anos no poder e a celebração de eleições. O próximo pleito legislativo no país será em outubro deste ano.

"São raras as políticas que só têm pontos negativos. No caso do Iraque, houve a instituição de um sistema democrático, ainda que ele precise de ajustes", diz o analista.

ESTADO ISLÂMICO

Após a invasão americana, Saddam se escondeu nos entornos de sua cidade natal, Tikrit. Capturado e julgado por crimes contra a humanidade, foi enforcado em dezembro de 2006.

A queda do ditador, porém, não desarmou o Iraque nem tornou o mundo mais seguro, como disse Bush em seu discurso de guerra.

Facções terroristas se alimentaram do caos político e instigaram a violência entre diferentes ramos do islã, como os sunitas e os xiitas.

A mais influente dessas milícias foi a Al Qaeda no Iraque, que anos depois se transformou no Estado Islâmico. O grupo Iraq Body Count afirma que houve 288 mil mortes violentas no país desde 2003, a maior parte de civis.

Em uma entrevista recente à revista Time, o primeiro-ministro iraquiano, Haider al-Abadi, disse que a decisão americana de ocupar o Iraque após a invasão foi "um enorme erro". Em vez de transferir o poder imediatamente aos iraquianos, os EUA se instalaram ali, o que facilitou o recrutamento de militantes e contaminou o país com uma violência até hoje presente, disse o premiê.

A purga dos membros do partido de Saddam, o Baath, também desmontou o Estado e o Exército e engordou as fileiras de facções terroristas.

Para Gartenstein-Ross, "os EUA ganharam pouco no Iraque, e a alto custo".


GUERRA NO IRAQUE EUA tiveram 166.300 militares no país em 2007, auge do conflito

20.mar.2003
O presidente americano George W. Bush inicia a guerra; objetivo declarado é encontrar armas de destruição em massa, nunca achadas 

9.abr.2003 
Tropas americanas tomam Bagdá; e, fim simbólico do regime, moradores derrubam estátuas de Saddam Hussein

13.dez.2003
Saddam Hussein é capturado em Tikrit, sua cidade natal

30.jan.2005
Iraque realiza suas primeiras eleições em 50 anos; nova Constituição é aprovada em outubro 

30.dez.2006
Julgado e condenado, Saddam Hussein é enforcado em Bagdá

jan.2007
Após o início de uma nova insurgência, EUA aumentam contingente no Iraque

17.nov.2008
Acordo entre EUA e Parlamento iraquiano prevê a saída das tropas americanas até 2011

15.dez.2011
Presidente dos EUA, Barack Obama, declara o fim da guerra, mas mantém um pequeno contingente no país

288 mil pessoas
morreram em decorrência do conflito, sendo 200 mil civis

 Fontes: Iraq Body Count, The New York Times, BBC

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