Empresa de Israel vence licitação de R$ 1 bi para blindados do Exército; Força teme veto de Lula

Há receio de que críticas do governo a Tel Aviv por guerra em Gaza possam frustrar contratação planejada há dois anos

  • Salvar artigos

    Recurso exclusivo para assinantes

    assine ou faça login

Brasília

O Exército brasileiro anunciou internamente, nesta segunda-feira (29), que o grupo israelense Elbit Systems venceu a licitação para a compra de 36 viaturas blindadas de obuseiro 155 mm —espécie de canhão de grande alcance e precisão que será utilizado pela artilharia.

A aquisição beira R$ 1 bilhão, segundo generais ouvidos pela Folha. Há receio de que a licitação, que dura quase dois anos, possa sofrer reveses por questões geopolíticas, já que o governo Luiz Inácio Lula da Silva (PT) tem feito críticas à conduta de Tel Aviv no conflito contra o grupo terrorista Hamas.

Obuseiro atira munição em terreno vazio
Obuseiro da empresa israelense Elbit Systems foi o vencedor de licitação do Exército Brasileiro - Divulgação/Elbit Systems

O armamento israelense faz parte de um projeto chamado Atmos. A previsão é que os obuseiros sejam entregues ao longo de oito anos, já que o orçamento para investimentos do Exército tem caído aos piores índices da década.

O deputado Carlos Zarattini (PT-SP), que acompanha os temas de defesa no partido, afirmou que "não faz sentido" o Exército negociar a compra de equipamentos militares com empresa israelense num momento em que o Brasil critica as Forças Armadas de Israel por operações que atingem a população palestina.

"Com todo esse problema diplomático que temos com o governo de Israel nesse momento, me parece que não é o melhor caminho fazer uma compra desse volume de empresa israelense. Não temos a necessidade de ter esse material com essa pressa, o assunto deveria ser mais bem pensado", disse.

A Elbit Systems superou empresas de França, China e Eslováquia na reta final da disputa. Militares afirmaram à Folha, sob anonimato, que o principal diferencial da empresa israelense é possuir subsidiárias no Brasil com capacidade de fabricar a munição de 155 mm e garantir suporte logístico.

As fábricas brasileiras são as empresas Ares Aeroespacial e Defesa e AEL Sistema, com sedes no Rio de Janeiro e Rio Grande do Sul, respectivamente. A contratação da empresa de Israel, portanto, seria uma forma de aquecer a base industrial de defesa brasileira.

O anúncio do resultado da licitação diz que a empresa Elbit Systems será convocada para assinatura do contrato inicial no dia 7 de maio.

O temor de membros da cúpula militar é que Lula possa vetar a compra, como tem feito sistematicamente com a exportação de munições e armamentos brasileiros para a Ucrânia, país invadido pela Rússia desde fevereiro de 2022.

Apesar de a posição da diplomacia brasileira ser diferente nos conflitos do Leste Europeu e da Faixa de Gaza, alas do governo e integrantes do PT já acompanhavam a licitação bilionária do Exército com receio.

O presidente Lula tem adotado posição crítica à ofensiva israelense na Faixa de Gaza, que envolve operações em hospitais e bombardeios em regiões populosas. O número de mortos já ultrapassou 34 mil, segundo o Ministério da Saúde local, controlado pelo Hamas.

Em viagem a Adis Abeba, na Etiópia, Lula chegou a comparar as ações militares de Israel com o extermínio de judeus promovido por Adolf Hitler. "Sabe, o que está acontecendo na Faixa de Gaza com o povo palestino, não existe em nenhum outro momento histórico. Aliás, existiu quando Hitler resolveu matar os judeus", afirmou em fevereiro.

A declaração do presidente gerou reação do governo de Binyamin Netanyahu, que declarou o líder brasileiro "persona non grata".

"Não esqueceremos nem perdoaremos", disse à época o chanceler do país, Israel Katz. "Em meu nome e em nome dos cidadãos de Israel, diga ao presidente Lula que ele é persona non grata em Israel até que retire o que disse."

Mesmo diante de repercussões negativas e impacto diplomático, Lula não se retratou e, cinco dias após a declaração, voltou a falar que Israel estava cometendo um genocídio contra o povo palestino.

"O que o governo de Israel está fazendo com a Palestina não é guerra, é genocídio", disse Lula, que enfatizou: "Se isso não é genocídio, eu não sei o que é."

  • Salvar artigos

    Recurso exclusivo para assinantes

    assine ou faça login

Tópicos relacionados

Leia tudo sobre o tema e siga:

Comentários

Os comentários não representam a opinião do jornal; a responsabilidade é do autor da mensagem.