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Facebook cria sala de guerra contra manipulação em eleição no Brasil e nos EUA

Local será última linha de defesa para impedir disseminação de fake news, diz empresa

A sala de guerra que o Facebook está montando em sua sede na Califórnia - Jason Henry/The New York Times

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Sheera Frenkel Mike Isaac
Menlo Park (Califórnia) | The New York Times

​Uma sala de conferências de aproximadamente oito metros por dez metros de área está sendo construída no coração do campus do Facebook, entre os prédios 20 e 21.

Cordões espessos de cabos azuis pendem do teto, prontos para serem ligados a monitores do tamanho de janelas instalados sobre 16 mesas de trabalho. Meia dúzia de televisores em uma parede ficarão ligados na CNN, MSNBC, Fox News e outras grandes redes americanas. Um cartaz de papel com letras laranjas preso à porta de vidro com fita adesiva descreve o que está sendo construído: um “war room” (sala de guerra).

O espaço ainda não parece grande coisa, mas a partir da semana que vem será o QG do Facebook para a proteção de eleições. Mais de 300 pessoas de diversas áreas da empresa trabalham na iniciativa, mas o centro de comando vai abrigar uma equipe de 20 profissionais que se dedicarão a localizar e extirpar desinformação, monitorar notícias falsas e deletar contas falsas que possam estar tentando influenciar eleitores antes de pleitos nos Estados Unidos, Brasil e outros países.

“Encaramos esse projeto como provavelmente a maior reorientação vista na empresa desde que passamos de usar computadores de mesa para celulares”, disse Samidh Chakrabarti, que dirige a equipe do Facebook que trabalha com eleições e engajamento cívico. A empresa “se mobilizou para fazer isso acontecer”.

O Facebook tem sido amplamente utilizado por campanhas de influência de origem estrangeira. Em julho e agosto a empresa detalhou esforços antes não revelados feitos por iranianos e russos para ludibriar usuários da rede social com anúncios e posts.

Agora, faltando apenas sete semanas para as eleições parlamentares nos Estados Unidos, o Facebook está numa corrida desenfreada para convencer o mundo que está preparado para lidar com quaisquer novas tentativas de interferência desse tipo. A empresa está sob pressão enorme para prevenir uma repetição da manipulação estrangeira que ocorreu na rede social durante a campanha presidencial americana de 2016.

Mark Zuckerberg, o CEO do Facebook, prometeu resolver os problemas e disse este mês que a empresa agora está mais preparada para enfrentar potenciais interferências. Mas admitiu que o Facebook está travando uma “corrida armamentista” contra setores que procuram manipular a plataforma.

A empresa tomou medidas (que incluem a contratação de milhares de pessoas para ajudar a moderar conteúdos e desenvolver um arquivo para catalogar todos os anúncios políticos) para erguer defesas contra “spammers”, hackers e agentes estrangeiros, mas o estado semi-acabado do Centro de Comando revela que muitos desses esforços ainda estão em estágio inicial.

Segundo Priscilla Moriuchi, diretora de desenvolvimento de ameaças estratégicas na empresa de ciberssegurança Recorded Future, agentes estrangeiros já desenvolveram suas campanhas de influência online de modo a desviar-se das medidas adotadas pelo Facebook antes das eleições legislativas americanas.

“Olhando como as operações de influência estrangeira mudaram nestes últimos dois anos, vemos que o foco não está mais voltado à propagação de falsas notícias”, ela comentou. “Hoje o destaque é dado à amplificação de histórias que já estão circulando e que atraem públicos hiperpolarizados.”

Ela acrescentou: “A meu ver, será mais difícil agora para empresas como Facebook e Twitter identificarem essas operações”.

O Facebook convidou dois jornalistas do jornal The New York Times a conhecer a sala de guerra antes de ela ser inaugurado, na próxima semana, para falar do trabalho da equipe eleitoral e de algumas das ferramentas que a empresa desenvolveu para tentar prevenir interferência.

A empresa limitou o escopo do que o jornal pôde ver e publicar, temendo revelar demais a adversários que possam estar à procura de seus pontos de vulnerabilidade. A empresa disse que a sala de fuerra segue o molde de operações empregadas por campanhas políticas, normalmente instaladas nas semanas finais antes das eleições.

Ela Guerra é uma maneira “proativa” de construir sistemas para antecipar ataques, disse Greg Marra, gerente de produtos que trabalha no News Feed do Facebook, em teleconferência com repórteres na quarta-feira (19).

Uma das ferramentas que a empresa está introduzindo é um software customizado que a ajuda a rastrear informações que circulam na rede social em tempo real, disse Chakrabarti, que chegou ao Facebook há quatro anos, vindo do Google.

Esses painéis de controle se assemelham a um conjunto de gráficos de linhas e barras com estatísticas que oferecem uma visão de como está mudando a atividade na plataforma. Com eles, os profissionais podem localizar, por exemplo, uma notícia falsa específica que esteja circulando amplamente ou um aumento repentino nas contas automatizadas criadas em uma área geográfica específica.

Os painéis de controle foram testados inicialmente antes da eleição especial para o Senado no Alabama em dezembro passado. Sem especificar os painéis, Zuckerberg disse que uma nova ferramenta havia ajudado o Facebook a identificar interferência política mais rapidamente nessa eleição.

Desde então a empresa já testou e modificou o software em várias eleições pelo mundo. Este mês, antes da eleição presidencial brasileira, o Facebook vai introduzir as versões mais recentes dos painéis, disse Chakrabarti.

Este ano o Facebook decidiu criar a sala de guerra para que um núcleo central de engenheiros, executivos e cientistas de dados possam sentar-se juntos no mesmo espaço antes das eleições parlamentares nos EUA. Eles escolheram uma sala de conferências desocupada ao lado do hall que liga os prédios 20 e 21, um ponto central no campus do Facebook que é de fácil acesso para os funcionários.

A construção começou alguns meses atrás, e a sala, com paredes brancas e grupos de mesas compridas, vai entrar em operação na segunda-feira (24) . Ela foi equipada com novos cabos e reforços de internet, e uma nova fiação foi instalada para os monitores e outros equipamentos.

O que acontece na sala de guerra, disse Chakrabarti, será uma “última linha de defesa” para os engenheiros do Facebook localizarem rapidamente problemas imprevistos em dias de eleição ou perto deles em diferentes países. Muitas das outras medidas adotadas pela empresa visaram sustar a difusão de desinformação e outros problemas muito antes de eles serem flagrados no local.  

Uma vez que um problema chegue à sala de guerra, os painéis serão ativados para localizar e rastrear atividade incomum, enquanto cientistas de dados e peritos em segurança examinam a situação mais de perto.

Chakrabarti disse que a equipe está atenta especialmente para posts que manifestam “danos no mundo real” e pretende tirar do ar aqueles que visam impedir eleitores de votar, por exemplo divulgando dados incorretos sobre pesquisas de opinião ou transmitindo informações falsas como incentivar pessoas a votar por mensagem de texto.

“O melhor resultado para nós será que não aconteça nada na sala de guerra”, disse Chakrabarti. “Todo o resto que estamos fazendo é instalar defesas para barrar isso em primeiro lugar.”

Tradução de Clara Allain

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