Descrição de chapéu USP guerra israel-hamas

Estudantes da USP emulam protestos dos EUA em atos contra guerra em Gaza

Acampamento reúne dezenas de manifestantes que pedem fim de convênios com universidades israelenses

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São Paulo

Dezenas de alunos da Universidade de São Paulo (USP) começaram nesta terça-feira (7) um acampamento em apoio à causa palestina e contra os ataques de Israel na Faixa de Gaza. O protesto, o primeiro do tipo uma grande instituição de ensino no Brasil, ocorre após iniciativas semelhantes que começaram nos Estados Unidos e se espalharam por vários países.

Os estudantes montaram barracas às 18h desta terça no vão do prédio de Geografia e História, na FFLCH (Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas). Às 20h, 17 barracas estavam erguidas, e cerca de 50 pessoas acompanhavam os discursos pró-Palestina que ocorriam no local. Na tarde desta quarta-feira (8), eram 34 tendas.

Estudantes em ato pró-Palestina na Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas da USP.
Estudantes em ato pró-Palestina na Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas da USP - Renan Marra - 7.mai.24/Folhapress

Em ato que marcou o início do acampamento, os manifestantes penduraram bandeiras da Palestina na faculdade e gritaram palavras de ordem contra Israel e contra o primeiro-ministro Binyamin Netanyahu. "Estado de Israel, Estado assassino. Viva a luta do povo palestino!" e "Netanyahu criminoso de guerra, a sua hora vai chegar", foram algumas das frases entoadas pelos presentes.

Os manifestantes também repetiam o slogan "do rio ao mar", frase que é uma defesa de que o território palestinos se estenda oficialmente do rio Jordão, fronteira entre a Cisjordânia e a Jordânia, até o mar Mediterrâneo —hoje, essa área é, em grande parte, Israel.

O movimento é organizado pelo Comitê de Estudantes em Solidariedade ao Povo Palestino (ESPP) com participação de outras organizações estudantis da USP.

Luiza Arantes, diretora do centro acadêmico do curso de letras e integrante do ESPP, afirma esperar que o acampamento fortaleça e dê projeção ao movimento. Ela diz que os estudantes vão ficar acampados pelo menos até quinta-feira (9). Estava prevista para essa data uma reunião na qual estudantes pressionariam a USP a desfazer convênios com universidades israelenses. Segundo Arantes, o encontro foi desmarcado sem explicações.

"A situação na Palestina se arrasta há décadas. Os palestinos tiveram suas terras e vidas tomadas. […] Eles são um povo oprimido, como acontece também com pessoas na periferia do Brasil. Então achamos importante colocar o movimento estudantil a favor dessa causa", afirma Arantes. Segundo ela, de 50 a 100 estudantes passariam a madrugada desta quarta acampados nas barracas.

A programação do acampamento inclui debates e atividades culturais. Ainda na noite de terça estava prevista a exibição de um filme sobre a Palestina. Na quarta, os alunos devem organizar uma mesa de conversa com acadêmicos e especialistas em Oriente Médio, além da apresentação de músicas palestinas.

Estudantes em ato pró-Palestina na Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas da USP.
Estudantes pedem em abaixo-assinado que USP encerre convênio com universidades israelenses - Renan Marra - 7.mai.24/Folhapress

Os manifestantes organizam ainda um abaixo-assinado online em "defesa do povo palestino", que até a tarde desta quarta contava com 880 assinaturas. No texto, os estudantes acusam a Universidade de Haifa, a Universidade Hebraica de Jerusalém e a Universidade Ariel, todas com convênios com a USP, de desenvolver tecnologia empregada no que consideram o genocídio palestino.

A Universidade de Haifa coordena um programa de formação de oficiais das Forças Armadas israelenses, enquanto a Universidade Hebraica de Jerusalém mantém parcerias com o Exército em programas médicos e de capacitação de soldados. Já a Universidade Ariel está localizada em um assentamento judaico em território palestino —esses assentamentos são considerados ilegais pela comunidade internacional.

Antes mesmo do início do ato, organizações judaicas no Brasil já haviam manifestado preocupação. Em nota, a Federação Israelita do Estado de São Paulo, diz que, nos EUA, as manifestações no campus acabaram se "desconectando do viés pacífico de um discurso a favor de um cessar-fogo no Oriente Médio para se tornar palco de atos de violência e propagação de discursos de ódio contra judeus", além de pregar a exaltação ao grupo terrorista Hamas.

Estudantes em ato pró-Palestina na Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas da USP.
De acordo com os manifestantes, o acampamento deve durar, pelo menos, até quinta-feira (9) - Maria Clara Castro - 7.mai.24/Folhapress

"Situações como essa reforçam um fato: a guerra entre Israel e o Hamas avançou territórios, não com a presença de soldados, mas sim com a invasão de narrativas agressivas, cheias de ódio e sem fundamento histórico que estão ganhando corpo em locais muito além das fronteiras entre Israel e Gaza", disse Marcos Knobel, presidente da organização. "Espaços que são ambientes de debates e criação de massa crítica de pensamento acabaram se tornando polos para a disseminação de mensagens antissemitas."

A Folha esteve na manifestação e, enquanto acompanhou o ato, não presenciou nenhuma fala em apoio ao Hamas ou de conteúdo antissemita.

O ato na USP teve também a participação de judeus. Daniela Fajer, 31, membro do coletivo Vozes Judaicas por Libertação, disse ter sido bem acolhida pelos manifestantes. "Nossa relação sempre foi muito positiva, de construir juntos, porque o que nos une é o fim da ocupação, o fim do apartheid, o fim do genocídio [em Gaza]".

Já Magno de Carvalho, 77, membro do Sintusp (Sindicato dos Trabalhadores da Universidade de São Paulo), disse que, em sua "trajetória de luta", já foi acusado de antissemitismo na USP. "Eu não tenho nada de antissemita. Aliás a minha maior referência humana é um judeu: Karl Marx." O filósofo e economista alemão tem ascendência judaica.

Em nota, a direção da FFLCH diz que o respeito à livre manifestação é uma característica da USP e que o acampamento ocorre de forma pacífica. "Assim, sua diretoria vem a público dizer que vê com normalidade o exercício do direito de livre manifestação de seus professores, estudantes e funcionários", afirma.

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