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Crise dos refugiados mudou foco do debate sobre unidade alemã

Opiniões diferentes sobre imigração e ascensão da extrema direita dividem Leste e Oeste

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Berlim | DW

Em meados dos anos 2000 começou uma evolução positiva na região da antiga Alemanha Oriental. Seguiu-se uma fase contínua de crescimento econômico, e parecia que ambas as partes do país convergiam cada vez mais rapidamente.

Mas a verdade é que, apesar da queda do Muro de Belim, o "muro que existe na cabeça das pessoas" não desaparece de uma hora para a outra. Ainda há alemães que jamais visitaram a outra parte do país.

Mesmo termos pouco lisonjeiros que surgiram após a queda do Muro de Berlim —"ossi" para alemães orientais e "wessi" para alemães ocidentais— são, ainda hoje, de uso corrente. Até no Twitter eles são hashtags populares.

Manifestantes de extrema direita protestam no dia do aniversário da reunificação alemã em Berlim - Fabrizio Bensch/Reuters

Em retrospectiva, a crise dos refugiados de 2015/16 foi um ponto de virada para a ainda frágil unidade alemã. No debate político e social, as diferenças entre Leste e Oeste voltaram a ficar claras. No Leste, a chegada de centenas de milhares de refugiados alimentou os temores de uma nova perda de estabilidade e reabriu antigas feridas.

E exatamente esses temores são instrumentalizados por populistas de direita. Partidos como a Alternativa para a Alemanha (AfD) e movimentos como o Pegida recolocam as diferenças entre os dois lados em primeiro plano.

Segundo pesquisas de opinião, a AfD se tornou a principal força política do Leste. Ainda mais forte do que a conservadora CDU, partido do chanceler da Reunificação, Helmut Kohl, e da chanceler federal vinda da Alemanha Oriental, Angela Merkel.

Diante desse quadro, não é de se espantar que, neste feriado da Unidade Alemã, o debate sobre as diferenças entre o Leste e o Oeste seja ligeiramente diferente este ano.

Em anos anteriores, o foco estava nos números comparativos de salários e força econômica, e não nas diferenças de opinião entre os cidadãos. A força econômica do Leste, aliás, corresponde a apenas 73% da ocidental. Os poucos centros de economia forte foram incapazes de compensar a parca produção em toda a região e a perda generalizada de empregos industriais verificada nos anos 1990.

O debate, este ano, tem um tom bem mais emocional e envolve políticos de vários partidos e também a chanceler Angela Merkel. Segundo ela, a reunificação gerou fortes reviravoltas, e muito do que aconteceu no início dos anos 90 retornou à mente das pessoas. E não sem motivos, pois "foram experiências inacreditáveis", disse a chanceler.

"Muitas pessoas perderam seus empregos e tiveram que recomeçar do zero. O sistema de saúde, o sistema de aposentadorias –tudo mudou." Ela acrescentou que tais reviravoltas "jamais servem de justificativa para o ódio e a violência", mas elas explicam por que as biografias das pessoas no Leste são diferentes.

O encarregado do governo para o Leste, Christian Hirte, expressou opinião semelhante durante a apresentação do relatório sobre o Estado da Unidade Alemã, que é publicado todos os anos. Muitos alemães orientais se sentem como "cidadãos de segunda classe" e alegam que o Leste não é suficientemente ouvido, afirmou.

Com referência à alta aprovação da AfD, Hirte afirmou que é um erro ficar indiferente "quando tantas pessoas parecem ter perdido a confiança no Estado e nos políticos".

A chanceler alemã Angela Merkel, vinda da Alemanha Oriental - Michael Sohn/AP

Outros especialistas vão mais fundo na busca das causas da divisão. A discussão sobre o papel da Treuhand após a reunificação voltou a ferver. O órgão fiduciário alemão deveria privatizar as 8 mil empresas da Alemanha Oriental, com seus 4 milhões de empregados, ou, caso isso não fosse possível, desativá-las.

O resultado foram elevados índices de desemprego. "No Leste, não poucos acham que a Treuhand só existia para arrasar com o leste", afirma o historiador Marcus Böick. De uma hora para a outra, muitas carreiras foram destruídas. E o assunto nunca foi devidamente debatido, avalia Böick, pois faltou solidariedade do lado ocidental.

Outro tema é a chamada "transferência de elite". Milhares de funcionários públicos da Alemanha Ocidental foram enviados para o Leste. Vinte e oito anos depois, isso ainda é perceptível. O domínio dos ocidentais em cargos executivos é percebido pelos orientais como "colonialismo cultural" e é "prejudicial", alertou o especialista Thomas Krüger, da BPB, agência voltada ao fomento da educação política na Alemanha. Ocidentais contratam ocidentais, acrescenta Hirte.

Apesar de tudo isso, não se vislumbra uma nova política para o Leste Alemão. Alguns membros do Bundestag solicitaram uma avaliação histórica do trabalho da Treuhand. Outros pediram a criação de uma comissão de reconciliação. Mas o que de fato será implementado depois do 3 de outubro, ninguém sabe.

Bem mais provável é que a palavra heimat (pátria), cada vez mais ouvida, sirva de orientação. Uma mudança na política regional deverá partir do Ministério do Interior, que engloba a pasta Heimat: a ênfase sairá das grandes aglomerações urbanas e irá para as áreas rurais, onde vive a maioria dos alemães.

Para isso foi criada, há alguns dias, uma Comissão para Condições de Vida Equivalentes. Vários grupos de trabalho pretendem lidar com questões como infraestrutura e endividamento. A chamada política de ordenamento espacial deve ser restaurada. Isso significa que o desenvolvimento de uma região não ficará apenas a cargo dela mesma, mas será conduzido por meio de incentivos públicos. Segundo a ministra da Agricultura, Julia Klöckner, o foco está na "coesão social" e em que ninguém se sinta marginalizado.

Ou seja: em vez de Leste versus Oeste, Heimat para todos? Uma coisa já está clara: o foco não estará na equiparação econômica. Pelo menos é o que se depreende das declarações de Hirte. Ele deu poucas esperanças de que as diferenças nos salários ou nas localizações de grandes empresas sejam eliminadas.

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